Michele Daiana Focchesato Censi é uma empresária que procura primar pelo bom gosto e pelo refinamento.
Ao lado do marido Fabrício Censi, é conhecida por ter ajudado a transformar a Censi (hoje Censi Fisa, por conta da fusão, em agosto de 2018) numa boutique de imóveis. Inovadora, a advogada de formação percebeu que era hora de agregar mais desafios profissionais ao seu currículo.
Foi assim que transformou o hobby por peças antigas e de época em, mais do que um passatempo, um negócio que exige dedicação extrema pela complexidade e exigência do consumidor (ou colecionador?).
De cliente, Michele passou a ser dona do antiquário Art Rarus, localizado na Rua Bento Gonçalves, no centro de Caxias. A acionista da Censi Fisa percebeu que o espaço de 12 anos tinha potencial para crescer ainda mais. Desde outubro do ano passado, remodelou a "galeria de arte" (nome que aplica-se melhor do que loja, no seu entendimento), está estudando sobre peças raras e vem mergulhando num mundo fascinante.
Com 35 anos, a empresária hoje se divide nos papéis de acionista da Censi Fisa, diretora da Art Rarus e mãe de Aurora, 7 anos, e Vittorio, 3. A seguir, a entrevista concedida ao Pioneiro:
Como surgiu a oportunidade de assumir a gestão do antiquário Art Rarus?
Com a fusão ocorrida em agosto do ano passado entre a Censi e a Fisa, as duas marcas juntas passaram a ter um novo status dentro da incorporação imobiliária, como empresa única de grande porte. O planejamento estratégico para a nova Censi Fisa é de uma gestão profissionalizada, em que os sócios atuam no Conselho de Administração e não tendo atividade executiva. A minha saída da função de executiva da Censi Fisa me oportunizou olhar além e, como sou uma pessoa muito ativa, logo a ideia de um novo negócio passou a estar no meu radar. A aquisição do antiquário começou em um café sem propósito específico em um dia de visita à Art Rarus, onde até então eu era apenas uma cliente, e 35 dias depois eu estava dentro do negócio.
Você tem apreço pessoal por antiguidades?
Eu sou apaixonada por antiguidades. Acredito na simbologia das peças, na qualidade e na exclusividade de cada adorno e, principalmente, no papel cultural e artístico que elas carregam. São verdadeiras joias que não se perderam no tempo.
Como conciliar a função como acionista da Censi Fisa e gestora do antiquário?
Com a implantação do novo sistema de gestão pós-fusão, participo apenas de temas estratégicos e das reuniões de conselho. Hoje o meu foco profissional está neste novo negócio, e conciliar todas as demandas já faz parte de uma boa gestão de agenda e dinamismo diário.
De certa forma, seu trabalho nos empreendimentos imobiliários da Censi sempre primou pela beleza e sofisticação, com referências artísticas. O novo negócio complementa sua vocação para a estética no mercado de arquitetura e decoração?
Com certeza essa nova etapa profissional vem ao encontro das minhas experiências, no olhar apurado para os detalhes, para a estética e para a arte. Os apreciadores de antiguidades são pessoas extremamente exigentes, prezam pela excelência das peças, pela procedência e, acima de tudo, pela história que elas contam. É, de certa forma, apaixonante e desafiador.
Quais seus planos de expansão à frente da Art Rarus?
O mercado de antiguidades vem crescendo no Brasil. As pessoas estão cada vez mais interessadas pelo aspecto de "exclusividade" que as peças levam para os seus ambientes, para a decoração. É como se a antiguidade representasse a 'joia" da casa. A oferta de consumo dos produtos padronizados é tão massiva que os objetos de época estão sendo vistos para além dos colecionadores. Com o crescimento no interesse, bem como pela procura ser algo que ultrapassa as fronteiras territoriais da loja física, pretendo implementar ainda neste ano uma nova plataforma online para um e-commerce mais intuitivo e atrativo.
Qual a peça mais cara encontrada no antiquário?
Hoje a peça mais cara encontrada no Art Rarus é uma frente de lareira francesa, do Século XIX, em mármore italiano "rosso", que é vendida por R$ 40 mil. O antiquário tem peças muito importantes no seu acervo, que datam desde o Século XVIII até a década de 1970. Saindo apenas da questão de cifras, destaco também uma mesa da década de 1960, desenhada por Abraham Palatnik, importante designer brasileiro. Foram produzidas apenas sete mesas iguais a essa que estão espalhadas pelo mundo, sendo disputadas em diversos leilões importantes. E uma delas está em Caxias do Sul! Além disso, o Art Rarus, dentro dos mais de 800 itens de seu acervo, possui peças Maison Jansen, Muller, Giuseppe Scapinelli, Percival Laffer, Cia das Indias, Baccarat, Sèvres, Chinoiserie, entre outras peças assinadas.
Que mercado é esse? Qual o público-alvo e as cidades atendidas?
Vejo o antiquário quase como uma galeria de arte, que se apresenta não só na forma de telas e esculturas. Não é um comércio tradicional, me causa estranheza chamar de "loja". O público está em todo o país, temos clientes além da região da Serra que estão em Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás e no Nordeste, com idade a partir dos 35 anos, em média. O perfil é bastante equalizado entre homens e mulheres.
Qual a representatividade do e-commerce hoje?
Hoje está em 20% do faturamento.
Leilões estão na mira do antiquário?
O principal desafio quando se fala em leilões é saber diferenciar aquilo que é realmente raro das quinquilharias que são ofertadas. Por isso não são o meu foco.
Onde as peças raras são garimpadas para a venda?
O mercado de antiguidades é cheio de "segredos" e o garimpo das peças é o maior deles.
Você é conhecida por impulsionar projetos culturais e ações sociais. Como conciliar esses diversos papéis como empreendedora?
Acredito na importância dos papéis que temos em sociedade de promover a cultura, a arte e, principalmente, as ações sociais, e isso me motiva muito. Cada vez que penso na promoção de algo nesse aspecto, o receio de dar conta de tudo vem, mas sempre tive pessoas do meu lado que acreditaram nas minhas ideias e que me ajudaram a fazer tudo acontecer. Esses projetos são para mim o alimento da alma.
Qual o país que mais te inspira em termos de referências culturais e artísticas, e por quê?
Sou apaixonada pela França. Sinto uma identificação pessoal e vejo o país como se houvesse um refinamento natural nesse aspecto, um dom à parte para a expressão da arte e da cultura.
Que conselhos você daria a um jovem empreendedor?
Nada na vida acontece sem uma boa pitada de ousadia. Busque ser diferenciado, surpreenda. As pessoas estão fartas dos modelos em série.