Dois setores produtivos estão sofrendo os efeitos negativos com a falta do frio no inverno deste ano em Caxias do Sul e na região. A agricultura e o comércio sentem na pele a ausência das temperaturas mais baixas. A estação meteorológica da Embrapa Uva e Vinho, que faz esse tipo de medição, comprova a redução de horas de frio, na comparação com o ano passado. De abril a agosto, foram registradas apenas 190 horas (abaixo dos 7,2ºC) em Bento Gonçalves. No mesmo período de 2016, a estação meteorológica apontou 519 horas de frio. Foram 63% a menos do que no ano anterior.
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Na tentativa de recuperar a produção, as frutíferas como a maçã, a uva e o pêssego precisaram de estímulo para a brotação. Mesmo assim, a tendência é de que a produção seja menor na próxima safra.
O chefe do escritório da Emater de Bento Gonçalves, Thompson Didoné, diz que as variedades de uva cabernet sauvignon, cabernet franc, tannat e merlot, mais tardias, exigem mais de 300 horas de frio, e a maçã, dependendo da variedade, necessita de mais de 500 horas.
– Orientamos os agricultores para realizar o manejo das suas produções. Existem tratamentos que substituem as horas de frio e suprem essa necessidade.
Falta de chuva já preocupa
Didoné alerta para outro fator climático que pode prejudicar as frutíferas nesta época do ano: a falta de chuva. Segundo ele, a baixa precipitação pluviométrica é maior do que a falta de frio.
– A parreira precisa de água para emitir dos brotos. Estamos presenciando um déficit hídrico, não é seca. O solo está úmido, mas não é o ideal para a brotação. O frio a gente contorna.
Para o enólogo da Emater, ainda é cedo para afirmar que haverá queda na produção, mas existe uma sinalização devido à deficiência na brotação. Didoné diz que a avaliação sobre a quebra da safra deve ser feita mais tarde.
– Agora, a brotação está deficiente, mas pode chover na próxima semana e recuperar.
A partir de agora, o frio é prejudicial para as frutíferas, uma vez que as temperaturas mais baixas causam lesões por queimadura nas folhas e frutas e também são responsáveis por doenças fúngicas e bacterianas.
A falta de horas de frio foi comprovada pelo agricultor Darci Menegotto, 41 anos. Ele conta que precisou reforçar os cuidados com a produção de maçã e de pêssego na propriedade de 10 hectares localizada em Caravaggio da 6ª Légua, no interior de Caxias do Sul.
No ano passado, Menegotto produziu 20 toneladas de pêssego da variedade chimarrita e 40 toneladas de maçã por hectare. Ainda sem estimativa da perda da produção, Menegotto diz que a qualidade das frutas será inferior à da produção deste ano.
– Com certeza, o tamanho e a coloração serão diferentes – projeta ele.
Menegotto reclama que a falta de chuva já está prejudicando a uniformização da brotação da sua produção.
– Todo ano é um problema – lamenta o agricultor.
Comércio deve ter queda de 10% nas vendas
No comércio, artigos de inverno, como casacos, blusões de lã, malhas e acessórios como toucas e luvas já deram espaço para a coleção primavera e verão. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Caxias do Sul estima que a queda nas vendas seja de 10% em comparação com o ano passado.
O presidente da CDL, Ivonei Pioner, diz que a falta de frio prejudicou especificamente o setor de vestuário, mas outros segmentos, como bares, restaurantes e lojas de acessórios, tiveram um melhor resultado.
– Quem amargou um resultado ruim foi o setor de roupas pesadas, que tem um valor agregado na venda. As malharias e empresas que fabricam casacos de lã tiveram dificuldades – analisa Pioner.
Para atrair os clientes e impulsionar as vendas das sobras de estoques, os lojistas apostam nas promoções como um formato de venda. Segundo Pioner, elas são uma tendência cada vez mais forte e uma prática mundial, pois nenhum lojista guarda coleção para o ano seguinte.