Transmitir alegria e leveza através da música. Esse é o principal objetivo do projeto Arte Musical Tocando o seu coração, realizado semanalmente nos corredores do Hospital Virvi Ramos, em Caxias do Sul. Desde 2018, o professor de música Paulo Oliveira, 42, e a sua equipe realizam as atividades durante uma hora por semana. No entanto, a pedido do hospital, as ações voluntárias precisaram ser interrompidas no início da pandemia, mediante as restrições.
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Após a consolidação da bandeira laranja na cidade, no mês de agosto, Oliveira retomou o projeto junto ao hospital. Uma vez por semana, ele visita a instituição e toca o seu violino, levando positividade pelos corredores dos três setores de internação. Além do Virvi Ramos, Paulo realiza o projeto toda semana em mais quatro hospitais da cidade (Círculo, Geral, Pompeia e Unimed), bem como na Clínica Paulo Guedes, em três asilos, presídios e escolas.
A inspiração do projeto surgiu após o professor de música assistir ao filme Titanic e observar a cena em que os violinistas tocavam seus instrumentos enquanto o navio afundava.
— Achei bonito e pensei porque não poderia ter por aqui aquilo. Me deu vontade, mas até então não tocava muito bem o violino. Apareceu a oportunidade de fazer o curso de capelania, e como capelão a gente tem acesso a hospitais, presídios, asilos, escolas e a moradores de rua. Depois de formado, precisava fazer um estágio e surgiu a oportunidade de ir no Hospital Geral, mas não levei o violino. Na segunda visita comentei com a voluntária e ela deu a ideia de levar o instrumento. Eu só sabia tocar um louvor e foi a visita inteira tocando aquele — conta Paulo, que ao perceber que a atitude fazia bem para as pessoas e melhorava o seu quadro clínico, procurou outros hospitais para realizar as visitas musicais.
O projeto que teve início no hospital ganhou maior abrangência e hoje é atendido por um grupo liderado por Paulo. Por causa das orientações de prevenção da covid-19, a equipe está precisando se dividir e ir separada nas atividades.
O professor de música afirma ser bem gratificante poder arrancar sorrisos dos pacientes, além de poder ouvir as histórias de vida deles. Ele relembra diversas situações que acontecem durante as visitas, desde as reações que impulsionam a recuperação até momentos inusitados.
— Tem pacientes que estão em coma e depois quando encontramos eles no quarto dizem que lembram que tocamos para eles na UTI. Eles reconhecem até a música e a gente acaba se conhecendo depois. Teve outro caso que, na UTI, o paciente ia passar por uma cirurgia para amputar o pé no outro dia. A visita fez tão bem para ele que, no outro dia de manhã, recebi uma mensagem da psicóloga do hospital dizendo que o paciente tinha recebido alta — comemora.
Além dos momentos de cura, Paulo relata que também já utilizou dos louvores e das músicas clássicas para dar o último momento de alegria para a pessoa e um conforto para a família com a perda do seu ente querido.
— Tem casos que visitamos uma vez a pessoa, e na outra vez a gente fica sabendo que ela partiu. A gente sabe que foi ali e deu um último momento de alegria para a pessoa. Já aconteceu de eu chegar na UTI do Hospital do Círculo, porque me chamaram para tocar para um senhor. Eu toquei e não sabia o que estava acontecendo. Vi que estavam todos se abraçando. O senhor foi para a cirurgia e acabou falecendo. Enquanto eu tocava foi o momento da despedida dele com a família — descreve emocionado.
A psicóloga do setor de Recursos Humanos do Hospital Virvi Ramos, Camila Pelizzer, enaltece a importância do projeto voluntário realizado por Paulo e sua equipe semanalmente na instituição. Com o uso de EPIs e seguindo os protocolos de prevenção da covid-19, o projeto foi retomado e já puderam perceber os resultados.
— Os benefícios da retomada foram visíveis desde a primeira música tocada em nossos corredores. Os pacientes abrem as portas, se emocionam, aplaudem e agradecem o músico pelo momento de serenidade. Também são vistos benefícios nas nossas equipes, é um momento de leveza em meio a tensão e a carga emocional e física que estamos vivenciando. Através do projeto, percebemos na música um potencial terapêutico, capaz de reduzir angústias, ansiedades e deixar o ambiente hospitalar mais humanizado para os pacientes e para nossos colaboradores — salienta a funcionária do hospital em tom de agradecimento pela dedicação do professor e do seu grupo.