Dados da Emater revelam que as mulheres estão tomando conta dos negócios no campo. Na área das agroindústrias da Serra, informa Ricardo Capelli, a maioria das empresas é comandada por elas. Maria Aparecida da Silva Bernardi, 47 anos, é uma delas. Em 2003, a família ensaiou o plantio de mirtilos para exportar. Não deu certo. A quantidade reduzida inviabilizou que o negócio desse lucro.
A falta de divulgação e conhecimento sobre a pequena fruta roxa deixaram muitas caixas nos freezers.
— Botamos fora muito mirtilo — lamenta Maria Aparecida.
Com a força de uma guerreira e o foco no sustento da família, ela não desistiu. Após participar, em 2010, de uma palestra na Emater voltou para casa e comunicou à família: vou montar uma agroindústria. E montou. Enfrentou as restrições de ter baixa renda para financiamentos, mas foi em frente.
Comprou um tacho, uma panela e duas bacias. Começou, sozinha, a fazer chimias com os mirtilos. Aos poucos foi investindo em uma pequena construção, diversificando os sabores e aumentando a produção.
Hoje, ainda não está como ela quer, mas já transforma mais de 10 mil quilos de frutas em deliciosas geleias. Todas produzidas artesanalmente. São cerca de 30 diferentes sabores, mais o suco de mirtilo – o único 100% natural do Estado. Na propriedade de 31 hectares de terra, a família produz a maior parte da matéria-prima, 70%. Os outros 30% ela compra dos produtores da região. A pequena estrutura virou negócio de pequeno porte. E ela continua ampliando. O marido, os dois filhos e a nora trabalham sob seu comando. Todos os produtos são rotulados com o nome de Doces Silber, que ela exibe com orgulho. 60% da renda da família está na agroindústria e 40% ainda está na venda in natura.
O segredo? Persistência, organização, determinação, conhecimento, visão de futuro e muito capricho. Maria Aparecida não perde os cursos que a Emater e o Sebrae promovem sobre o assunto. Em 2014, quando vislumbrou a crise, contratou um representante para vender seus produtos em Santa Cataria, Paraná e São Paulo. Deu certo, a maior parte da produção vai para estes estados.
O segredo também está na forma de fazer. É tudo artesanal.
— Coloco carinho no que faço. Tô feliz com o meu negócio e tenho orgulho dele — ressalta.
Orgulho já reconhecido: em seis anos na atividade já arrematou quatro prêmios e faz parte de dois livros. Um deles foi a conquista da medalha de ouro na Expointer de 2015, com a melhor história da agroindústria.
— A mulher do campo também pode sonhar e vencer. O meu suor quebra paradigmas e alavanca a renda familiar — exclama a empresária.
A sexta agroindústria do município de Vila Flores abriu as portas no final de agosto. Localizada na comunidade de São Lourenço, a queijaria Mikeli produz cerca de 40 quilos de queijos por dia – colonial e temperados – que serão comercializados no mercado local.
“A queijaria trouxe renda e mais qualidade de vida para a família”
A proprietária, Cristiane Elwanger Rui, conta que a ideia surgiu há sete anos quando começou a ter dificuldade de receber o pagamento pela venda de suínos para uma empresa. Com dois filhos pequenos e muitas contas para pagar, procurou a Emater/RS-Ascar local para montar um aviário, já que a produção de leite era pequena e insuficiente para manter a família.
A extensionista da Emater Maria Teresa Lowe sugeriu uma outra alternativa para agregar valor à produção de leite e para que a família pudesse trabalhar em seu próprio negócio: uma agroindústria de queijos. Depois de avaliar a a sugestão, Cristiane foi até Carlos Barbosa conhecer uma queijaria e o processo de fabricação. Gostou do que viu e partiu para a qualificação no Centro de Formação de Agricultores de Fazenda Souza (Cefas), em Caxias do Sul. Deu início ao processo de legalização e concretizou o negócio.
— A queijaria mudou nossa vida, pessoal e financeira — destaca Cristiane, que conta com a ajuda do marido e dos dois filhos adolescentes, Micael e Ketlin.
Ela já pensa em participar de feiras e ampliar o negócio.
— Quero colocar mais produtos no mercado — diz, confiante, Cristiane.
Para a gerente regional da Emater, Sandra Dalmina, o trabalho em uma agroindústria envolve toda a família:
— Une e traz renda e qualidade de vida — destaca.