O apito do trem, por volta das 6h20min, marcou a manhã desta quarta-feira (28), dia em que a unidade da Randon de Araraquara (SP) foi inaugurada oficialmente. A área de 122 hectares ocupada pela nova planta é vizinha da malha férrea e de canaviais. É justamente este o foco do negócio em São Paulo, melhorar a logística para fornecer semirreboques canavieiros e vagões ferroviários para o principal mercado da Randon no país, o Sudeste.
Desde o início de março, a fábrica de 25 mil metros quadrados já iniciou a produção de semirreboques canavieiros. São fabricados seis veículos por dia, mas a capacidade é de 16. Ainda neste ano, o grupo pretende transferir de Caxias do Sul para Araraquara duas linhas de produções de vagões ferroviários, do tipo gôndola que transporta minério de ferro e do modelo hopper para transporte de grãos. A tendência é que este último seja produzido antes por conta da maior demanda.
O presidente do Conselho de Administração das empresas, Alexandre Randon, destaca que a opção pelo Sudeste resolve um problema de logística.
— Chegamos a pagar R$ 15 mil de frete para transportar uma unidade de Caxias do Sul para o Sudeste — exemplifica.
David Randon, diretor presidente do grupo, disse que foram conferidas mais de 20 áreas antes da decisão por Araraquara em 2012 e a escolha foi baseada, principalmente, pela localização para a entrega dos produtos, levando em conta a infraestrutura ferroviária, mas também a rodoviária, já que é atravessada por importantes rodovias, como a Bandeirantes. Questões de infraestrutura, como energia, e de fornecedores e mão de obra também pesaram para a definição. O fundador do grupo, Raul Anselmo Randon, chegou a visitar a fábrica na segunda metade do ano passado, quando estava em fase de finalização, antes de adoecer. Emocionado, o presidente da Randon destacou que março foi um mês muito difícil pela perda do pai e “comandante” e ressaltou que a inauguração representa a expectativa de continuar o sonho dele.
— É um sonho que temos desde 2012. Esse modelo foi estudado por mais de 200 pessoas. Vai ser um exemplo de como fazer todas as novas unidades, com processos muito melhores e integrando as unidades em projetos do futuro — afirmou David.
O vice-presidente de Administração e Finanças, Daniel Randon, destacou o momento certo para colocar a nova fábrica em operação. O projeto é de 2012, a pedra fundamental foi lançada em 2014, mas a obra parou em 2016 e só foi retomada há cerca de um ano em função da crise.
— As empresas passaram por um momento difícil nos últimos três anos. A inauguração vem no momento em que e o país está voltando a investir e a Randon tem capacidade para novos investimentos. Tivemos o fechamento de uma unidade importante em São Paulo. Voltando a Araraquara, continuamos fortes onde estão nossos principais clientes — explica Daniel Randon.
Em março de 2016, a Randon fechou a fábrica de Guarulhos. A produção foi acumulada pelo complexo fabril de Caxias do Sul, mas agora a intenção é transferir novamente para São Paulo a fabricação de implementos para furgões de carga geral e sider que estavam sendo feitos no Sudeste.
O diretor de operações de montadoras da Randon, Alexandre Gazzi, afirma que estava nos planos da Randon o fechamento da unidade de Guarulhos quando nasceu o projeto de Araraquara, mas reforça que a crise acelerou o processo de extinção.
“Hoje já estamos estrangulados em Caxias”, afirma Daniel Randon
A unidade de Araraquara deve representar de 10% a 20% da produção do grupo e abrir mais espaço para Caxias do Sul se voltar para o modal rodoviário. Esta é a quinta unidade da Randon Implementos. Neste mês de março, a fabricante caxiense também inaugurou uma fábrica no Peru e já tinha unidades na Argentina e em Chapecó (SC).
Para uma comparação, o complexo das empresas Randon no bairro Interlagos de Caxias do Sul tem 130 mil metros quadrados de área construída e tem capacidade de produção de mais de 130 produtos por dia. Em Araraquara, a área total é de 122 hectares, mas são 25 mil metros quadrados de fábrica. O investimento foi de R$ 100 milhões, sendo R$ 60 milhões de financiamento via BNDES.
Daniel Randon revela que, depois de mais de 300 mil caminhões e semirreboques terem ficado parados durante a crise, hoje a empresa está fazendo hora extra
— Hoje já estamos estrangulados em Caxias do Sul — afirma.
Por isso, mesmo com a transferência de boa parte da produção de Caxias do Sul para Araraquara, 12 famílias de produtos seguirão sendo produzidas na sede.
— E abre espaço para sermos mais produtivos na nossa fábrica de bases, as plataformas, onde nossa fábrica de Caxias do Sul é imbatível, e 95% das exportações saem daqui. A gente tem estudado novos produtos, mas ainda não posso afirmar quais. Vamos fazer bem o que sabemos fazer em Caxias — explicou Alexandre Gazzi.