O cenário de recessão econômica e escalada no desemprego que atingiu uma série de segmentos da economia brasileira não deu trégua ao setor do plástico. Na Serra Gaúcha, desde 2013, foram cortados cerca de 2 mil postos de trabalho, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás).
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Atualmente, as 436 empresas na região contam com 10,9 mil funcionários. Os números não incluem dados de Bento Gonçalves, que possui cerca de 20 fábricas no ramo, mas não tem representação no sindicato. É para cuidar dessa performance, melhorá-la, e difundir uma nova visão sobre o produto e sua relação com o meio ambiente que o presidente do Simplás, Jaime Lorandi, lidera uma mobilização para que o Vaticano revise sua orientação quanto ao uso do plástico, dada na encíclica Laudato Si (Louvado Seja), conforme mostrou o Pioneiro nesta quinta-feira.
Apesar da conjuntura adversa, Lorandi, destaca que poucas empresas fecharam em Caxias do Sul, Farroupilha, São Marcos, Garibaldi e Alto Feliz. No entanto, muitas estão tendo dificuldades de honrar compromissos financeiros.
– Chegamos a empregar 13 mil pessoas. Não temos dados sobre o fechamento de empresas, mas sabemos que aumentou a inadimplência entre elas – diz Lorandi.
A Serra lidera a produção de plástico no Rio Grande do Sul, respondendo por 40% do volume fabricado no Estado. Por tabela, os cinco municípios abrangidos pelo Simplás são responsáveis por 4% de todo o plástico produzido no Brasil. O faturamento médio do segmento fica na casa de R$ 2,6 bilhões ao ano.
‘O plástico é vital’
Além dos empregos diretos gerados na fabricação de plástico e na indústria de embalagens, o setor movimenta indiretamente a economia da região. Isso porque uma série de pessoas vive exclusivamente da reciclagem do lixo descartado pela população. Nesse cenário, o plástico é um dos materiais de maior valor agregado para comercialização, segundo Adroaldo Flores, um dos articuladores do Movimento Catador Legal de Recicladores (MCLR).
– Para nós, o plástico é vital, gera 60% da nossa renda. Só com papel e alumínio, nossa renda cairia muito – destaca Flores.
De acordo com o reciclador, o preço do quilo do plástico para revenda pode chegar a até R$ 1,80, enquanto materiais como papel e papelão oscilam entre R$ 0,20 e R$ 0,40 o quilo. Atualmente, o MCLR é composto por 13 centros de reciclagem, que atuam em parceria com a prefeitura de Caxias do Sul.
Flores estima que, das quase 90 toneladas de lixo geradas por dia na cidade, 30% são de materiais plásticos. O integrante do movimento calcula que cerca de 400 famílias em Caxias vivem da reciclagem.
‘400 anos para se decompor pode ser bom ou ruim à natureza’
O plástico é um dos materiais que mais demora para se decompor, o que pode levar até 400 anos. Essa larga durabilidade resulta em um passivo ambiental significativo, quando ocorre o descarte inadequado. Em meio ao debate sobre os impactos na natureza, o próprio movimento ambientalista têm divergências.
O conselheiro da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) Beto Moesch destaca que algumas correntes dentro do movimento defendem a não utilização do material, enquanto uma outra, da qual Moesch forma parte, sustenta que o melhor caminho é realizar ações de conscientização sobre a maneira correta de descartar.
– O plástico levar 400 anos para se decompor pode ser bom ou ruim para a natureza. Se for mal descartado, é ruim. Mas, na fabricação de bens duráveis, é bom. Eu posso ter uma caneta de plástico que vai durar 400 anos – exemplifica.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz, sustenta que o produto em si não é vilão da natureza. O problema, diz ele, está na maneira como muitas pessoas o descartam, até porque o material pode ser reciclado e ganhar uma nova utilidade.
– Temos que pensar que o meio ambiente é reflexo de como a sociedade lida com seus recursos. É inconcebível que joguemos uma quantidade no lixo que poderia ser reciclada, poupando com isso recursos e gastos em aterros, água e ainda gerando gases de efeito estufa. É preciso pensar os conceitos – reconhece Roriz.
Moesch concorda com essa linha adotada pela indústria, mas ressalta que o setor deveria ter um papel de protagonista na logística reversa daquilo que fabrica. Assim, sugere que a cadeia produtiva poderia adotar medidas como a implementação de postos de coleta, permitindo que aquele material descartado pelas pessoas tenha uma destinação correta.