Agosto pode ter sido o último mês que a economia de Caxias do Sul fechou no vermelho. É o que acreditam os especialistas da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) que, juntamente com a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), divulgaram nesta quarta-feira (4) o desempenho econômico da cidade.
Segundo os dados mostrados, a performance de agosto apresentou alta de 2,6% em relação a julho. No acumulado dos últimos 12 meses, os indicadores ainda são negativos: -0,6%.
Mesmo assim, os números são considerados animadores:
— A “despiora” continua — resume o diretor de Economia, Finanças e Estatísticas da CIC, Astor Schmitt.
Gradualmente, o desempenho da cidade vem melhorando na comparação com os 12 meses anteriores: em setembro de 2016, o índice era de -18,5% em relação a 2015. Para o economista Alexander Messias, é quase certo que Caxias fechará o ano no azul.
— Muito provavelmente fecharemos no positivo, mas é prematuro apontar de quanto será o crescimento — aponta.
Caso as previsões se confirmem, será a primeira vez desde abril de 2014 — há três anos e seis meses – que a economia caxiense terá saldo positivo no acumulado de 12 meses.
Para Schmitt, a recuperação gradual se deve a uma mudança de comportamento dos agentes econômicos.
— Caxias não é diferente do país como um todo. Há uma convicção de que a evolução da economia está se descolando da situação política, ética e comportamental que vivemos. A sociedade produtiva está demostrando cansaço e pensando: “esse negócio não tem jeito, vamos cuidar da nossa vida.”
As condições da economia mundial são favoráveis e também influenciariam o desempenho brasileiro.
Messias, porém, faz o alerta de que a volta para o azul não significa que a cidade retornará aos tempos pré-crise:
— Estamos vindo de uma base de comparação muito comprimida. Num período mais longo, é bastante desafiador voltar ao nível dos melhores tempos da indústria. Mas estamos no caminho certo.
Para que a indústria retome os investimentos, por exemplo, o economista explica que é necessário que se volte a utilizar toda a capacidade instalada do setor, que hoje está 28,4% ociosa.
Na desagregação por setores econômicos, os números mostram que a indústria praticamente recuperou as perdas do período. Os serviços seguem no negativo: -2,8%.
— O setor de serviços foi o último a entrar na crise e será o último a sair — acredita Messias.
Em agosto, o comércio apresentou desempenho 1,5% superior ao ano passado e, tecnicamente, já saiu da crise.
Recuperação do emprego é tímida
Os números de desemprego, que impactam diretamente a população, apresentam melhora tímida. Conforme dados do Ministério do Trabalho houve um acréscimo de 0,6% nas contratações em 2017, mas, no acumulado de 12 meses, o mercado de trabalho encolheu 1,5% na cidade, o que representa 2.452 postos de trabalho a menos.
A avaliação dos economistas sobre o futuro do emprego diverge. Para Astor Schmitt, no período de três a cinco anos é possível voltar ao nível do ano de 2013, quando a cidade tinha mais de 183 mil postos de trabalho formais — hoje, são cerca de 159,5 mil estimados.
— Se o crescimento existe, os trabalhadores progressivamente vão sendo reabsorvidos. Muda o perfil, mas o capital humano é sempre necessário.
Alexander Messias não demonstra tanto otimismo:
— O empresário vai contratar depois que estiver vendendo. O que se observa para os próximos trimestres é uma melhora do emprego, mas vai ser lento. Para voltar aos níveis antigos de 2013/2014, vai demorar, e muito.
Para o economista David Fialcow, professor da Faculdade Dom Bosco, em Porto Alegre, é necessário ter cautela:
— As empresas estão recebendo novos pedidos, mas a ação do governo federal ainda é num sentido de esfriar a demanda. Além disso, não temos política industrial nacional. O preço do aço, por exemplo, é altíssimo e quem paga o pato é a indústria metalúrgica de Caxias e do Brasil. Isso pode tornar a recuperação mais lenta e acidentada.
ENTENDA OS ÍNDICES
:: A CIC mede o desempenho da economia por meio de indicadores distintos para cada setor.
:: Para a indústria, é considerado o Índice de Desempenho Industrial (IDI), que inclui a utilização da capacidade instalada (horas trabalhadas, compras e vendas industriais e a massa salarial).
:: Para comércio, o Termômetro de Vendas da CDL, que considera o faturamento e a empregabilidade do setor e a inadimplência dos consumidores.
:: Para os serviços, a arrecadação do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). :: Os dados monetários são corrigidos pela inflação para mostrar os valores reais de cada período.
:: O desempenho da economia não deve ser confundido com o Produto Interno Bruto (PIB) do município, divulgado pelo IBGE.