Até pouco tempo atrás, quem ia à rodoviária de Caxias do Sul só poderia pagar em espécie as passagens para uma série de destinos na região e algumas localidades dentro do Rio Grande do Sul. No entanto, a dependência do dinheiro de papel está diminuindo gradativamente. Em 2018, duas das seis empresas que operam no terminal não aceitavam cartões. Neste ano, resta apenas uma companhia nesta lista.
Em dezembro passado, a São Marcos se tornou a mais recente operadora a aderir à modalidade de pagamento com cartões de crédito e débito. Com isso, agora a única a só aceitar dinheiro de papel na compra do bilhete é a Ozelame. O diretor da companhia, Júlio Ozelame, argumenta que as rotas são realizadas para outros municípios da região, o que torna o valor da passagem menor do que o de trajetos para fora da Serra. Atualmente, a empresa conecta Caxias com Bento Gonçalves, Farroupilha, Garibaldi, entre outras localidades.
– Temos que comissionar a rodoviária e se formos pagar mais a comissão do cartão, tu acabas trabalhando quase de graça – enfatiza Júlio Ozelame.
O dirigente destaca que a companhia possui um sistema próprio de bilhetagem, no qual o usuário pode carregar créditos antecipadamente. A empresa ainda pensa em oferecer a possibilidade de pagamento com cartão de débito. Para Júlio Ozelame, é uma questão de tempo até a empresa passar a aceitar o dinheiro de plástico.
Segundo a gerente de vendas de passagens da rodoviária caxiense, Valéria Gazzola, as próprias empresas são responsáveis por definir quais meios de pagamentos utilizarão. Neste sentido, há casos também de transportadoras que aceitam cartões, mas apenas de determinadas bandeiras.
Estímulo à automação
Nos últimos anos, a empresa que administra o terminal de Caxias tem procurado estimular a automatização das compras de bilhetes. Desde novembro de 2017, duas máquinas de vendas foram colocadas no saguão. Por meio delas, é possível pagar somente com cartões de crédito ou débito.
Mesmo assim, a opção ainda é pouco explorada pelo público. Frequentemente é possível ver largas filas nos guichês de vendas presenciais, enquanto as máquinas permanecem sem usuários.
– Cerca de 40% das vendas são feitas por cartões. Ainda não é o principal meio de pagamento, até por desconhecimento das pessoas. Às vezes buscamos o público na fila para levar aos totens eletrônicos e as pessoas perguntam se é algo novo. Por mais que esteja sinalizado, as pessoas passam e não enxergam (as máquinas) – comenta Valéria.
A gerente constata que parte do público que frequenta a rodoviária sequer sabe da existência da possibilidade de pagamento com cartões de crédito. Isso ocorre principalmente, segundo Valéria, com idosos e agricultores, que pensam que só é possível comprar passagens com dinheiro de papel.
Empresas podem definir meios de pagamento
Mesmo que o uso do dinheiro de plástico esteja avançando rapidamente, a aceitação desse meio de pagamento é uma escolha de cada estabelecimento. Isso porque não existe legislação no Brasil que obrigue as empresas a aceitarem cartões de crédito e débito. Apesar disso, o coordenador do Procon de Caxias do Sul, Luiz Fernando Horn, enfatiza que quem não trabalha com a modalidade precisa deixar isso claro ao consumidor.
– Existe lei federal que determina que os estabelecimentos, de forma prévia, informem ao cliente que só recebem nas modalidades x ou y de pagamentos. Até para que não ocorra constrangimento para o consumidor – relata Horn.
Desta maneira, Horn recomenda que os estabelecimentos coloquem a informação sobre os meios de pagamento disponíveis na vitrine, no caixa e, no caso dos restaurantes, até mesmo nos cardápios. Se ainda assim o cliente consumir e na hora de pagar só tiver cartão, a saída é o bom-senso.
– Não há uma receita nestes casos. É questão de diálogo em busca de solução. Só não se pode colocar o consumidor em situação vexatória, mesmo que ele tenha errado. Não se pode exigir que ele deixe o seu documento no local – exemplifica.
Desde 2017, os lojistas estão autorizados, por lei, a praticarem preços diferenciados para compras com cartões de crédito ou débito. Ou seja, o estabelecimento pode cobrar um valor um pouco maior, caso o cliente prefira pagar com o dinheiro de plástico, e tem a possibilidade de cobrar menos de quem paga à vista em espécie.