Vozes que viram percussão. Corpos que viram instrumentos. Instrumentos que viram vozes até que não se saiba mais de onde vem o som. Mostrar a pessoa enquanto música é uma característica presente nos espetáculos do Coro Juvenil Moinho/UCS, uma das experiências artísticas mais interessantes de Caxias do Sul. Em sua nova empreitada, Moinho Nômade, o grupo encontra uma parceria musical igualmente inquieta e instigante, cujo álbum de estreia empresta nome ao espetáculo, a cantora moçambicana Lenna Bahule.
Radicada em São Paulo desde 2012, Lenna lançou Nômade em 2016. Trabalho de estreia de uma cantora de voz poderosa e timbre suave, cuja musicalidade abraça influências que não cabem num único continente. Em cada faixa, percebe-se o vigor da artista independente, que põe nas melodias e na batida afrojazz uma trajetória de dificuldades e aprendizados. O álbum encantou a regente Cris Ferronato, que provocou seus jovens cantores a ressignificá-lo para dar vida a um espetáculo à altura do elogiado Contrapontos. Ter a inspiradora do projeto em pessoa para dividir o palco nas duas noites de estreia, neste fim de semana, foi a cereja do bolo.
– O convite foi aceito sem restrições. Começou com “Lenna, pode liberar as músicas para nós?”, virou “Lenna, quer vir cantar com a gente”, daí até “Lenna, por que não vem dar uma oficina para a gente?” – brinca a Cristiane.
A regente acrescenta que o encontro do coro com a cantora vai além de uma parceria artística, sendo uma troca de experiências para a vida:
– O Moinho é um grupo em que a gente tenta tratar os integrantes como artistas, mais do que cantores, e trabalha para potencializar o que eles podem ser. E a Lenna representa isso. É uma artista que agrega uma identidade a um aspecto que o coro vem construindo, de ser multifacetado e de se entender através do outro e das trocas com o outro. Ao mesmo tempo, é muito significativo trazermos a Caxias uma mulher negra, africana, representante de uma cultura que muitos ainda julgam ser subdesenvolvida, para cantar à frente do nosso coro.
Lenna, que tem 30 anos, começou a cantar aos 6, e aos 13 já era uma voz conhecida na capital moçambicana, Maputo, vibra com o encontro:
– É muito revigorante poder ouvir a nossa obra fora de nós. Nômade é um álbum que eu gravei em 2015 e lancei em 2016, num processo muito longo. Quando a obra está em circulação, ela já não é mais aquele fogo dentro da gente. Mas a forma como as pessoas a ouvem e a leem, é o que a ressignifica pra nós. Eu fico muito feliz em poder contribuir para esse imaginário e para essa memória afetiva criativa de uma geração mais jovem.
Além do repertório da cantora, o espetáculo viaja pelas obras de compositores como Paulo César Pinheiro, Dominguinhos e Milton Nascimento, além de canções populares do Cabo Verde e do folclore escandinavo.
Agende-se
O quê: espetáculo Moinho Nômade, do Coro Juvenil Moinho/UCS com Lenna Bahule
Quando: sábado (21) e domingo (22), 20h
Onde: Teatro Municipal Pedro Parenti (Casa da Cultura), em Caxias do Sul
Quanto: R$ 20 e R$ 10 (meia entrada)