Integrantes da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e ex-funcionários, atualmente pertencentes à massa falida da Metalcorte, do Grupo Voges, mantém acampamento em frente à unidade de fundição (antigo prédio da Metalúrgica Abramo Eberle S.A.) desde a tarde de terça-feira (13). A intenção da mobilização é impedir a retirada do patrimônio das dependências da empresa, que teve a falência decretada no dia 8 de agosto.
O movimento surgiu após relatos de que materiais estavam sendo removidos do local. Nesta quarta o grupo permaneceu junto ao portão de acesso principal monitorando a movimentação de entrada e saída.
— Fomos informados de que havia moldes de outras empresas que estariam sendo retirados. Nosso entendimento é de como foi decretada falência, todo material que sair tem de ter ordem judicial para identificar que material é. Pessoal que estava transferindo não tinha — afirma o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Assis Melo.
Leia mais
Administrador judicial de Grupo Voges vai pedir prorrogação de prazo para desocupar Maesa
"Até o fim do ano? De maneira alguma" , afirma procuradora sobre possível prorrogação de desocupação da Maesa
Em torno de 10 pessoas, entre sindicalistas e ex-trabalhadores, se revezaram na fiscalização do local, onde inclusive permaneceram ao longo das noites frias das madrugadas de hoje e ontem.
— Pessoal teve que ficar queimando um carvãozinho para resistir ao frio. Mas é a única coisa que nos resta. Os trabalhadores que foram afetados por essa falência precisam entender que as rescisões vão tudo para o processo judicial. Infelizmente essa é uma questão clara. O que o sindicato vai tentar é garantir a preservação desses bens para que posteriormente o valor arrecadado seja repartido com a massa falida — informa Assis.
Por volta das 16h, o grupo permitiu a saída de uma empilhadeira e de moldes após ordem judicial e autorização apresentada pela empresa transportadora.
— A gente só quer garantir que o patrimônio que vai a leilão não seja removido. Mas quando tiver ordem judicial detalhando que materiais podem sair, a gente não vai impedir nada — informou o diretor de comunicação do Sindicato dos Metalúrgicos, Beto Osório.
Segundo ele, ainda assim, o grupo vai permanecer por tempo indeterminado acampado em frente à unidade para evitar que "outras coisas" sejam retiradas do local.
Número incerto
Não há número preciso de quantos funcionários estão entre a massa falida. Segundo o administrador judicial da Voges, Nelson Sperotto, havia entre 100 e 150 pessoas trabalhando na Metalcorte até o decreto da falência. Na unidade de Motores, no Jardim das Hortênsias, ele também são estima haver entre 100 e 150 trabalhadores.
Exceções para retirada
De acordo com o administrador judicial do Grupo Voges, Nelson Sperotto, embora haja impedimento judicial para remoção do patrimônio, bens de terceiros precisam ser devolvidos. Nessa categoria é que se incluiriam os moldes que foram retirados do local.
— Tem bens de terceiros que precisam ser devolvidos, não é possível que a massa falida queira ficar com eles. Não tem nem o que discutir, é que nem o terreno, só porque trabalharam em cima, não quer dizer que o sindicato os empregados vão ser donos, emprestado é emprestado.
Ele explica que cada pedido passa por intermédio dele próprio, que concede a autorização, ou não, para a retirada.
— São empresas que trabalhavam para a Voges e que precisam usar esse material para trabalhar com outra empresa. Por isso essa urgência inadiável para retomar esses moldes e produzir em outro local.Imagina uma empresa que tem moldes lá dentro e depende dessas peças para tocar a empresa dela. De uma hora para a outra, essa empresa não pode mais obter essas peças, eles também acabam prejudicados — complementa.
Antes de solicitar formalmente a intervenção judicial para transporte, Sperotto havia informado que se a obstrução permanecesse em frente ao portão, seria necessário acionar a Brigada Miltiar para intervir na situação.
— Foi arbitrariedade do sindicato. Impediram até a entrada de pessoal do RH para dar baixa nas carteiras, o que é de inteiro interesse dos empregados. Até isso impediram, é de uma incompensação inadmissível. Mas não me compete ficar brigando com ninguém — comenta Sperotto.
Impasse permanece
Sperotto afirmou que não fez contato formal com a Procuradoria-Geral do Município (PGM) com relação à devolução do antigo prédio da Maesa. Porém, reiterou que espera bom senso do poder público em ceder um prazo maior de permanência.
— Em últimos casos, vou ser obrigado a entregar a chave para eles com tudo lá dentro. Não tem como mexer. É uma questão de poucos meses. Posso aceitar uma posse compartilhada, se for tão importante para o município. Nada impede que tenha seus vigilantes, não vou criar esse problema. Mas a massa tem de ter tempo para poder vender.