Após anos de discussões e acordos, a Serra passará, enfim, a contar oficialmente com um parque tecnológico. A iniciativa - comum em países desenvolvidos e já presente em algumas regiões do país - visa promover a cultura da inovação e atua como um elo entre o poder público, a iniciativa privada e a comunidade acadêmica. A inauguração do Parque de Ciência, Tecnologia e Inovação da Universidade de Caxias do Sul (TecnoUCS) será nesta sexta-feira, às 18h, na instituição de ensino. A solenidade, porém, terá mais cara de lançamento, de pontapé inicial, do que propriamente de "obra entregue", já que muitas reivindicações ainda estão no papel.
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Nesse primeiro momento, duas das três modalidades previstas para o TecnoUCS estão em funcionamento: a projetos e a locação (veja quadro). Os dois casos são de atividades que já são realizadas na universidade, no bloco 57, mas que agora serão potencializadas, explica Odacir Deonísio Graciolli, vice-reitor e pró-reitor de Inovação e Desenvolvimento Tecnológico.
A terceira modalidade (condomínio), que envolve novas instalações em uma área próxima ao Instituto de Biotecnologia e à Incubadora Tecnológica, no bairro Cruzeiro, não tem previsão de início. Segundo Graciolli, essa oficialização que está sendo realizada hoje será fundamental para atrair investimentos e, assim, acelerar o funcionamento do parque como um todo.
- É importante essa inauguração justamente em um período de crise, porque em épocas mais positivas o assunto nem sempre tinha muita adesão. Agora, nesse cenário, o mercado percebeu que quem investe em inovação e tecnologia não está sentindo tanto a retração. A região conta com um parque industrial fantástico, então certamente teremos muitas demandas - destaca Graciolli.
Início modesto - A longo prazo, o TecnoUCS deve ajudar Caxias a formar outras matrizes econômicas, além da metalmecânica, acredita o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Emprego, Francisco Spiandorello. Embora admita que esse início do parque "pode ser considerado modesto", o titular da pasta avalia ainda que o essencial é fazer o projeto "andar":
- Estamos vivendo um marco na história, porque o parque era uma luta de muitos anos e agora ele começa a ser encaminhado.
Além de Caxias, o TecnoUCS também estará presente em algumas cidades da região que contam com unidades da universidade. Espaços de inovação estão sendo implantados em Bento Gonçalves, São Sebastião do Caí e Bom Princípio.
No Estado, os casos mais conhecidos de parques tecnológicos vinculados à instituições de ensino e que contam com apoio do poder público são o TecnoSinos e o TecnoPUC. A primeira iniciativa, ligada à Unisinos, engloba 75 empresas e gera mais de 6 mil empregos. A segunda, vinculada à PUC/RS, conta com 120 organizações e 6,3 mil postos de trabalho.
MODALIDADES
Projeto - Empresas apresentam à universidade alguma demanda na área de inovação. O projeto pode ser bancado pela companhia ou por financiamentos públicos, depende do caso. As atividades ocorrem na universidade e, às vezes, também na empresa.
Situação: essa modalidade é realizada na UCS há vários anos, mas deve ser potencializada a partir de agora. Atualmente, 206 projetos estão em andamento (representando o gerenciamento de cerca de R$ 65 milhões).
Locação - Empresas alugam um espaço na universidade para desenvolver algum programa envolvendo inovação. Ao contrário da modalidade projeto, o controle nesse caso é principalmente da empresa (as contratações de pessoal, por exemplo, são responsabilidade da companhia), embora o estudo também seja vinculado à universidade. A inclusão de novas empresas ocorre por meio de editais.
Situação: cerca de 15 empresas já estão inseridas nessa modalidade. A ideia agora é ampliar o número, já que novos espaços serão disponibilizados. É considerada ideal para as startups.
Condomínio - A universidade cede lotes para empresas se instalarem no parque tecnológico. São as próprias companhias que arcam com as despesas de construção e são responsáveis pela contratação de funcionários. A ideia é abrigar apenas departamentos de inovação e pesquisa das marcas (e não a área produtiva, por exemplo, pois iria ocupar muito espaço e não é o foco da iniciativa em Caxias).
Situação: a modalidade ainda não está em andamento, apenas a área está definida (será próxima ao Instituto de Biotecnologia e à Incubadora Tecnológica, no bairro Cruzeiro) e há um projeto de como deve ficar. A urbanização do terreno não foi realizada e não há previsão de início das obras.
"É um início, mas é só isso mesmo: um início"
Apesar de ressaltar que a inauguração do TecnoUCS é um "primeiro passo importante", o presidente do Trino Polo, Thiarlei Macedo, acredita que esse começo do projeto poderia ser mais produtivo para as empresas de tecnologia do que está sendo. O Trino Polo - Polo de Informática de Caxias reúne mais de 100 empresas:
- O trabalho de inovação independe das instalações físicas. O poder público muitas vezes vincula a expansão do projeto a espaços da UCS, que hoje são insuficientes, mas a maioria das empresas já têm sedes, não precisam de espaço. Hoje, a UCS tem excelentes pesquisadores, mas não aproveita esse potencial - avalia.
Macedo aponta ainda que esse primeiro momento das atividades do parque poderia ter contado com mais planejamento e atividades, como debates e reuniões com as instituições e entidades ligadas ao empreendedorismo:
- Se essa questão da competitividade das empresas não for encarada como prioridade, Caxias vai perder muitas empresas de tecnologia para outras regiões. Muita coisa precisa ser feita ainda. A inauguração é um início, mas é só isso mesmo: um início.