Há mais de três décadas atuando ou produzindo na cena teatral caxiense, Jorge Valmini se diz amante à moda antiga da dramaturgia. Por considerar que a essência desta arte está no encontro – seja do elenco para preparar uma peça ou com o público na execução do espetáculo –, experimentar formatos híbridos na internet não o atraem. Durante a pandemia, chegou a experimentar fazer duas lives, mas que basicamente fizeram aumentar a frustração de não estar nas ruas, praças e parques, locais onde mais gosta de fazer teatro. Enquanto o próximo espetáculo não puder estrear, Valmini prepara a concepção com ainda mais cuidado, tendo no zelo com a criação de figurinos, máscaras e bonecos uma atividade que mantém mente e corpo em dia nestes tempos difíceis.
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Não estivéssemos em meio à pandemia, setembro seria o mês de comemorar os 33 anos do Teatro Experimental Revolucionário com um espetáculo inédito, Navegantes Espaciais. Além de Valmini, formam o grupo a atriz Priscila Telles e o músico Vanderson Lima, trio responsável por manter vivo o ideal que vem desde 1987.
– O que motivou a criação do grupo foi estar em contato com as pessoas, principalmente aquelas que não vão até o teatro. Está na raiz do teatro essa relação sinestésica, de um sentir o outro – destaca Valmini.
Sem previsão exata, mas com o desejo de estrear Navegantes no primeiro semestre do ano que vem, Valmini projeta para o próximo ano a retomada de suas atividades como professor de teatro, fonte de renda principal. Dos quatro trabalhos regulares nesta área, apenas um se manteve, junto aos usuários do CAPS Novo Amanhã, pelo qual é contratado do Hospital Virvi Ramos. Outros projetos, que desenvolve com a prefeitura de Ipê e com um CTG de Antônio Prado, foram suspensos. As oficinas de teatro que ministra na Central das Artes, escola no centro de Caxias, aguardam por novos alunos.
– A sabedoria oriental diz que a gente deve arar o terreno e plantar as sementes, para que a água da chuva venha nutri-las e a gente possa colhê-las. Estamos neste momento de espera, mas plantando as sementes – reflete.
Na tentativa de amenizar a perda de renda, Valmini se mantém atento a editais na área. Em alguns aos quais acessou, no entanto, percebe que a troca não é justa para o artista, pelas exigências pedidas e a remuneração oferecida. Também demandam uma energia que ainda não foi plenamente recuperada, após o impacto da perda da mãe, em abril. De sua casa, que também serve como atelier para a produção de máscaras faciais e outros adereços teatrais, o ator busca entender para onde irá caminhar a arte pela qual devotou grande parte da vida, num mundo em transformações aceleradas:
– Há um texto do Jerzy Grotowsky (dramaturgo polonês) no qual ele diz que “se todos os teatros do mundo fossem fechados, ia levar tempo para que as pessoas se dessem conta”. Pois não é como a televisão, que na hora em que apaga as pessoas ficam sabendo. O teatro não está tão próximo no dia a dia. Acho que iremos passar por uma transformação, tanto por fatores provocados pela pandemia, que irá interferir nos gestos sociais das pessoas, quanto pelos costumes, uma vez que as novas gerações buscam o entretenimento cada vez mais rápido. Mas é próprio do teatro se reinventar junto com a sociedade.
Para acompanhar mais o trabalho de Jorge Valmini, parte da sua produção e portfólio estão reunidos no site do artista, e também na página Valmini Art, no Facebook.
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