O comércio caxiense ainda amarga o baque da crise que atingiu em cheio a economia de Caxias do Sul. No reboque da indústria, o setor mergulhou numa depressão e acumula queda de 49,3% nas vendas desde 2013. O principal tombo foi registrado em 2015: 29, 2%. De lá pra cá, a recuperação está devagar. Bem devagar.
E não é por falta de atrativos. Nas vitrines, lançamentos da moda outono/inverno, grandes cartazes com preços promocionais, balões na porta de entrada e até funcionários “atacando os pedestres na calçada” tentam atrair os compradores para o interior das lojas. Mas, na maior parte do dia, o número de compradores pode ser contado nos dedos.
— Tem dias que dá um desânimo. Dá vontade de desistir — diz um tradicional lojista de Caxias.
O ano de 2017 fechou com alta de 6,2%. Mas janeiro teve queda de 22,9% em relação a dezembro, segundo dados divulgados pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL). Os índices de fevereiro ainda não foram divulgados, mas a previsão em relação a janeiro é de nova queda, devido à ressaca do Carnaval. Portanto, o setor ainda está longe de atingir os índices de 2012.
— Aliás, acho que não vamos mais atingir este patamar — aponta o assessor de Economia e Estatística da CDL, professor Mosár Leandro Ness.
A perda de clientes está diretamente ligada à perda do poder aquisitivo desses compradores. Retrocedemos ao nível de 2009. Ou seja, andamos para trás.
— A vontade de consumir continua, mas não tem dinheiro para gastar. A renda média teve uma queda brutal — observa Ness.
Isso explica as constantes aglomerações em frente às vitrines, em que a tentação é grande, mas falta coragem para entrar e comprar.
Boa parte dos que são vencidos por esta tentação, acabam entrando no grupo de inadimplentes, o maior já registrado na história do comércio caxiense (ver matéria na página ao lado).
Rede aluga
O tamanho do problema também pode ser dimensionado com um breve passeio pelas principais ruas da cidade. É possível perceber que a “rede aluga” continua forte no setor imobiliário. Centenas de salas permanecem vazias há mais de um ano. Dados da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário (ABMI) indicam pelo menos 1,1 mil imóveis disponíveis para locação no comércio. A maior parte esvaziou nos últimos dois anos. Não suportaram a crise e acabaram sucumbindo.
— A rede do aluga é a que mais lojas abriu — exemplifica o assessor da CDL.
Os negócios que resistiram, também se reestruturaram. Para a atual presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas), Idalice Manchini, houve uma mudança de comportamento dos consumidores.
— Estão comprando de forma mais consciente. Como consequência, as equipes das lojas também estão enxutas.
Ou seja, os funcionários aprenderam a desempenhar mais de uma função e acabam sendo curingas na estrutura do negócio.
"Todos reclamam, mas ninguém faz nada", diz empresária
Bianca Dotti Sartori está no comércio caxiense há 30 anos. Conhece a atividade como ninguém. Mesmo assim, a crise atingiu em cheio seu negócio e foi a pior da história da loja de confecções Branca Rosa, localizada no centro da cidade
— Gastei toda a gordura que tinha — declara.
Ela conta que está há dois anos está trabalhando no vermelho. Mas não abre mão do que gosta e entende.
— Se fechar, vou ficar orfã.
Ela critica a falta de ações para uma reviravolta.
— Se fala tanto. Todos reclamam, mas ninguém faz nada.
Ela aponta a informalidade como um dos principais entraves do desenvolvimento do comércio caxiense. Tanto o das calçadas como o das sacoleiras, que não pagam impostos para vender.
— É uma concorrência desleal — denuncia.
Otimista, a empresária ainda acredita que a situação vai melhorar.
—Nosso atendimento é o melhor do Rio Grande do Sul. Ainda aposto minhas fichas que vou me manter no mercado.