A morte de Raul Randon ainda repercute na cidade. Em uma das maiores manifestações comunitárias já registradas em Caxias do Sul, sua despedida no último final de semna deixou lacunas na vida de pessoas, de trabalhadores e nos negócios. Nada deve mudar na administração das empresas do grupo, mas os funcionários que ajudaram seu Raul a construir o império nos transportes de carga sentirão falta de seu carisma nos corredores das fábricas.
— Estamos meio órfãos — disse Geraldo Santa Catharina, que trabalha na empresa há 34 anos, no dia da morte do empresário.
Em depoimento após a morte do pai, o atual presidente do grupo, David Randon, disse que o trabalho seria mantido.
— Vamos fazer de tudo para continuar o legado que ele nos deixou — declarou.
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O Grupo Randon é composto por nove empresas e emprega quase 8 mil funcionários. Desses 6,9 mil só em Caxias. Para 2018, a previsão de faturamento é de R$ 5 bilhões. Referência nacional no segmento automotivo, a Randon tem grande peso na economia do Rio Grande do Sul e mais ainda em Caxias do Sul. Na verdade, é um motor econômico de Caxias. Se o grupo está em um bom momento, certamente o município também estará.
Mais postos de trabalho
A prova de que as empresas do grupo estão bem é que, em dezembro de 2017, a direção anunciou a abertura de 600 novos postos de trabalho. As admissões foram feitas entre janeiro e fevereiro, o que ajudou a alavancar os números positivos do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), divulgados semana passada: 1.366 novas vagas no município. Destas, 844 foram do setor industrial.
Os números expressivos tornam a Randon uma das maiores empresas da região Sul. De acordo com o ranking 500 Maiores do Sul, produzido pela Revista Amanhã, é 11ª maior companhia do RS e ocupa a posição 31ª na região. Detém a liderança em diferentes mercados. No segmento de semirreboques, por exemplo, possui 40% do mercado brasileiro, e a mesma fatia no nicho de vagões ferroviários.
A presença internacional também é forte. A Fras-le (empresa do grupo) é a segunda maior exportadora de Caxias e a Randon Implementos, a quarta.
Família foi preparada para tocar a empresa
Se a preocupação dos caxienses é sobre como vai ficar a Randon sem a presença de seu Raul, a co-fundadora do Instituto de Desenvolvimento da Empresa Familiar (Idef), Hana Witt, tranquiliza e garante:
— Não há motivos para temores ou apreensão — pacifica.
E acrescenta:
— Os filhos estão preparados para tocar a empresa.
A sucessão começou a ser preparada em 2009, quando seu Raul assumiu a presidência do Conselho de Administração, deixando o filho mais velho, David, como CEO. Dos cinco filhos de Raul, quatro trabalham na companhia fundada pelo pai. Além de David, Daniel é o vice-presidente de Administração e Finanças, Alexandre é o vice-presidente do conselho, e Maurien é diretora do Instituto Elisabetha Randon, o braço de responsabilidade social da empresa.
A quinta filha, Roseli, é médica e não trabalha na companhia. Em nota, a empresa informou que o nome de quem vai ocupar a cadeira de seu Raul na presidência do Conselho e de outros procedimentos relativos à sucessão serão definidos nos próximos dias, seguindo as orientações do Estatuto Social e da legislação vigente.
Sucessão saudável
Para a pesquisadora Hana Witt uma sucessão saudável e planejada, como a que aconteceu na Randon, é sinônimo de vida longa para a empresa. Estudo do Idef aponta que menos da metade das empresas da Serra encaminhou a sucessão. A Randon está entre elas.
Hana informa que são necessários, pelo menos, entre três e cinco anos para preparar um bom sucessor. E isso aconteceu com a Randon. O filho mais velho assumiu às rédeas do negócio em abril de 2009. E a terceira geração já deve estar preparada.
Seu Raul foi cuidadoso ao preparar a sucessão. Fez questão que os filhos, principalmente David, estudassem e trabalhassem fora da companhia. Quando entregou o cargo, demonstrou estar em paz com o resultado do processo sucessório. Mesmo assim, na presidência do conselho, diariamente ele comparecia ao batente. Até setembro de 2017, quando sua saúde começou a ficar fragilizada. Acabou internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, e não retornou.
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