A exposição Kunhun, Gá, Jykre, em cartaz no Centro de Cultura Ordovás, em Caxias, possui curadoria de dois caxienses: Guilherme Maffei Brandalise, mestrando em História; e Iury Fontes dos Passos, graduando em História, ambos pela UFRGS. A dupla estava interessada em pesquisar mais sobre a cultura indígena na Serra e acabou entrando em contato com membros da aldeia Kaingang Konhún Mág, em Canela. Lá, buscaram entender a conexão dos indígenas com a terra, com a memória e com a cultura, questões que norteiam a exposição. As várias visitas à aldeia, acompanhadas de outros colegas, renderam os registros fotográficos que compõem a mostra, disponível para visitação até o dia 8 de agosto. Nesta sexta, às 16h, uma live conduzida pela dupla vai falar mais sobre a situação dos Kaingang em Canela, e contará com a presença do cacique Maurício Salvador, um parceiro importante neste projeto.
— As fotos apresentam a relação deles com o território, com a floresta, a importância das pessoas mais velhas na comunidade, a feitura de artesanato. São alguns momentos mais cotidianos, outros excepcionais, como a foto que registra uma visita ao "pinheiro grosso", árvore que dizem ser bicentenária em Canela. Para eles, a araucária é também uma questão muito importante, que se relaciona com a memória, com a ancestralidade — descreve Brandalise.
A ancestralidade, aliás, se soma ao conceito macro da retomada, muito presente nas pesquisas dos historiadores caxienses e também nos anseios dos povos indígenas contemporâneos. No caso dos Kaingang da Serra, uma das principais lutas é justamente para ter o direito de permanecer na Floresta Nacional de Canela (Flona).
— Eles (indígenas) têm essa visão de que a retomada não é só retornar a um território de onde os antepassados foram expulsos. Ela é tanto do território quanto também é de costumes, de valores tradicionais que se perderam. O Mauricio (cacique) pensa muito nos filhos e nos netos dele, no sentido de deixar um legado para que a cultura não se perca, não morra — aponta Brandalise, que também está preparando um documentário sobre os Kaingang de Canela, com recursos da lei Aldir Blanc, e previsão de lançamento ainda neste ano.
A questão da conexão com a terra passa por pautas bem atuais, como o chamado Marco Temporal — ação que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF), defendida por ruralistas, que prevê que povos indígenas só podem reivindicar terras onde já estavam desde outubro de 1988, promulgação da atual Constituição Federal. No âmbito local, há também muitos fatores que conectam a luta pelo direito à terra com narrativas históricas e de valorização à memória. Um personagem importante na história dos Kaingangs de Canela é o cacique João Grande, figura para o qual Brandalise tem dedicado suas pesquisas de mestrado:
— Ele está presente em alguns documentos, como um cacique que resistiu à ocupação de seu território, ele tinha uma postura de resistência lá por 1850. Estou tentando preencher um pouco esse vazio, esse silêncio sobre esse cacique. Chega a ser uma demanda dos próprios indígenas, que querem que esse antepassado deles, que lutou pela terra assim como eles estão fazendo hoje, seja lembrado.
Programe-se
- O quê: live com os curadores da exposição "Kunhun, Gá, Jykre" e com o cacique da aldeia Kaingang Konhún Mág, em Canela, Maurício Salvador.
- Quando: nesta sexta (30), às 16h.
- Onde: O link da plataforma GoogleMeet será encaminhado aos que se inscreverem pelo UAV DIGITAL.
- Quanto: participação gratuita.
- Exposição: em cartaz no Centro de Cultura Ordovás, em Caxias, até o dia 8 de agosto. A visitação também pode ser realizada virtualmente pelo UAV Digital.