Juntamente com o metalmecânico, o setor moveleiro da Serra está sendo um dos ramos mais impactados pela retração geral da economia. A ligação direta deste segmento com a construção civil – altamente atingida com a crise – é um dos motivos que explica a baixa. Dados divulgados nesta semana pela Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs), porém, mostram um "respiro" no setor: em agosto, na comparação com julho, a produção industrial do ramo cresceu 14,6%.
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O dado positivo, depois de uma sequência de números no vermelho, ameniza levemente os índices negativos que seguem assustando. Em todo 2016, segundo dados do relatório de Inteligência de Mercado (IEMI), o setor moveleiro apresenta queda acumulada de 12,8% em vendas e 13,4% em produção industrial.
O bom resultado de agosto é creditado especialmente às exportações. Conforme Volnei Benini, presidente da Movergs, o dólar alto registrado em parte do primeiro semestre – chegando na casa dos R$ 4 – estimulou a busca por mercados externos. O problema é que a moeda americana não se manteve em patamares tão altos e retornou a valores próximos de R$ 3,20.
– As exportações ajudaram bastante em agosto, mas depois os pedidos voltaram a cair. Outubro, por exemplo, é um mês que estamos rezando para acabar logo, porque foi bem ruim – analisa Benini.
No polo moveleiro de Bento Gonçalves, que é o principal do Estado, a queda no faturamento neste ano é de 18%, aponta Henrique Tecchio, presidente do Sindmóveis. O prejuízo se soma a baixa de 13% registrada em 2015. Para esse final de ano, há uma expectativa de "despiora" leve:
– Normalmente a situação melhora um pouco nos últimos meses do ano, especialmente no ramo de móveis soltos. Mas não notamos esse movimento no ano passado, então pode ser que em 2016 isso também não ocorra – analisa Tecchio.
Melhora em 2017 – Uma melhora mais consistente, na opinião de Benini, deve vir no segundo semestre de 2017. Tudo depende, entretanto, dos rumos que as decisões políticas irão tomar:
– Se o governo ajudar, pode ser até que melhores antes. Uma baixa mais expressiva nos juros, por exemplo, pode adiantar uma retomada – acredita Benini.
Outro fator que será determinante para o segmento é a retomada da construção civil. Tecchio lembra que o número de lançamentos imobiliários caiu e muitos imóveis novos estão fechados:
– O estoque de imóveis novos e fechados cresceu bastante. Muita gente que investe em imóvel está com unidades fechadas, prontas, esperando a crise passar – repara.
Em volume, a produção de móveis no Brasil alcançou 36,2 milhões de peças em agosto. Em alguns meses de 2014, esse número chegou próximo de 50 milhões de peças.
10 mil postos fechados
Ao todo, o setor moveleiro conta com cerca de 400 empresas no Estado, estima a Movergs. Atualmente, o ramo emprega por volta de 35 mil pessoas.
Esse número, porém, já foi bem maior: na comparação com o ano passado, o segmento fechou quase 10 mil postos de trabalho no Estado, relata Volnei Benini, presidente da entidade:
– O desemprego é o que nos preocupa mais. E nós não estamos gerando mais vagas, só estamos fechando. Isso resulta em um caos social porque reduz muito a capacidade de compra das famílias – ressalta.
Benini lembra ainda que os ramos que englobam bens de maior valor (como imóveis e carros) e os que fazem parte dessa cadeia (como autopeças e imóveis) devem ser os que vão demorar mais para melhorar:
– O sonho do carro e da casa própria está sendo adiado com tanta insegurança no mercado e a retomada disso deve ser gradual.