Trabalhadores e patrões da indústria caxiense, que já encaram um cenário de retração, flexibilização de jornada e demissões, passarão a conviver com mais um impasse nas próximas semanas: o dissídio da categoria. As negociações, que costumam ser intensas mesmo em tempos de economia em crescimento, prometem ser ainda mais acirradas em um ano que tem como pano de fundo uma retração acumulada de 13,3% no setor. Na última semana, o sindicato dos trabalhadores entregou a pauta de reivindicações para a entidade patronal e, nesta quinta, os empresários se reúnem para avaliar o documento.
O item que deve gerar mais debate, assim como em anos anteriores, é o índice de reajuste nos salários. O Sindicato dos Metalúrgicos defende que seja aprovado um aumento real para a categoria, ou seja, a reposição da inflação e mais algum adicional. Atualmente, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado em 12 meses, índice inflacionário que norteia o reajuste, está em 8,34%, mas pode sofrer leve alteração nas próximas semanas.
- A reposição da inflação nem deveria entrar em discussão, deveria ser automática. Os produtos vendidos e comprados pelas empresas já contam com esse reajuste, por que na hora de passar para o trabalhador isso tem que ser discutido? - questiona o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias e Região, Claudecir Monsani.
Já Getulio Fonseca, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), destaca que a reposição inflacionária não é obrigação dos empresários, principalmente em meio a um cenário de estoques altos e dificuldades em conseguir financiamento.
- Qualquer aumento de salário significa mais cortes de postos de trabalho, porque o empresário não tem mais onde compensar os gastos - alerta Fonseca.
Segundo o executivo, o setor acumula cerca de duas mil demissões neste ano e projeta outras sete ou oito mil até o final de 2015. Em setembro de 2013, mês em que o setor começou a desacelerar, as empresas metalmecânicas da cidade empregavam 55 mil pessoas e, hoje, conforme Fonseca, o número não passa de 43 mil. Por outro lado, Monsani frisa que algumas empresas e segmentos chegaram a crescer nos últimos tempos:
- O dissídio se refere a todo o setor, não somente as que baixaram de produção, e engloba os últimos 12 meses, não apenas 2015. Isso tem que ser levado em conta - acredita.
O dissídio da categoria tem como data-base dia 1º de junho. Uma nova reunião de negociação entre as duas partes deve ser agendada para junho. A pauta de reivindicações dos metalúrgicos conta mais de 70 cláusulas, confira algumas:
- Reajuste que repõe a inflação acrescida de um aumento real
- Transporte gratuito
- Regulamentação da norma de que câmeras de vídeo não podem ser utilizadas para vigiar a produção ou como ameaça aos trabalhadores
- Assegurar 10 minutos de pausa no trabalho a cada 2 horas para descanso
- Lanche para o trabalhador estudante
- Flexibilização de horário para trabalhador estudante
- Licença-maternidade de 180 dias em todas as empresas metalúrgicas
- Medidas para acabar de vez com o assédio moral e o assédio sexual nas empresas
- Implantação da Lei do Vale-cultura
- Garantir a aplicação da NR 12 para garantir a segurança dos trabalhadores