A ocorrência de granizo e geada no final do ano passado fará com que a safra do pêssego seja menor na Serra, local que concentra a maior parte do cultivo da fruta no Rio Grande do Sul. Conforme estimativa da Emater de Caxias do Sul, a região deve colher 37,2 mil toneladas em 2019, queda de 24% frente ao ano anterior. Na comparação com o desempenho da cultura em 2017, quando houve supersafra, o tombo chega a 43%. Atualmente, a colheita se encontra na fase derradeira na região e deve ser encerrada até o final de janeiro.
O engenheiro agrônomo da Emater Caxias Enio Todeschini destaca que o granizo atingiu, principalmente, propriedades em Bento Gonçalves, Farroupilha e Pinto Bandeira. A chuva de pedra ocorrida em outubro passado trouxe prejuízos para alguns produtores justo no momento em que havia começado a colheita das primeiras variedades de pêssego. Ainda assim, Todeschini argumenta que a safra se caracteriza pela qualidade das frutas.
– Os frutos são de bom calibre, coloração e sabor. Além disso, não houve problemas de sanidade – diz.
O frio constante do inverno passado também colaborou para a qualidade da fruta. Segundo dados coletados na estação meteorológica da Embrapa Uva e Vinho, sediada em Bento Gonçalves, a Serra teve 387 horas de temperaturas abaixo de 7,2 graus em 2018, o que garantiu que um ciclo de desenvolvimento normal da fruta nesta safra. No ano passado, quando aconteceram apenas 189 horas de frio, as etapas na fruticultura foram antecipadas em quase 20 dias por conta do excesso de calor.
– Ano passado tivemos um inverno regular, sem muitas variações de temperaturas. Não foi um frio muito intenso, mas foi constante. E isso foi excelente para a fruta – analisa José Taiarol, engenheiro agrônomo da Secretaria da Agricultura de Caxias do Sul.
Pinto Bandeira lidera produção
Boa parte da safra virá de Pinto Bandeira, maior produtor de pêssegos de mesa do Brasil. No município a expectativa é colher 11,7 mil toneladas de frutas, de acordo com a Emater. Apenas na propriedade de Adair e Marisa Rizzardo, deverão ser obtidas 500 toneladas neste ano. A colheita poderia ser mais farta, não fosse pela chuva de granizo que atingiu parte dos 23 hectares de pomares da família.
– Na safra passada tivemos prejuízo com a geada e nesta com o granizo. Perdemos em torno de 25% da área, aproximadamente umas 150 toneladas – calcula o produtor Adair Rizzardo.
Na propriedade dos Rizzardo, a colheita começou em outubro passado, com a variedade kampai, e deve terminar até o dia 20 de janeiro. Para retirar os frutos dos pessegueiros, 18 pessoas trabalham diariamente nos pomares. Do grupo, 14 são temporários chamados para reforçar a equipe. A rotina de trabalho começa de manhã cedo e vai até o sol se pôr.
– O pêssego exige mais mão de obra do que outras frutas, como a uva. É preciso passar sete ou oito vezes pelos pessegueiros para colher tudo – explica Adair.
Toda a produção dos Rizzardo é vendida para fora do Rio Grande do Sul. A família de Pinto Bandeira comercializa as frutas para supermercados de Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco e também para as Centrais de Abastecimento (Ceasas) de Estados da região Sudeste.
Área de pêssego tem leve expansão
O pêssego vem ganhando espaço nas propriedades e tem se consolidado cada vez mais entre as principais culturas da Serra. Na região, a área de pessegueiros passou de 3.280 a 3.340 hectares entre 2017 e 2019, conforme dados da Emater de Caxias do Sul. São 60 hectares a mais em dois anos. Levando em consideração que a maioria dos produtores é de pequeno porte, o incremento é um indício da ampliação da aposta na cultura.
Em Caxias do Sul, alguns produtores de uva optaram por iniciar o cultivo de pêssego no intuito de diversificar a propriedade. É o caso de Cláudio Roglio, da Terceira Légua, que está colhendo sua terceira safra dos pessegueiros. Ao todo, serão obtidas cerca de 5 toneladas neste ano, em uma área de 0,5 hectare. O foco principal ainda é a uva, que ocupa 13 hectares. No entanto, os bons resultados dos pessegueiros fazem Roglio pensar em expandir o cultivo.
Entre os motivos para essa escolha está a remuneração da fruta, que ronda na faixa entre R$ 2,50 e R$ 3,00 o quilo. Além disso, Roglio afirma que, como a colheita do pêssego se encerra pouco antes de começar a da uva, é viável conciliar as duas culturas.
– Estamos recém começando no pêssego. Neste ano, plantamos mais 300 mudas. Se a uva andar devagar e o pêssego continuar com preço bom, vamos seguir expandindo – aponta.
Ao contrário do que ocorreu em outros municípios serranos, Caxias foi pouco afetada pelo granizo nesta safra. A maioria dos produtores caxienses não foi prejudicada pelo mau tempo. Desta maneira, a menor disponibilidade de fruta no mercado, decorrente da quebra na colheita na região, acabou beneficiando os produtores caxienses que têm fruta disponível para atender à demanda.
– Essa foi a nossa sorte. Para quem não pegou granizo e chuvarada, foi um ano excepcional. Quando teve supersafra, há dois anos, não conseguíamos vender por mais do que R$ 1,50 o quilo. Agora estamos vendendo até por R$ 3,00 – ressalta o produtor Luciano Buffon.
Com dois hectares de pêssego no distrito de Vila Seca, Buffon deve colher 50 toneladas. Praticamente toda a produção deve ser escoada para fora do Rio Grande do Sul. O Paraná é o principal destino dos embarques, correspondendo por mais de 80% dos clientes do produtor caxiense.