O tema da palestra do secretário extraordinário de Parcerias do Rio Grande do Sul, Bruno Vanuzzi, na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias nesta segunda-feira (7) foi a defesa pelo fortalecimento de parcerias público-privadas como estratégia econômica para o governo do Estado. No entanto, foram as falas que se referiram a demandas da região que chamaram mais a atenção de empresários presentes no evento.
Quando voltou a reforçar a possibilidade de concessão do Aeroporto Regional Hugo Cantergiani à iniciativa privada, a apresentação de Vanuzzi foi interrompida por aplausos do público. Por outro lado, a mesma prioridade não foi dada ao citar o andamento do projeto do aeroporto de Vila Oliva, na Serra. Embora tenha classificado como prioridade, o secretário reconheceu a dificuldade da obra, a qual definiu como "um sonho".
— Aeroporto de Vila Oliva é um sonho. Infelizmente, quando trabalhamos muito com projetos grandes, parece que existe uma maldição no Brasil, que é "ou isso acontece agora, ou não acontece mais". É um tema complexo, mas que está em pauta com 100% de prioridade — avaliou.
Contudo, Vanuzzi enfatizou a importância de dedicar investimento no Hugo Cantergiani.
— Precisamos colocar toda energia possível paraque Vila Oliva se transforme em realidade, mas não podemos, neste meio tempo, deixar de fazer algo pelo Aeroporto Hugo Cantergiani, sob o risco de não termos aeroporto nenhum daqui um tempo. Faz todo sentido nós termos uma concessão do Hugo Cantergiani — defendeu.
Os posicionamentos foram semelhantes aos manifestados pelo governador Eduardo Leite (PSDB) na última semana, quando visitou a Mercopar, em Caxias. Na última semana, ogovernador não deu perspectivas para os encaminhamentos referente ao aeroporto de Vila Oliva, alegando falta de garantias do governo federal para dispor de recursos. Na ocasião, também reafirmou investimentos no Hugo Cantergiani como alternativa.
— A concessão do aeroporto já existente é uma alternativa que dá fôlego, é um pulmão para funcionamento do sistema aeroviário da Serra Gaúcha —disse o governador.
Atualmente, a proposta de inclusão do Hugo Cantergiani em um pacote de concessões aeroportuárias do Estado está em análise pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A expectativa, segundo Vanuzzi, é de que as licitações sejam lançadas no segundo semestre de 2020.
Município incerto sobre interesse privado
Para a prefeitura de Caxias do Sul, a alternativa de investir no Aeroporto Hugo Cantergiani por meio de parceria público-privada é bem-vinda. Entretanto, o poder público tem dúvidas se o Estado conseguirá viabilizar a concessão devido às limitações operacionais do terminal, que poderiam não ser interessantes para a iniciativa privada.
Conforme o secretário de Planejamento, Fernando Mondadori, embora já tenham ocorrido conversas com o governo do Estado sobre o assunto, um estudo da Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) de 2014 aponta as dificuldades para realizar investimentos no aeroporto. O levantamento, segundo ele, indica que seriam necessários R$ 320 milhões, em valores da época, para implantar no Hugo Cantergiani a estrutura projetada para o novo aeroporto de Vila Oliva. Do total, R$ 180 milhões seriam para obras e outros R$ 140 milhões para desapropriações. Para se ter uma ideia, atualmente a pista não pode ser utilizada em toda a extensão devido a obstáculos próximo a uma das cabeceiras.
— Não vejo interesse privado nessas condições que estão colocando. A SAC já fez levantamento e identificou que as melhorias necessárias são inviáveis. Além disso não resolve o problema mais grave, que é a questão climática, que depende do local. Se fizerem algo que melhore o aeroporto atual, o município não perde nada.
Modandori também contesta a prioridade dada pelo governo do Estado ao Hugo Cantergiani, ao invés do aeroporto de Vila Oliva.
— Não entendo porque o Estado não direciona esforços para o novo aeroporto, em buscar recursos para a desapropriação e em trabalhar junto ao governo federal. Primeiro tem que ver a viabilidade técnica, que no meu ponto de vista, é duvidosa - questiona o secretário.
Movimento de Caxias apoia governo estadual
A ideia de conceder o Hugo Cantergiani para a iniciativa privada surgiu em julho deste ano a partir do movimento Mobilização por Caxias (MobiCaxias), formado por líderes empresariais da Serra.
Também foi o grupo responsável por promover campanha de apoio à viabilização do Porto do Litoral Norte.
Em nota, o MobiCaxias declara apoio ao Executivo, embora o governo de Eduardo Leite.
"O Aeroporto da Serra Gaúcha e o Porto do litoral Norte do Estado são projetos essenciais para redução dos custos de logística, mas sabemos que vai demandar alguns anos para se concretizar. Enquanto isso, estamos apoiando iniciativas com o governo do Estado para melhorar as estruturas existentes no Porto de Rio Grande, duplicação da BR- 116 até Rio Grande e também na ampliação do sistema hidroviário do Estado, como forma de reduzir de imediato os custos logísticos. Da mesma forma, enquanto não temos o Vila Oliva, apoiamos iniciativas para modernizar o Hugo Cantergiani, dando uma sobrevida a ele - nossas conversas estão bem alinhadas com o Estado", informa a nota.