Residente na Vila Embratel, bairro onde nasceu e se criou na periferia de São Luís, no Maranhão, Romildo Rocha, 30 anos, é designer em projeção no contexto da arte urbana nacional. Cria ilustrações digitais e com tinta acrílica, faz murais. Tudo inspirado pela cultura popular, especialmente na literatura de cordel e na estética da xilogravura. O tema dá o tom do projeto Cores da Vila, que ele desenvolve com crianças da sua comunidade.
Nesta semana, o artista desembarcou em Caxias do Sul para um período de residência artística no Instituto SAMba, onde está colorindo um mural que deve ficar pronto na semana que vem e que está carregado de referências da cultura brasileira, como a dança folclórica Bumba meu boi. Por aqui, Romildo participa ainda do projeto Samba Território-Residência, que vai permitir a interação com alunos que estudam a obra dele na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Ester Justina Troian Benvenutti, além de outras ações culturais.
Abaixo, confira trechos de uma entrevista feita pelo jornalista Carlinhos Santos, que assessora a vinda do artista à Serra:
Como explica o diálogo de seu trabalho com a arte popular, a xilogravura e o cordel?
A arte popular sempre andou comigo. Minha mãe e meu pai vêm do mato. Minha mãe era quebradeira de coco, papai era vaqueiro, os dois trabalhavam na roça. No meu bairro tem muitas coisas na rua, o povo indo pra feira. Isso foi se dando de uma forma bem natural. Não tem nada forçado. A ideia da xilogravura vem as aulas que tive com o Airton Marinho, que vocês têm obras no SAMbA. Através dele percebi que deveria beber na fonte da xilogravura para eu contar essas histórias da cultura popular.
Como entra a arte urbana, os murais e o grafite em seu trabalho?
Tem gente que não consegue ir para uma galeria, um museu, e hoje em dia circula pelo bairro e consegue ver uma obra, um trabalho diferente. As crianças olham e vão despertando para a arte. Meu viés de artista urbano é mais voltado para o bairro, mais dentro do que lá pra fora. Dentro faz mais sentido.
Como você vê a cena das artes urbanas?
A arte urbana vem tendo uma conversa muito próxima, muito interligada com a comunidade. Acho que isso está sendo valorizado e também o grafite não é mais olhado como marginal, como o pichador doidão que vai vandalizar. Acho que a cabeça das pessoas vem mudando, elas têm mais acesso à informação.
O projeto Cores da Vila tem um viés de ativismo social?
A ideia do Cores da Vila é um levante da comunidade. A gente está ocupando os lugares que antigamente eram quase intrafegáveis, por causa de tráfico, ou por que eram esquecidos pelo Estado. E a gente chama a comunidade, que nos apoia a ir pintando não só com desenhos, mas pintando as fachadas coloridas mesmo. O Cores da Vila é para incentivar e fomentar a comunidade a participar.
A arte tem que ter uma causa?
A gente costuma falar que não tem vinculação partidária, mas a arte é um ato político. Você está mudando a visão e a vida das crianças, da comunidade. Isso é política. Você está transformando onde o Estado não transforma. Obviamente o Estado às vezes não cumpre com seu papel então eles estão organizados enquanto comunidade.
O que esperar do projeto em Caxias?
Estou muito feliz dessa possibilidade de troca, de poder trazer e deixar em Caxias do Sul um pedaço do Maranhão e da cultura nordestina. Estou muito animado com a animação de todos.