Ela tem 35 anos de luta. Congrega 2,4 mil empresas associadas. Conhece as dificuldades de manter um negócio no mercado, mas também da força que, juntos, os pequenos empreendimentos representam na economia de Caxias do Sul, sua cidade-sede, e na Serra Gaúcha.
Por tudo isso, a Associação das Empresas de Pequeno Porte da Região Nordeste do RS (Microempa) é mais do que uma entidade de classe. É uma alanca ao desenvolvimento. É uma causa. É uma missão. É uma bandeira econômica e social.
À frente desse nobre projeto está a nova presidente da associação, Luiza Colombo Dutra, 50 anos, com a meta audaciosa de elevar o número de associados em 28%, chegando a 3 mil.
Formada em Publicidade e Propaganda pela UCS e casada com Joel Perini, a gestora conhece na prática os desafios dos pequenos, já que está à frente da Active Design e Comunicação.
A seguir, entrevista concedida por Luiza ao Pioneiro:
Como é o desafio de ser empresária e conciliar a presidência da Microempa?
Ser empreendedora é um grande desafio e, no momento em que resolvi empreender, o tempo foi algo que procurei administrar. Sempre fui muito disciplinada, pois aquele chavão de que tempo é dinheiro é muito real. Quando aceitei o convite para presidir a Microempa, tive plena convicção de que a minha vida iria mudar nesses dois anos, os dias passam mais rápidos e o tempo parece que voa. Nesse momento, percebi que precisava gerenciar muito bem o trabalho da empresa junto com as responsabilidades da entidade, e isso só consigo porque tenho pessoas comprometidas com o trabalho que executam, acredito nas equipes que me cercam e também aprendi muito a delegar tarefas. Esse é um grande desafio, mas a vida é cheia deles.
Quais as dificuldades e lacunas dos pequenos?
Entre as dificuldades estão falta de capital de giro, excesso de burocracia e dificuldade de acesso a crédito, criando uma lacuna muito grande para o crescimento sustentável das micro e pequenas empresas. Além disso estão falta de planejamento, carga tributária e recessão econômica. Um dos maiores problemas da micro e pequena empresa é o isolamento. Sozinho fica sempre mais difícil. Já dizia a música do Renato Russo “muitos temores nascem do cansaço e da solidão”. Por isso, acreditamos na força do associativismo e do cooperativismo. Unindo as pessoas, transformam-se os negócios e melhora-se a qualidade de vida.
Que planos tem à frente da entidade?
Em 2019, a entidade completa 35 anos e teremos o lançamento do livro com a história da Microempa. Darei continuidade ao ótimo trabalho que a outra gestão estava realizando, com o alinhamento do planejamento estratégico da entidade, revisão das ações, bem como em ampliar os grupos setoriais conforme as demandas, ampliar a oferta de cursos e parcerias com instituições de ensino para que possamos levar ao nosso associado conhecimento, apostar na qualificação dos funcionários e na ampliação da sede da entidade.
Com o desemprego muita gente caiu na informalidade e resolveu investir num pequeno negócio.
Na entidade, observamos, a partir de 2015, um movimento maior de profissionais que saíram de grandes e médias empresas e que precisaram se reinventar para sobreviver. Como temos atendimento ao Microempreendedor Individual (MEI) na Microempa, pudemos perceber uma evolução muito grande no número de formalizações. Muitas dessas pessoas perderam seus empregos e procuraram se reinventar com suas habilidades ou por oportunidades e resolveram empreender, pois as empresas não estavam contratando e vários focos de empregos foram fechados. Nesse período, tivemos um incremento de 25% no número de associados e ampliamos de quatro para 12 os Grupos Setoriais do Empreender (Metodologia de Consultoria Grupal).
Como reduzir a desqualificação e o abre e fecha de empresas no mercado?
Acredito que seja no acolhimento e na qualificação dos empresários que muitas vezes foram forçados a empreender e sabem fazer muito bem seus produtos, só não têm muita informação sobre como gerir sua empresa. A Microempa busca sempre levar para seu associado cursos, palestras e também temos nos próprios Grupos Setoriais soluções para ajudar o empresário. Entre eles, destaco o Projeto Fênix, integrante do Grupo Setorial Técnico (GTEC), que conta com profissionais voluntários nas mais diversas áreas de gestão, auxiliando empresas que estão em dificuldades. Temos cases de empresas que estavam fechando as portas e conseguiram se reerguer com a ajuda do projeto. Outra iniciativa muito impactante é o Projeto Prosperar, que auxilia empresas para fazer crescer seus negócios.
As pequenas empresas são maioria, mas pouco ouvidas.
Como entidade, temos o dever de pleitear aos nossos governantes que olhem para as pequenas empresas, pois elas representam muito na geração de empregos e têm uma grande importância social. As entidades devem estar mais presentes, cobrar e fiscalizar o destino dos impostos que são gerados, e que esses sejam revertidos de forma justa para a sociedade. Essa é a missão da Microempa, fazer com que a voz das micro e pequenas seja ouvida e a melhor forma de fazê-lo é através da representatividade, buscando apoio nas esferas públicas municipais, estaduais e federais para que se cumpra o que diz a Constituição, que prevê no artigo 179 um tratamento diferenciado às MPE.
Quais os setores que têm despontado?
Vemos muitos negócios novos surgindo, outros se reinventando. Observamos alguns como agronegócio, negócios ligados à inovação e tecnologia e informática, economia criativa – serviços relacionados ao bem-estar da pessoas, entre outros. Segundo estudo do Sebrae, em 2019, devido a uma inflação mais estável, haverá um favorecimento aos pequenos negócios, devido à melhora e à manutenção do poder de compra das pessoas. Em Caxias do Sul, percebe-se boa movimentação em torno das startups, despertando nova vocação econômica local.
Que lições daria a quem sonha empreender?
Quando pensamos em abrir um negócio devemos pensar nas habilidades e conhecimentos que temos. Em primeiro lugar, escolha algo que você ama muito, que domine os processos. Seja persistente, não desista nos primeiros obstáculos, se não der como você planejou, mude, reinvente-se. Não tenha medo dos “nãos” que receberás, eles muitas vezes nos impulsionam. Faça parcerias, networking, conheça pessoas, interaja em eventos, participe de associações, busque apoio, pois sozinho é mais trabalhoso chegar onde queremos. A troca de experiências nos ajuda a crescer. Conseguimos nos manter no mercado quando olhamos para a frente e buscamos soluções com criatividade e pés no chão. Reinvente-se, sempre, pois a inércia não combina com empreendedorismo e negócios.