Reconfortante. Foi assim que Débora, 27 anos, descreveu o que sentiu enquanto olhava as telas expostas na entrada da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Caxias do Sul. A jovem foi até a delegacia, na Rua Dr. Montaury, no Palácio da Polícia, nesta sexta-feira (25) para registrar uma ocorrência. Lá, encontrou um cenário diferente do habitual: quatro quadros pintados onde aparecem mulheres cheias de vida, que dão alegria ao espaço.
— É um momento difícil e me senti acolhida ao entrar e ver as pinturas. Olhar para elas passa força e ao mesmo tempo me deixa mais confortável para fazer o que preciso — conta ela.
Outra jovem de 25 anos que estava na Delegacia para prestar depoimento também contemplava atentamente as telas:
— Mudou o ambiente, o ar da delegacia. Me sinto mais confortável. Vim depôr para uma amiga vítima de violência. Nunca é fácil passar por isso — contou Luciane.
Artista se inspira no Sagrado Feminino
A exposição Deusas, Fadas e Bruxas da artista Lisiane Salgado, 46 anos, de Flores da Cunha, segue na delegacia até 10 de abril. Ela é formada em Artes Visuais pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Depois de dez anos em sala de aula decidiu abrir um ateliê. No Atelier Bonjour ela ensina crianças e adolescentes a pintar. Na Deam estão expostos 11 quadros que retratam mulheres. Entre eles, há dois auto-retratos.
— Deusas Fadas e Bruxas é a escolha perfeita porque em cada momento da vida somos um pouco de uma. Pinto fotografias, as telas são releituras de mulheres que me inspiram pela força, pela beleza, pela intensidade. O que me dá prazer de pintar é o sagrado feminino.
A ideia de montar a exposição na delegacia foi para que as mulheres que estão encarando momentos tão difíceis se sintam mais a vontade.
— Quando tu olha para um quadro, tu esquece um pouco o que está te afligindo. A vida tem momentos bons e ruins. A arte tem que tocar as pessoas e aqui ela pode trazer esse sentimento de acolhida, de abraçar em meio a dor.
A artista já pensa em fazer uma nova exposição no ano que vem. Além disso, adianta que está em produção um quadro que dará de presente para a delegacia para que fique exposto.
—Estou pintando. Tem que ser uma pintura especial, forte e ao mesmo tempo aconchegante. Quando eu olho para a mulher é isso que eu vejo: amor, carinho, força, é uma turbulência, e toda essa emoção tem que ser retratada —descreve ela, enquanto contempla uma das telas em que os cabelos de uma mulher flutuam.
A titular da Deam, delegada Aline Martinelli, ressalta que as pinturas tocam o coração, não apenas das mulheres que buscam ajuda, mas também dos policiais e das policiais que atuam na delegacia.
— A delegacia se torna um espaço de lágrimas. É onde as mulheres expõem situações muitos complicadas e também onde buscam respostas para as dúvidas e os problemas que estão enfrentando. A exposição deixou o ambiente mais acolhedor e humanizado e traz alegria e esperança para um ambiente que tem o estereótipo de ser um espaço de tristeza. Pode ser um recomeço também — acredita ela.