Uma construção do século 19 na Linha 80, em Farroupilha, que já foi vista no cinema em O Filme da Minha Vida (2017), de Selton Mello, e na televisão na série Decamerão: a Comédia do Sexo (2009), de Jorge Furtado, volta a servir à imaginação dos cinéfilos como locação de A Própria Carne, cujas filmagens se iniciaram há uma semana. O thriller de terror é coproduzido pelos criadores do site Jovem Nerd, Alexandre Ottoni e Deive Pazos, e por Ian SBF, conhecido por ser o criador do Porta dos Fundos, que é um dos roteiristas e também diretor do filme.
O longa tem como pano de fundo a Guerra do Paraguai, embora não seja um filme de guerra. Na trama, três soldados brasileiros desertores têm seu plano de fuga frustrado após terem de matar um superior. Em busca de um plano B para escapar da morte por fuzilamento, encontram, numa clareira em meio à floresta, uma casa que parece ser um local seguro. Porém, a casa habitada por um fazendeiro e uma jovem logo se mostra uma armadilha tão ou mais letal que o próprio conflito contra o exército de Solano López.
- O som da guerra está sempre presente como parte da história e os personagens vivem esta tensão permanente, como se a guerra fosse alcançá-los a qualquer momento nesta casa sinistra em que eles foram parar, mas logo eles irão descobrir que há motivos para que até mesmo a guerra se mantenha afastada dali - comenta Ian SBF.
O diretor ressalta também que a escolha pela Casa De Bona pela equipe de produção se mostrou certeira para a ambientação do longa, que se passa na fronteira do Brasil com a Argentina:
- Um dos nossos produtores já conhecia a casa e sugeriu que seria o local perfeito. Quando cheguei para conhecer tive a sensação surreal de que o casarão teria sido construído para o nosso roteiro. Tudo o que a gente queria para o filme, como estrutura, arquitetura da época, todo o visual no entorno, já estava aqui.
Ian comenta ainda a escolha proposital por rodar no Sul, porém com um elenco que fosse todo de outros estados (no caso, de São Paulo e Rio de Janeiro), a fim de reforçar a distância de casa como um ponto em comum entre as personagens:
- É um filme sem atores fazendo sotaque gaúcho (risos). A ideia é justamente mostrar que cada um dos personagens está distante de casa e percorreu um caminho até chegar àquele lugar, seja fugindo da guerra ou por outro motivo, e isso é muito importante para a história. Além disso, como é um elenco de poucos personagens, tivemos a sutileza de escolher cada ator e atriz não apenas pela sua qualidade, mas também pensando em como eles fariam sentido como grupo.
Uma aventura por um gênero pouco explorado
Com um elenco principal concentrado a cinco personagens, A Própria Carne traz o veterano ator e dublador Luiz Carlos Persy (Ribanceira e O Outro Lado da Rua) como o fazendeiro, o trio formado por Jorge Guerreiro (Pedaço de Mim e Justiça 2), Pierre Baitelli (Reality Z e Magnífica 70) e George Sauma (Minha Irmã e Eu e Mister Brau) como os soldados desertores, além de Jade Mascarenhas (Elas por Elas e As Five), como única atriz.
- Fazer um filme de locação é sempre um privilégio pro ator, porque nos permite ficar imerso, passando um tempo no lugar onde a história teria acontecido. É um projeto muito ousado, por trazer uma dramaturgia de terror, que é um gênero pouco explorado no nosso país, sem deixar de ser uma história e um filme muito brasileiros. Sem dar spoiler, posso dizer que o filme mostra que na guerra não existe outra saída que não seja a morte. Isso é reiterado o tempo todo na narrativa - destaca Jade.
Conhecido por ser locutor oficial do Canal Brasil e também por dublar uma interminável lista de personagens que vai de Don Vito Corleone (O Poderoso Chefão) a Voldemort (saga Harry Potter) e Gandalf (O Senhor dos Anéis), Luiz Carlos Persy se diz presenteado pelo convite que recebeu de Ian SBF para atuar.
- Foi meu presente de Natal antecipado sem proporções. Quando o Ian me fez o convite, eu perguntei se seria uma comédia, gênero que é o chão dele. Quando ele disse que era terror, eu perguntei novamente: é terror, ou "terrir"? Mas quando o Ian me mostrou o roteiro e qual seria o meu personagem, uma criatura tão rica de compor a fala, o andar, o olhar, o tornando crível mesmo no limite do caricato, foi um trabalho muito prazeroso. Especialmente porque, como dublador que sou há 24 anos, sempre parto da criação de alguém - conta.
Persy antecipa que A Própria Carne não é um filme de terror que aposta em cenas de sustos, mas sim numa atmosfera de tensão que vai crescendo conforme a história se desenrola:
- Nunca imaginei que o Ian, com toda sua história no humor, fosse capaz de fazer um filme que não arranca nem um sorrisinho sequer. É pressão o tempo todo, sem forçar nada. São situações limite, em que a qualquer momento algo inesperado pode acontecer. E é muito interessante a forma como estamos construindo esse clima enquanto elenco.
As filmagens em Farroupilha devem seguir até o próximo dia 26. A previsão de estreia é para o segundo semestre do ano que vem, nos cinemas.