Para quem frequenta a noite caxiense, o pagode tornou-se um dos ritmos bastante presentes em todo tipo de festa, dos bares tradicionais a baladas que não costumavam tocar esse tipo de música. E, apesar de muito comum hoje, a realidade nem sempre foi assim. A popularização do estilo musical na noite caxiense também pode ser explicada por uma necessidade de mercado. Afinal, os próprios músicos afirmam que, quando alguma casa de festas, bar ou balada estão em crise "chamam os pagodeiros".
Quem percebe esse cenário é o empresário Leonardo Santos, proprietário do Bar do Luizinho. Filho do fundador e que dá nome ao lugar, ele repaginou o espaço que, inicialmente, tinha rodas de samba num estilo mais raiz. Santos mudou o perfil do bar do pai depois de um trabalho de conclusão de curso da faculdade de Administração e transformou o Bar do Luizinho num dos maiores expoentes do samba e pagode da cidade, com temática de boteco carioca e música ao vivo.
— Eu sempre brinco com as bandas que tocam aqui no bar, que elas têm que se valorizar. Porque são discriminadas. Digo 'depois vocês são a solução. Tá em crise, chama o pagodeiro'. É sempre assim — revela.
Essa realidade se reflete em diversos bares e casas de festas de Caxias do Sul, que agregaram a noite do pagode ao repertório e conquistaram o público fiel e apaixonado pelo ritmo. São pubs, baladas e até mesmo eventos fechados, como casamentos e formaturas, que movimentam ainda mais a cena pagodeira.
— Hoje, tem lugares que fazem o pagode, mas não era a ideia a intenção deles. E aí quando não conseguem se manter no mercado, acabam apelando para esse ritmo. As pessoas não valorizam o profissional do pagode — desabafa o empresário.
Nascido das vertentes do samba raiz e, por muito tempo, marginalizado, o pagode hoje tem uma imagem diferente. Desde que o músico Iuri Silva, cavaquinista há 26 anos, e integrante da banda Sem Razão, percebeu que o espaço e as oportunidades mudaram:
— Da época que eu comecei a tocar na noite profissionalmente e até pelo conhecimento que eu tinha, da galera que veio antes de mim, o pagode era muito resumido aos clubes da cidade. Era algo mais de comunidade. Depois, veio uma época junto com internet e que o pagode entrou nas universidades e isso ajudou muito, porque as coisas começaram a melhorar e o pagode já era mais aceito nas casas noturnas — recorda.
É um tipo de música que te faz ter todas as sensações. Às vezes, basta só começar a tocar para unir todos no ambiente para cantar juntos.
Hoje, o músico vê que o gênero tem chegado aos lugares onde antes existia preconceito e que o público mudou, já que cada vez mais pessoas gostam e acompanham os artistas do pagode. Fato esse que Iuri atribui a bandas como Inimigos do HP e Jeito Moleque, que começaram o movimento de desbravar os novos ambientes.
— O pagode começou a estar em todos os lugares. Nosso telefone toca para nos apresentarmos em casamentos, em coisas mais elitizadas, o que não acontecia antes. O pagode já é uma coisa chique, que está em todos os lugares. Antigamente, era bem mais complicado — afirma.
Das origens à popularidade
Integrante do grupo Seresteiros do Luar há 13 anos, Luis Cesar Corrêa Borges, ou Tabajara do Cavaco, é uma figuras bem conhecida nas rodas de samba e no pagode na cidade. Mas a trajetória dele na música profissional começou no início dos anos 1980. Ele conta que, naquela época, diferente de hoje, os grupos de pagode ainda não eram tão populares, ou sequer existiam na região.
— Quem fundou a primeira banda de pagode em Caxias fui eu e uns amigos, éramos em seis em cima do palco, o grupo Raça Brasileira. Na época, só eu fazia cavaquinho, era só eu de corda e o resto todo percussão. A gente tocava na Avenida Itália, num bar chamado Acalantos. Foi lá onde tudo começou — relembra.
Depois, outros grupos também foram surgindo e o cavaquinista participou de boa parte deles, já que eram apenas ele e seu professor, Dominguinhos do Cavaco, os músicos que tocavam o instrumento.
— Teve o Alma Brasileira, depois o Afoxé, o grupo Malícia, Pérola Negra e Magia do Morro, que eu participei de uma forma ou de outra. Fui sempre eu no cavaco. Mas minha história musical vem de família, porque meu pai era músico e eu tocava com ele desde os 13 anos, no samba. Tocávamos em casamentos, aniversários... Na época, era só ele de pandeiro e eu de cavaco (na cidade). Minha fonte de inspiração para tocar cavaco foi o saudoso Dominguinhos do Cavaco — orgulha-se.
Mais tarde, nos anos 1980, com o padrinho na música Agenor Mendes, vocalista da banda do Garrafão, recebeu o convite para tocar na bateria de carnaval no Clube Recreio da Juventude, onde, por oito anos, animou carnavais e bailes na cidade.
— Naquela época não tinha tanto pagode, como Thiaguinho, Rodriguinho, Ferrugem.... Era mais o samba. Quando eu estou no papel de professor, sempre pergunto para meus alunos: 'quem nasceu primeiro? samba ou pagode? O samba!'. E naquela época, todo mundo dizia que samba era pagode, mas não é. Samba é aquela coisa que vem de raiz, lá de baixo, onde tudo começou, como nós começamos. O pagode veio surgindo depois — relembra.
Para ele, a diferença entre o samba e o pagode e o motivo de o pagode ser tão popular são as letras das músicas:
— O pagode em si tem letras que contagiam, ao contrário do samba, que tem uma letra que traz uma mensagem. O pagode contagia, é uma música mais animada.
Tem coisa melhor do que família, amigos, pagode, cerveja e churrasco? O pagode está no meu dia a dia, no carro, nos fones de ouvido do trabalho, na corrida, na caminhada... sempre trazendo uma vibe positiva.
Ainda na década de 1980, quando o pagode começou ganhar espaço na cena musical em Caxias de forma profissional, os lugares para ouvir o gênero ao vivo eram restritos. De acordo com o multi-instrumentista e atual presidente do Clube Gaúcho, Cleberton Ribeiro, o Bar Ponto Administrativo foi um dos primeiros locais a abrir as portas para o pagode. Além do bar, o Clube Guarany também era um dos lugares mais clássicos para quem quisesse curtir um show de pagode.
Mais tarde, já nos anos 1990, Ribeiro destaca que o Clube Reno e o Sesc também serviam de palco para os músicos. Os shows, de acordo com o músico, lotavam as casas e atraiam os apaixonados pelo estilo musical. Foi nessa época que surgia a Banda Intimidade, em que Cleberton tocava junto de Chiquinho, Mau Mau e Alemão do Cavaco. O sucesso nacional do pagode 90, com Molejo, Raça Negra e Negritude Jr, por exemplo, se refletiu em todos os cantos do país.
Pagode 90 e anos 2000: a era da popularidade
Já nos anos 2000, quando o sucesso da Intimidade aumentou em Caxias e grupos como o Exaltasamba, Sorriso Maroto, Revelação e Pixote fizeram sucesso em nível nacional, baladas como Cond D, Incitatus, It Club e Amadeus abriram as portas para o ritmo, que já conquistava mais fãs pela cidade. Na região, o panorama também era positivo, já que baladas em Bento Gonçalves, como o Lavalbone, e em Carlos Barbosa, o Eletric Circus, também chamavam bandas de pagode para shows.
Foi nessa crescente que Márcio Stecanella, conhecido como Alemão do Cavaco, entrou no universo do pagode. Ainda nos anos 1990, começou a aprender a tocar o instrumento com a família Ribeiro, de Cleberton e Dominguinhos do Cavaco, além de ter como referência Tabajara do Cavaco.
Hoje servidor público estadual e diretor do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Reolon, foi um dos pioneiros a gravar um CD de Carnaval em Caxias do Sul, no ano 2000, com as músicas mais tocadas na rádio, reproduzidas pelo grupo Intimidade. A ideia surgiu quando a banda percebeu que as pessoas iam para a rua com as escolas de samba e ninguém conhecia as músicas.
O grupo percorreu a noite caxiense com shows para mais de mil pessoas por evento. Diferente de hoje, como explica Alemão, nos anos 2000 os shows eram com estruturas específicas para o tipo de evento. Hoje, ele vê que o pagode conquistou novos espaços, mas que o formato é outro:
— Nós tocávamos de quinta a domingo em casas de show. Hoje não é mais assim. A pessoa vai num pub com música ao vivo. Na nossa época, tínhamos que vender ingresso, colar cartaz, nosso meio de divulgação era o jornal. Nós tocávamos em clubes, como o Reno, Roda, Recreio da Juventude, Juvenil...
Hoje, o cavaquinista toca apenas em evento fechados, em função do trabalho. No entanto, nos 30 anos de carreira, integrou bandas, abriu shows nacionais e marcou a cena do pagode.
— Nós tivemos uma geração antes, aqui em Caxias. E então começou a época do Raça Negra, do Só Pra Contrariar, do Grupo Molejo.... Foi nessa época que eu entrei. Eu me vejo em uma terceira geração do pagode em Caxias. O pagode 90 foi um estouro, tanto que faz sucesso até hoje. Pulando pros anos 2000, surgiu o Sorriso Maroto e outros grupos, que é o que essa gurizada toca hoje nos pubs e bares — conta.
Conquistando novos espaços e novos públicos
Quando ainda tocava no Grupo Intimidade, Alemão foi professor de cavaco de "quase todo mundo que toca hoje em dia". Um dos alunos, Iuri Silva, o conheceu numa apresentação no salão Roda Viva. Lá, Iuri, acompanhado da irmã, assistiu ao show e, depois, pediu para ganhar a palheta do músico.
— Eu desci do palco e fui pro camarim, ele estava lá. Disse que era meu fã e começou a estudar comigo, na época. Hoje ele toca no Sem Razão e é talentoso para caramba — define Alemão.
Iuri, que toca no Sem Razão e sempre tem agenda lotada, considera o público, hoje em dia, muito mais amplo em relação ao das gerações que o antecederam.
— Ainda tem uma separação da galera do pagode 90, que não é a mesma galera do pagode mais moderno. Eu acredito que a gente está numa transição também, porque esses grupos novos que estão surgindo dentro desse meio têm regravado muito pagode antigo, então está trazendo muita popularidade. A gente vê uma galera mais nova, de 20 a 22 anos cantando pagou de 90. É um público que que vem se moldando. Mas o pagode, hoje, está em todos os lugares, eu até sinto falta de tocar para aquele público mais o pagodeiro, hoje a gente não passeia mais tanto pelas comunidades e esses pagodes — observa Iuri.
Sobre a popularização do ritmo, Iuri atribui a uma mudança de pensamento da sociedade, de forma geral. Ele conta que antes, dividia-se muito o "pagode dos pretos" e o "pagode dos brancos", mas, que hoje, o gênero une todas as cores, classes e gostos.
— Ainda existem pessoas que reclamam de botar pagode em festa, mas caiu muito por terra com o passar do tempo. Hoje está tudo meio misturado. Antes era muito marginalizado, não tem como a gente dizer que não. A gente ia para os pagodes e era, realmente, uma coisa de periferia — relembra.
A mudança reflete no público e também nos lugares onde o estilo chegou em Caxias do Sul. Com o Sem Razão, já conquistou uma balada que, originalmente, nasceu com a premissa da música eletrônica. Hoje, é um dos pagodes clássicos nos domingos em Caxias:
— Quando nós começamos a tocar no Bot Bar, que era uma casa de música eletrônica, os donos eram super relutantes. Hoje, o pagode virou o carro-chefe deles. O grande público está indo nos pagodes. Hoje, aos domingos, em Caxias do Sul, nós temos vários eventos de pagode, numa cidade que tem uma cultura de trabalho, de acordar cedo na segunda-feira. Cresceu muito hoje, graças ao bom Deus, o pagode é bem visto hoje — comemora.
Além do amor, um trabalho
Hoje, o Sem Razão, grupo em que Iuri toca cavaco, junto de Vinicius Pauletti, Darlisson César e Gregory Teles, é um negócio que vai além da paixão do quarteto. Comandados por Gregory, que é também o vocalista do grupo, o sucesso da banda pode ser explicado pela forma com que o trabalho é tratado. Para alcançar a relevância, os fãs e o respeito da comunidade da região, a música virou empreendimento. Gregory conta que, desde o início do grupo, entendeu que se quisesse viver da música, precisaria ir além de apenas tocar e cantar bem:
—Eu sempre fui o dono da banda, o cara que vende, que fecha shows e faz logística... Isso é muito difícil, porque era difícil para mim colocar o pagode, a banda e a música como uma coisa de credibilidade perante quem estava contratando e, também, para a sociedade. A gente sofreu no início.
Atualmente, o Sem Razão circula pelos principais bares e baladas de Caxias. Desde o Bot Bar, onde faz a festa Me Leva, todos os domingos, até o Bar do Luizinho, ponto tradicional do samba e pagode em Caxias, onde toca duas vezes por semana. A sincronia foi tanta que, agora, Gregory também é sócio de Leonardo, dono do bar, em outro empreendimento, o Bodega Del Toro.
As noites de sexta e sábado já tem lugar marcado: Bar do Luizinho, aquele bar raiz de copo de boteco, de cerveja de litrão, de gente simples e feliz, regado a um bom pagode, com as minhas melhores amigas, com quem eu danço, canto e choro.
Para chegar no público que ainda não é fã do pagode, Gregory se inspirou em projetos de artistas nacionais, como Thiaguinho, com o show Tardezinha. O Sem Razão criou o Me Leva, que, desde 2018, procura chegar a lugares onde o pagode ainda não é a atração principal. Em Caxias, já tocaram nas casas Bulls (sertanejo), 877 Irish Pub (rock) e Bot Bar (eletrônico).
— Eu não coloco menos de 500 pessoas nos domingos. O Me Leva é muito procurado e isso vem muito da forma que você trabalha e que empreende. Sempre tem público. O público muda muito, é muito dinâmico. Tem que estar sempre trabalhando muito. Por exemplo, hoje tem uma pessoa que vai no pagode com amigas. Daqui a pouco, ela namora, não sai mais. Aí engravida e não sai mais. O pessoal ativo, que vai para noite no pagode muda muito — explica.
Por essa visão empresarial da música, o vocalista do Sem Razão acredita que teve portas abertas ao mostrar que não era apenas uma atração musical, mas um projeto com identidade, organização e com poder de lotar os locais onde se propunham a tocar.
— Eu penso que eu tenho que dar resultado quando me contratam. Foi um tabu que foi quebrado. Chegando lá, não é só tocar. Tem que ter uma boa apresentação, o pessoal organizado. Temos várias regras, que transformaram a gente numa banda de respeito — avalia.
Ritmo democrático
— Não conheço outro lugar que sobreviva só de samba e pagode. As casas normalmente fazem pagode num dia, sertanejo no outro, rock... Eu acho que a gente até pode se considerar já tradicional, né? Com o passar dos anos, ainda conseguimos manter um movimento, mas não é nada fácil também, né? — define Leonardo Santos, proprietário do Bar do Luizinho.
Manter essa identidade, mesmo com a fidelidade do público pagodeiro, não é fácil para quem empreende com o pagode na essência desde o princípio. Mas é com o estilo musical como carro-chefe que o empresário conquista público variado todas as quintas, sextas e sábados no bar. Para Leonardo, junto do samba, o pagode é o gênero mais democrático, que tem o poder de unir os mais diversos públicos.
— São os ritmos mais democráticos, em que a gente consegue unir o rico, o pobre, o branco e o preto. Eu percebo muito isso aqui no bar. Tem gente de tudo que é tipo e a gente trata todo mundo igual. Não tem preconceito nenhum, então todo mundo se sente em casa — orgulha-se.
Fui apresentada ao universo do Luizinho por uma amiga e me encantei com a energia contagiante das pessoas cantando e dançando. Desde então, passei a apreciar ainda mais esses momentos, especialmente quando compartilhados com minhas amigas
Por ser um ritmo democrático e manter fãs fiéis, o empresário reconhece que mesmo aqueles frequentadores mais "das antigas", que iam ao bar antes da reforma, continuam frequentando e prestigiando as bandas que tocam por lá.
— Se a gente puxar as fotos de quando a gente deu essa virada, 12 anos atrás quando fez a reforma do bar, é bem legal, porque a gente vê as mesmas pessoas ainda vindo. Então, além de vir pessoas novas, vem muita gente que é desde aquele tempo. O público é fiel mesmo — celebra.
Pagode por demanda do público
Mesmo as festas e bares que não nasceram com a vocação do pagode perceberam que o público também gosta de uma, ou mais, noites com o estilo. Foi assim com o Tannat Wine Bar, gastropub que tem como proposta ser um estabelecimento focado em vinhos. A partir de uma proposta do grupo Hoje Tem, os sócios Alessandro Beltrami e Jonatan Bittencourt começaram a ocupar as quartas-feiras, um dia de menos movimento no bar, com a noite do pagode.
Com essa novidade, os sócios contam que conquistaram um público diferente, que buscava o ambiente, gastronomia e bebida alcóolica de alto padrão junto do pagode ao vivo. Assim, criaram o Quartô. A noite do pagode no restaurante, que nos demais dias, investe em outros gêneros e mantem o estilo eclético, para agradar o público que já frequentava a casa.
— Nós tínhamos um dia que era pouco movimentado, que nós tínhamos que trazer uma solução. Nós somos da época que o La Barra e o Havana (antigas baladas em Caxias) e eles tinham o pagode na quarta. Nós pensamos "e se nós pegarmos a quarta, que não tinha ninguém?". Junto com isso, uma banda veio com uma proposta mais ou menos parecida e nós pegamos o projeto juntos na época. Ele continua na quarta, mas mudou, agora o projeto é só nosso — explica Jonatan.
Com o pagode nas quartas-feiras, o restaurante viu o faturamento e a clientela aumentar. Além disso, os sócios contam que o público da quarta-feira e dos demais dias é distinto, mas que, com essa fórmula de cada dia agregar um ritmo, conseguem agradar mais pessoas:
— A gente atraiu muitos clientes para quarta e perdeu alguns clientes do outro dia. O público da quarta é bem diferente dos outros dias, um perfil mais de festa, consome menos comida e mais bebida. A gente precisava, também, atender uma demanda do nosso cliente, que era de um dia mais agitado, porque o pessoal gosta do ambiente aqui. Juntamos essas duas demandas: a nossa e do cliente — explica.
Levar o pagode para lugares em que ele não estaria
Quem convive no meio da música consegue, melhor do que ninguém, perceber as mudanças com o passar do tempo, seja no público, no próprio ritmo ou até mesmo na maneira como as bandas tratam o trabalho como um negócio. E assim, adaptar e mudar apresentações, performance e modelo de negócio para continuar em evidência na cena do pagode.
Com 20 anos de trajetória no pagode, Ricardo Calcagnotto, ou Rika, como é conhecido no meio, fez parte do antigo grupo Constelação, que fez bastante sucesso em Caxias do Sul inclusive com lançamentos autorais. O músico segue atuando com a banda Hoje Tem, que iniciou as quartas-feiras de pagode no Tannat Wine Bar. Para ele, o espaço para o pagode na região tem sido cada vez maior e agregado mais público.
Agradeço ao pagode por me proporcionar tantos momentos alegres, quando reunimos a minha turma sempre vamos para um pagode. É lá que choramos, rimos, bebemos e cantamos com emoção
— Lá em 2005, as bandas que tocavam faziam muito cover. Então, a gente fazia com que as músicas chegassem até o público por intermédio nosso. As bandas vieram progredindo e fazendo seus próprios materiais. Tem diversos estilos para as bandas e diversos nichos, assim como uma empresa. Então, desde lá, a gente já veio com uma visão de que a gente toca para atingir quem não gosta de pagode. A gente sempre teve esse propósito: de levar o pagode onde não teria espaço, onde ele nunca entraria — revela.
É por isso, segundo Rika, é que o grupo Costelação, até 2015, e o Hoje Tem, atualmente, sigam fazendo sucesso. Além de ter um propósito, as bandas sempre foram tratadas como empresas, com público-alvo e projetos bem definidos. O Hoje Tem, por exemplo, organiza três eventos distintos, com públicos-alvo diferentes. O Samba Wine nasceu com o objetivo de unir o pagode e samba ao vinho, para o público frequentador de vinícolas e wine bars. Já o Pé na Areia tem o objetivo de levar ao público caxiense o ambiente praiano e de verão. Para isso, o grupo organiza apresentações, durante a tarde, em quadras de areia. No Pé na Areia, o público-alvo são famílias com crianças. O projeto mais recente é o Samba no Pátio, que ocorre no Pátio da Estação, e que quer levar o pagode para um local em que ele, normalmente, não seria atração.
— Aqui em Caxias do Sul, quando a gente começou a ver esse movimento nacional de artistas como Ludmilla, com o Numanice, e Thiaguinho, com o Tardezinha, a gente também foi fazendo. E outras bandas também se atentaram para isso e fazem esse mesmo movimento. São projetos que caracterizam e criam uma identidade da banda. Nós colocamos o projeto dentro das casas, o contrário do que o contratante nos chamar. Tem valor agregado com o show — completa Rika.