O capitão do mato Vinicius De Moraes, poeta e diplomata, o branco mais preto do Brasil, na linha direta de Xangô, cantou em Samba da Bênção:
Porque o samba nasceu lá na Bahia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Se realmente nasceu ou não lá na Bahia, nem mesmo especialistas como Germano Weirich podem afirmar.
– É muito mais plausível considerar o samba como carioca, mas criado por negros baianos e cariocas – defende.
Germano, que está a trabalhar na tese de mestrado acerca da canção brasileira, é o responsável pelo roteiro do programa da 13ª edição do Concertos da Primavera, com a Orquestra Sinfônica da UCS, sob a regência do maestro Manfredo Schmiedt, que ocorre neste domingo, dia 20 de outubro, às 10h30min, no estacionamento do CETEL, na Cidade Universitária, em Caxias do Sul.
Na apresentação, haverá ainda a participação especial da cantora Bruna Balbino (vocalista do Bloco da Velha), e Luastral e Banda, que traz a viola de sete cordas, o cavaco, o surdo, o rebolo e o pandeiro para juntar-se aos instrumentos sinfônicos. E para bailar ao som do samba, Giovani Monteiro, Kamila Perotti e Caroline Zini, da Escola de Dança Clube Ballroom.
O ritmo, que é quase um sobrenome do Brasil, diz muito sobre a identidade do povo brasileiro, reconhece Germano:
– O samba, desde a origem, é mais do que um gênero musical. É a expressão da coletividade, a comunhão dos corpos, o ambiente da alegria. Quando se diz “vou num samba”, se entende muito mais do que a música. Não foi à toa que ele foi escolhido como ritmo nacional, ele expressa muito da nossa cultura. Por isso, a ideia do maestro era de transmitir a mensagem da alegria e da celebração.
Depois de uma extensa pesquisa, até porque é um tema de interesse pessoal e agora um viés acadêmico, Germano selecionou um grande repertório de samba com diferentes abordagens e períodos.
– Por ser um concerto para sete ou oito mil pessoas, o maestro sugeriu músicas conhecidas, alegres, e mais próximas do samba de raiz, uma ideia de samba original – revela Germano.
O programa contempla músicas de compositores que a literatura poderia chamar de poetas, sem cometer pecado algum, de nomes como Sinhô, Noel Rosa, Ary Barroso, Assis Valente, Dorival Caymmi, Zé Kéti, Adoniran Barbosa, entre tantos outros. São de Assis Valente os versos envolventes do samba Brasil Pandeiro:
Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar
Ou ainda, Adoniram Barbosa, que versou, em Tiro ao Álvaro:
De tanto leva frechada do teu olhar
Meu peito até parece sabe o quê?
Táubua de tiro ao Álvaro
Não tem mais onde furar
Ou seja, esta edição da série Concertos da Primavera vai, literalmente, colocar todos para sambar. Se os mais jovens desconhecem os clássicos do ritmo, pelo menos no encerramento poderão cantar:
Deixa a vida me levar (vida leva eu!)
O samba, imortalizado por Zeca Pagodinho, é composição de Serginho Meriti e Eri do Cais. Samba é cultura, a cultura popular e sobrenome do país. Pelo menos, que assim seja no domingo: a República Federativa do Brasil e do Samba.
Repertório:
José Barbosa da Silva (Sinhô): Jura (1929)
Noel Rosa: Com Que Roupa (1930)
Lupicínio Rodrigues / Felisberto Martins: Se Acaso Você Chegasse (1938)
Ary Barroso: Isto aqui o que é (1941)
Assis Valente: Brasil Pandeiro (1941)
Geraldo Pereira: Falsa Baiana (1944)
Adoniran Barbosa: Saudosa Maloca (1955)
Zé Kéti: A voz do Morro (1956)
Dorival Caymmi: Maracangalha (1956)
Adoniran Barbosa / Osvaldo Molles: Tiro ao Álvaro (1960)
Adoniran Barbosa: Trem das Onze (1965)
Martinho da Vila: Canta, canta, minha gente (1974)
Candeia: O Mar serenou (1975)
Aloísio Silva / Edson Conceição: Não deixe o samba morrer (1975)
Jorge Aragão / Neoci Dias / Dida: Vou Festejar (1977)
Jorge Aragão / Almir Guineto / Luiz Carlos: Coisinha do Pai (1979)
Done Ivone Lara / Délcio Carvalho: Sonho Meu (1979)
Gonzaguinha: O que é o que é? (1982)
Luiz Carlos da Vila / Arlindo Cruz / Sombrinha: O show tem que Continuar (1988)
Roque Ferreira/Grazielle Ferreira: Samba Pras Moças (1995)
Toninho Geraes: Mulheres (1995)
Nelson Rufino / Carlinhos Santana: Verdade (1999)
Serginho Meriti / Eri do Cais: Deixa a Vida me Levar (2002)
Agende-se:
O que: 13º Concerto da Primavera, com a Orquestra Sinfônica da UCS.
Quando: domingo, dia 20 de outubro, às 10h30min.
Onde: Estacionamento do CETEL, na UCS.
Quanto: Entrada Franca.
Financiamento: Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Com apoio cultural da Unimed Nordeste.
Informações: 3218-2610.
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