Um dos principais setores da Serra beneficiados com o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, anunciado nesta sexta-feira (28), é o moveleiro. O Rio Grande do Sul é o segundo principal polo do país e Bento concentra a maior produção do Estado.
Dados de janeiro a maio deste ano, do Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis), apontam que o Reino Unido é o sétimo principal destino das exportações de móveis de Bento e, se permanecer na União Europeia, poderia ser o principal impulsionador da abertura de mercado proposta pelo acordo do Mercosul com isenções de tarifas. Os outros dois principais destinos da Europa são França e Espanha.
Leonardo Dartora, diretor internacional do Sindmóveis, estima um incremento de 50% nas exportações para o continente europeu quando o acordo entrar em vigor e há expectativa de que o setor de móveis seja um dos primeiros beneficiados. Dartora ainda explica que, no Estado, o Reino Unido é ainda mais importante, sendo o segundo principal comprador desses produtos brasileiros, pela preferência por móveis de madeira. O polo de Bento produz mais mdf e mdp e, por isso, têm outros países que ainda estão na frente do destino europeu.
Por isso, o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), Rogério Francio, acredita que o incremento no Estado deve até superar os 50% previsto para Bento Gonçalves porque há mais empresas gaúchas de outras regiões fazendo exportações na Europa.
— Além do Reino Unido, destaco outros países emergentes nas importações de móveis gaúchos, como França, Espanha, Alemanha e Portugal. Mas o aumento das exportações deve ocorrer gradativamente, porque algumas empresas ainda não estão preparadas para esse mercado. Mesmo assim, acredito que a adaptação será rápida — pondera Francio.
Enquanto um setor comemora, por outro lado, o setor vinícola teme a entrada do dobro de vinhos europeus no mercado brasileiro com a concorrência aberta pelo acordo. Desde 2003, representantes do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) costumam viajar com frequência a Brasília para tratar termos das negociações. Conforme o diretor de relações institucionais do Ibravin, Carlos Paviani, o setor reivindicava manter algumas barreiras para a entrada do produto europeu, como cotas e preço mínimo de entrada, porém, as informações obtidas pelo Ibravin, até o momento, dão conta que apenas o pedido de maior prazo para que ocorra a redução de tarifas dos vinhos europeus pode ter sido atendido. O máximo seria 15 anos, mas os detalhes de em quanto tempo ficou estabelecida a transição ainda não foram divulgados.
Dos quase 350 milhões de litros de vinhos consumidos no mercado brasileiro nos últimos quatro anos, cerca de 30 milhões já vêm do mercado europeu e a estimativa do instituto é de que, até a isenção total das tarifas de importação, este número possa chegar a 60 milhões. Paviani destaca que as grandes empresas vão sofrer mais porque vão disputar o varejo nos supermercados. As pequenas ainda podem investir no enoturismo para agregar valor.
Para tentar conter os prejuízos de vendas do vinho nacional, o diretor do Ibravin destaca que o setor vai ter que lutar por medidas internas para compensar esse desequilíbrio de concorrência. O especialista aponta a necessidade de buscar mais recursos para financiamentos, ampliação do subsídio para seguro agrícola, ferramentas de controle de estoque e, principalmente, redução da tributação que é o fator mais decisivo no preço.
— A União Europeia coloca mais de 1 bilhão de euros de apoio à vitivinicultura por ano. Se o estoque está muito alto, pagam o produtor pelo prejuízo que vão ter. O seguro agrícola paga até 80% da apólice — compara Paviani.
Conforme o diretor do Ibravin, a Europa é produtora de 60% do vinho mundial e detém 60% das exportações mundiais de vinho, ou seja, é o player mais importante deste mercado. O vinho brasileiro já sentiu o impacto do fim das tarifas de importação dos vinhos chilenos nos últimos anos e agora terá de enfrentar uma concorrência que pode ser ainda maior.
O Ibravin agora aguarda o acordo fechado nesta sexta passar pelo Congresso, que poderá aceitar ou não os termos.