Mesmo se você tiver forte conexão com o universo das artes em Caxias, é possível que nunca tenha ouvido falar de Alfredo Bedin. Ele morreu em 2000, deixando guardado em casa um acervo com mais de cinco mil obras (muitas delas pintadas na frente e no verso). Uma exposição com abertura marcada para esta sexta (16), na Galeria de Arte do Centro de Cultura Ordovás, pretende justamente compartilhar o legado artístico de Bedin com a comunidade onde, por muitos, ele era conhecido somente como o “Bedin do armazém”, por conta da profissão paralela que exercia no empreendimento da família.
A mostra Alfredo Bedin: Entre o exercício e o ofício da arte é resultado de um projeto de resgate encabeçado pela própria família do artista, que pretende valorizar sua memória e organizar o legado deixado por meio de suas obras. A professora de Artes e pesquisadora Silvana Boone conta que teve contato com Fernando Bedin, filho de Alfredo, há cerca de três anos. Desde então, ela vem acompanhando as diferentes etapas do processo, que consistiram na aprovação de um projeto por meio da Lei de Incentivo à Cultura, na catalogação do acervo realizada pela também artista Jane De Bhoni, e na escolha das obras para compor a exposição que será aberta nesta sexta. Como curadora, Silvana selecionou 30 trabalhos que, além de mostrarem a diversidade de linguagens com as quais o artista flertava – desenho, pintura e monotipia, principalmente – também acenam para os caminhos de aprendizado que ele trilhou em cinco décadas de produção. Telas consideradas mais como exercícios e não como obras finais foram incluídas na mostra com o intuito de valorizar os processos do artista.
– Tem um trabalho, pintado frente e verso, que fiz questão de escolher. De um lado, há uma releitura de Rembrandt, do outro uma monotipia com a mesma imagem. Didaticamente falando, funciona para mostrar os processos e, como essa exposição vai para o Campus 8 em março do ano que vem, a ideia é também mostrar aos estudantes parte do caminho de quem está buscando, construindo uma imagem partindo de outras referências – diz Silvana.
Mesmo sem colocar a data na maior parte de suas obras, Bedin ditava por meio de suas técnicas diferentes momentos vividos em busca de uma “voz” autoral. A curadora explica que, nesse sentido, a mostra também incluiu trabalhos que sugerem uma originalidade despretensiosa.
– Nos exercícios que foram destacados na exposição, ele mistura tinta a óleo, com giz, com caneta esferográfica, porque está despreocupado com o resultado final. E aí tem uma riqueza de elementos justamente porque não havia um compromisso em tornar aquilo algo visto. Mas, na verdade, os exercícios dele são quase mais ricos do que algumas obras finalizadas – aponta Silvana.
Em vida, Bedin chegou a participar de mais de 10 exposições coletivas e a conquistar o segundo lugar no I Salão de Belas Artes de Caxias do Sul, que teve Di Cavalcanti como um dos membros do júri, em 1961. Apesar disso, o nome do artista não chegou a ganhar o prestígio que o rico acervo deixado por ele parece sugerir. Desta forma, a exposição também carrega o intuito de celebrar os muitos profissionais que, como Bedin, dedicam anos de sua história na aventura pelas linguagens artísticas, mas que acabam deixando seus legados presos somente a memórias de família.
– A exposição é de suma importância porque é a ligação entre o artista, sua arte e a comunidade. A arte traduz o reflexo da cultura de um povo e a exposição é o canal mais direto para levar essa visão à comunidade. Meu pai teve poucas oportunidades de expor seu trabalho, portanto, essa mostra se torna um meio de divulgar e enaltecer o trabalho que ele desenvolveu em vida – diz Fernando Bedin, filho de Alfredo e um dos idealizadores da catalogação e exposição do acervo.
Programe-se
- O quê: exposição Alfredo Bedin: Entre o exercício e o ofício da arte.
- Quando: abertura nesta sexta (16) e visitação até o dia 8 de agosto.
- Onde: Galeria de Arte do Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
- Quanto: entrada franca.