Com a pretensão de afinar as relações comerciais entre o Brasil e o Paraguai, uma comitiva do país vizinho esteve em Caxias do Sul nesta terça e quarta-feira. Liderado pelo ministro da Indústria e Comércio do Paraguai, Gustavo Leite, o grupo focou boa parte das atividades em visitas e eventos com empresas interessadas na internacionalização. A ideia da comitiva é atrair empreendedores brasileiros para expandir as operações em solo paraguaio – que conta com custos menores de produção –, substituindo, assim, parte das importações que chegam do continente asiático na América Latina.
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A estratégia do governo paraguaio tem dado certo: conforme Leite, cerca de 60 empresas do Brasil abriram alguma unidade no país vizinho nos últimos anos. A energia elétrica, bem mais em conta (chega a ser 80% mais barata), é um dos diferenciais citados pela comitiva:
– O Paraguai pensa que hoje, no mundo, devemos fazer todo o possível para virarmos competitivos. O mundo tem essa regra. Vemos que a Índia, a China, produtores de grande escala, todos estão jogando forte. Achamos que uma aliança forte entre os países do Mercosul é importante nesse cenário. O Paraguai oferece hoje competitividade para que as empresas brasileiras possam substituir o que importam da Ásia e também para que as empresas brasileiras possam ter uma uma plataforma para a internacionalização – resume Leite.
A baixa pressão tributária é outro diferencial do Paraguai ressaltado pela comitiva. As indústrias que se instalam no país podem importar a matéria-prima de qualquer lugar do mundo com isenção total de impostos de entrada e pagar 1% na saída. Menores custos trabalhistas também estão incluídos na lista do grupo quando são citadas as facilidades para expandir:
– Os encargos são bem menores. Algumas áreas da legislação trabalhistas são mais amigáveis para a empresa e para o trabalhador no Paraguai. Conseguimos uma paz social com trabalhadores. Não lembro de uma greve no setor privado no Paraguai nos últimos 25 anos. E não é porque não tenha sindicato, é porque compreendemos que para ter trabalho, tem que ter empregador – justifica Leite.
Internacionalizar as empresas, muitas vezes, traz um temor para a sociedade de que a estratégia pode enfraquecer a economia local, já que empregos serão gerados em outro país. Esse pensamento, na visão do ministro do Paraguai, não tem mais espaço no mercado atual:
– No mundo de hoje, os países que não potencializarem a internacionalização perdem terreno. Não é uma questão de vontade ou não. Os americanos, os japoneses, os europeus... eles empurram suas empresas para fora. Nenhum país do mundo pode fazer tudo no seu país. Pensar assim é uma visão estreita da situação. Quem não vira competitivo hoje, tem risco de sair do jogo – acredita.
"Gostaríamos de ter uma Caxias no Paraguai"
A programação da comitiva do Paraguai na Serra incluiu visitas a empresas e também um encontro no Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs). O ministro da Indústria e Comércio do país, Gustavo Leite, destacou que a recepção da região foi "espetacular":
– Fiquei surpreso com o desenvolvimento da região. É uma pequena Europa no Brasil. Gostaríamos de ter uma Caxias no Paraguai e vamos trabalhar para isso.
Sobre as mudanças no governo brasileiro, Leite avalia que há uma "nova visão sobre o Mercosul atualmente":
– Estamos voltando às origens. O Mercosul é um livre comércio entre os países envolvidos, mas nos últimos anos, andava cada vez mais reservado e filosoficamente político. Os governos novos de Brasil e Argentina voltaram a ter a visão de antes.