A oscilação da cotação do dólar ao longo deste ano tem impactado o preço de uma série de produtos em Caxias do Sul. Da gasolina ao agnolini, do pão aos aparelhos eletrônicos importados, é extensa a lista de itens influenciados pelo valor da moeda norte-americana, que chegou a R$ 4,10 em maio e na última sexta-feira fechou em R$ 3,89 na cotação comercial. A variação afeta o custo dos insumos utilizados pelas empresas e, por tabela, costuma ser repassada ao consumidor na hora da venda dos artigos.
Conforme dados do Banco Central (BC), em janeiro a média das cotações do dólar foi de R$ 3,74. Em maio, com as incertezas sobre a tramitação da reforma da Previdência, ficou em R$ 4,00. Já em junho, a média está em R$ 3,87 no momento, o que representa R$ 0,13 ou 3,5% a mais frente ao início do ano.
Paralelamente, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) em Caxias, calculado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (IPES) da Universidade de Caxias do Sul (UCS), acumula alta de 2,89% nos cinco primeiros meses de 2019. Ramos com forte ligação ao câmbio, como alimentação e transporte, ajudam a puxar para cima o indicador em 2019.
– Em maio, o IPC subiu 0,46% e uns 0,15% foram derivados do câmbio. Portanto, sim, se sentiu o impacto (do dólar nos preços em Caxias) – afirma Mosár Ness, economista do IPES e assessor de economia e estatística da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) do município.
Dentro deste contexto, a gasolina é um dos produtos mais contagiados pelo câmbio. Quando o dólar subiu no ano, o litro da gasolina comum em Caxias ficou mais caro. Já nos meses em que a moeda se desvalorizou, o combustível também sofreu redução nas bombas. Isso ocorre porque a Petrobras baliza o preço em função dos valores do barril de petróleo e do dólar. Por isso, entre janeiro e junho o valor do litro subiu quase 9% em média, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
No ano, a cesta básica caxiense também está ficando mais cara. Entre janeiro e maio, o preço médio do conjunto de itens alimentícios, de higiene, gás e cigarros passou de R$ 843,24 para R$ 864,32, conforme o IPES-UCS. Massas e pães figuram entre os produtos com valorização mais expressiva. Ingrediente primordial na fabricação desses itens, o trigo é quase todo importado, o que se reflete no preço praticado nas gôndolas.
– Não dá para dizer que a cesta básica está em um crescente por conta do dólar, mas, sem dúvida, é um dos elementos que tem influência – diz o economista Roberto Birch, diretor do IPES-UCS.
Conforme o Relatório Focus do BC, o dólar deve terminar 2019 em R$ 3,80. Enquanto a cotação pressiona o bolso do consumidor em itens de alimentação e nos combustíveis, para os exportadores esse patamar é visto como favorável para ampliar negócios no Exterior.
– Para as empresas que já tem uma cultura exportadora, é ótimo (o câmbio valorizado). O momento é propício para vender para o Exterior – destaca Morgana Scopel, chefe de exportação da Efficienza Negócios Internacionais.
Morgana constata que no atual momento o interesse das empresas da Serra em exportar se intensificou. No entanto, a especialista pondera que a abertura de mercados fora do país não ocorre de maneira imediata. Ou seja, a realização de negócios externos depende mais de um planejamento de longo prazo do que do momento da cotação do dólar.