Há quem tenha perdido a esperança. Mas o futuro ainda passa por uma sala de aula. O caminho para o futuro ainda atravessa a educação, seja pela via formal, na interação entre alunos e professores ministrando Língua Portuguesa, Matemática, História, Ciências e por aí vai. E também na via informal, em propostas, geralmente no turno inverso das escolas, em que os sonhos são potencializados por meio de propostas lúdicas e pedagógicas. Ainda assim, a concretização desse futuro depende da assimilação dessas iniciativas, transformando o conteúdo em ações.
Para ajudar nesse processo é que existem projetos como a Escola Marcopolo de Criatividade, que servem de inspiração para além da juventude, porque essas ações contribuem para alicerçar o caminho, sensibilizar o sentido dessa jornada e ensinam essa gurizada a valorizar cada etapa do percurso.
É comum pensar que as ciências exatas e computacionais não envolvem criatividade e liberdade, e muito pelo contrário, quando os estudantes têm contato com o pensamento computacional eles estão também sendo estimulados nessas áreas do conhecimento".
LETICIA PIGOSSO
Professora de Pensamento Computacional
O lançamento oficial desse projeto ocorreu ao longo da última semana, quando foram apresentados os resultados da primeira etapa, iniciada em agosto. Nesse período, 367 jovens, entre 12 e 16 anos, se envolveram em atividades multidisciplinares, atravessando linhas do pensamento entre a ilustração, passando pelo cinema, artesanato e moda e até empreendedorismo. Sem perder de vista, é claro, o reforço escolar, sobretudo em Língua Portuguesa e Matemática.
Para 2023, a meta do coordenador da Fundação Marcopolo, Luciano Balen, é que a Escola de Criatividade possa se estender para cerca de 800 jovens.
— Meu sonho é mil alunos e vamos chegar lá – diz Balen, apostando na gradual ampliação das ações da Escola, que é fruto de outro programa da Marcopolo, o Projeto Escolas, criado em 2003, que já investiu R$ 800 mil em auxílio à escolas municipais de Caxias do Sul e será ampliado em 2023 ao passar de 1,5 mil alunos atendidos para 2,5 mil estudantes.
— Neste ano contemplamos duas escolas e para o ano que vem vamos ampliar para cinco escolas — complementa Balen.
Durante a entrevista, concedida entre duas das casas que integram o projeto, em uma área paralela à sede da Marcopolo, em Ana Rech, Balen explicou como o investimento em educação de fato pode transformar não apenas a vida desses jovens, bem como do território em que eles vivem.
— A Escola Tancredo Neves (no bairro Belo Horizonte) é um bom exemplo da atuação do Projeto Escolas. No começo do ano, houveram cinco ocorrências de violência no entorno da escola. Então entramos também no projeto com suporte psicológico, dando apoio por tudo que eles assistem, convivem e sofrem. De lá pra cá conseguimos reduzir a zero as ocorrências de violência. O que estamos fazendo, para o ano que vem, vamos manter o projeto na Tancredo Neves e ainda vamos para a Rubem Bento Alves que é uma escola que fica um pouco mais adiante. Então ao invés de ter só aquela área segura, vamos tentar fazer uma espécie de corredor, da educação e cultura, pra realmente promovermos uma transformação naquele território — enfatiza.
Para 2023, Balen revela que a Fundação vai contemplar, por meio do Projeto Escolas, a Senador Teotônio Vilela e vai apoiar as escolas Armindo Mário Turra, Presidente Tancredo de Almeida Neves, Rubem Bento Alves e Vitório Rech Segundo. Cada uma dessas instituições de ensino está apta a integrar as atividade da Escola Marcopolo de Criatividade. As vagas são assim distribuídas, 60% para filhos de colaboradores e os 40% restantes para alunos dessas escolas selecionadas por meio do Projeto Escolas.
A vida por meio da poesia
Durante a última semana, o projeto foi apresentado para a imprensa, para líderes de entidades que trabalham com educação e cultura, até mesmo a vice-prefeita, Paula Ioris, e a secretária da Cultura, Aline Zilli, estiveram por lá. Mas um dos pontos altos desse período foi a visita dos pais, que puderam conhecer a estrutura da Escola de Criatividade e também compreender como funcionam as oficinas e saber, em primeira mão, quais são os planos para o próximo ano.
"A criatividade permite que os jovens desenvolvam um olhar mais abrangente sobre sua realidade, onde as possibilidades estão em toda a parte".
GIOVANA MAZZOCHI E DOUGLAS TRANCOSO
professores de Artes
Entre as ações, já colocadas em prática nesta semana, e que vão fazer parte das atividades em 2023, está uma série de palestras com personalidades, artistas, empreendedores, cientistas e tudo mais que a criatividade permitir. Uma das palestras, que ocorreu na última terça-feira, foi com o jornalista e escritor Dinarte Albuquerque Filho. Aos alunos da escola Armindo Mário Turra o escritor fez um passeio por suas obras, buscando um diálogo por meio de seus versos e suas vivências, despertando a curiosidade da gurizada, que ao final fez fila por um autógrafo. A tempestade é metáfora, livro mais recente do Dinarte, é a quarta obra individual da carreira do escritor e foi viabilizado por meio da Fundação Marcopolo.
Essa iniciativa está alinhada com a proposta da Escola, como explica Balen:
— Criatividade é fruto de muito exercício. Essa escola é para ampliação de repertório. Nasceu para a juventude se dar conta do seu papel de cidadão e a forma que encontramos pra isso acontecer é com a ampliação de repertório. Uma menina outro dia me disse, ao fazer uma atividade, “eu tô errando”. E eu disse pra ela: “aqui é o lugar pra errar, não tem problema errar”. Porque queremos que eles tenham confiança em si mesmos.
Ampliação de repertório
Ao mesmo tempo em que estava ocorrendo a palestra com o poeta Dinarte Albuquerque Filho, ao lado da casa laranja e nos fundos da casa cinza, os alunos da oficina de cinema estavam finalizando a produção de um documentário. Os jovens, ao mesmo tempo em que estavam diante da câmera, falando dos seus sonhos, projetando o futuro ao discorrerem sobre suas intenções profissionais, estavam nos bastidores, se intercalando nas mais variadas funções de um filme.
"Criatividade não é algo que captura dando orientações pontuais sobre o que fazer. É mostrar o caminho e permitir que os alunos encontrem suas respostas e meios de chegar a este caminho".
ALVARO EBENEZER DREHER
professor de Matemática
Através da lente da câmera, como uma metáfora da vida, cada um deles se projeta. Mesmo que não se tornem cineastas no futuro, todos contaram que passaram a assistir filmes de uma forma totalmente diferente, porque agora sabem o trabalho que dá realizar uma produção audiovisual. Sob orientação de Breno Dalas e Saimon Cesar, que são realizadores audiovisuais, os alunos aprenderam um pouco sobre a história do cinema como uma forma de introduzir os jovens ao universo da sétima arte, contribuindo para a formação de repertório, que no final das contas, é o grande vetor da criatividade.
Aliás, já que o assunto é criatividade, o professor de Matemática Alvaro Ebenezer Dreher tem uma bela definição, que também ajuda a entender que tipo de escola é essa que vem sendo formatada na Fundação Marcopolo.
— Criatividade não é algo que se captura dando orientações pontuais sobre o que fazer. É mostrar o caminho e permitir que os alunos encontrem suas respostas e meios de chegar a este caminho.
Esse mesmo caminho, observado pelo Alvaro, é compartilhado pelos multiartistas Giovana Mazzochi e Douglas Trancoso, mais conhecidos como Gio e Doug.
— A criatividade permite que os jovens desenvolvam um olhar mais abrangente sobre sua realidade, em que as possibilidades estão em toda a parte. Tudo se transforma aos olhos de uma pessoa criativa, e isso pode prospectar um futuro onde eles vão utilizar a criatividade para resolver os seus problemas de forma mais leve e assertiva.
Prospectar o futuro
Uma das alunas da oficina de cinema e que também esteve atrás e diante das câmeras durante os 20 encontros de duas horas cada, é a Vitória Giovanaz, 16 anos, acadêmica do 1º ano do Ensino Médio, do Instituto Federal. No intervalo, bem na hora do lanche, que ocorre entre 10h e 10h15min, a Vitória recebeu o pai, Vítor Giovanaz, 56, que trabalha há 32 anos na Marcopolo e, atualmente, é controlador de produção na empresa.
— Eu ainda não conhecia aqui esse espaço — disse Vítor, enquanto vislumbrava a sequência de casas onde são realizadas as oficinas.
De certa forma, a presença da sua filha na Escola de Criatividade faz com que o Vítor seja uma propaganda do projeto na fábrica.
— Muitos colegas já me perguntaram como que os filhos deles podem participar. Mas eu disse pra eles que tem de aguardar que a empresa vai avisar quando abrirem novamente as inscrições.
"O teatro auxilia na comunicação, na noção de coletivo, no trabalho em grupo e no desenvolvimento de um senso crítico que certamente será uma valiosa bagagem a se levar para a vida, indiferente da área de atuação que o adolescente quiser trilhar".
ODELTA SIMONETTI
professora de teatro
Vitória inscreveu-se em três oficinas: culinária, teatro e artesanato. Mas como a oficina de teatro não tinha disponibilidade pela manhã, turno em que ela participa da Escola de Criatividade, ela resolveu se inscrever em cinema.
— Gostei muito das oficinas de cinema e artesanato. No início eu tinha me inscrito mais pra ter alguma atividade e não passar muito tempo em casa. Mas me surpreendi muito, porque aprendi muitas coisas diferentes. Realmente é muito diferente ver um filme agora depois de ter participado dessa oficina. Porque tu consegue entender melhor o que está por detrás da cena. Eu teria interesse em continuar estudando cinema no ano que vem — diz Vitória.
Ao término do primeiro módulo, iniciado em agosto, o pai já virou fã do projeto:
— É uma alegria pra mim ver que a empresa onde eu trabalho está fazendo esse tipo de atividade.
Como participar
Estão aptos a participar da Escola Marcopolo de Criatividade, em 2023, os alunos das escolas Senador Teotônio Vilela, Armindo Mário Turra, Presidente Tancredo de Almeida Neves, Rubem Bento Alves e Vitório Rech Segundo.
Lembrando que 60% das vagas estão reservadas para filhos de colaboradores da Marcopolo e, os demais 40%, para alunos desses escolas citadas acima. As inscrições são feitas diretamente na Marcopolo e nas escolas selecionadas para o projeto.
Atividades
Os jovens participantes da Escola Marcopolo de Criatividade têm acesso a cursos, oficinas e laboratórios a seguir, além de aulas de reforço escolas das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática.
- Culinária
- Teatro
- Pensamento Computacional
- Desenho
- Empreendedorismo
- Ilustração e Criatividade
- Criação de Personagens Autônomos
- Artesanato
- Eco Esculturas Criativas
- Stop Motion
- Personagens Animados
- Cinema