Expoente da Land Art, corrente norte-americana que se utilizava de elementos naturais para a criação de obras artísticas, o escultor Robert Smithson (1938-1973) enxergava a terra como matéria-prima e razão de seus trabalhos. Não por acaso, seus escritos estabelecem uma relação direta entre as faces material (terra, areia, pedras) e abstrata (pensamento, reflexão) do fazer artístico.
“A mente e a terra encontram-se em um processo constante de erosão: rios mentais derrubam encostas abstratas, ondas cerebrais desgastam rochedos de pensamento, ideias se decompõem em pedras de desconhecimento, e cristalizações conceituais desmoronam em resíduos arenosos de razão”, escreveu Smithson em 1968.
Meio século mais tarde, o entendimento de que natureza e arte podem fundir-se para criar experiências estéticas segue como fonte de inspiração. É o caso do cineasta e artista visual Muriel Paraboni, que traz a Caxias do Sul a exposição Terra, com visitação gratuita a partir desta sexta-feira (9), na Galeria de Arte do Ordovás, integrante da programação da Semana da Fotografia. A mostra, que teve sua primeira edição há três anos, em Santa Maria, reúne um conjunto de quase 20 obras em vídeo, foto, pintura, objeto e instalação.
– O que hoje chamamos de artes visuais, antes era chamado de artes plásticas. Nos séculos 19 e 20, o trabalho dos artistas girava muito em torno de manipular elementos materiais para os transformar em alguma coisa, como esculturas e pinturas. Eu tento resgatar um pouco dessa característica. Não me satisfaço em simplesmente pintar uma tela. Eu também utilizo terra, areia e materiais como cimento e cal – diz Paraboni, referindo-se aos painéis Aurora, Os Cantos da Terra (foto abaixo) e Desencanto, destaques da exposição.
Formado em cinema e artes, com mestrado em poéticas visuais, Paraboni propõe uma interpretação da natureza que vá além da arte figurativa. Ou seja, não estamos falando de obras que buscam retratar elementos da natureza com realismo ou fidelidade. Em Terra, o espectador é convidado a experimentar uma paisagem sensorial, com diferentes texturas, aromas e sonoridades (a mostra também traz uma videoarte que projeta sons e cores de uma cachoeira).
– Quando vemos uma foto ou uma pintura que retrata a natureza, logo associamos a alguma lembrança ou referência externa. A ideia é que as obras, passando pelo processo de abstração, se libertem dessas referências, que sejam autônomas. Quero que as pessoas sintam que existe, dentro da galeria, um espaço próprio de natureza, uma experiência sensorial, emocional. E que tenham contato com a natureza interna, mental, do próprio corpo – reflete.
Em cartaz até 9 de setembro, Terra é a primeira exposição individual de Paraboni em Caxias do Sul. O artista já havia passado pela cidade em três mostras coletivas: Paralelos (2014), Arte+Arte Ed Fotografia (2015) e Blues Art Ville (2018). Entre os dias 27 e 29 de agosto, ele ministra um minicurso de criação em videoarte, com vagas limitadas e inscrições gratuitas pelo telefone (54) 3901-1316. As aulas serão no Campus 8 da UCS.
PROGRAME-SE
:: O que: abertura da exposição Terra, de Muriel Paraboni.
:: Quando: nesta sexta (9), às 19h.
:: Onde: Galeria de Arte do Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quanto: entrada gratuita.
:: Visitação: até 9 de setembro; de segunda a sexta, das 9h às 22h; finais de semana, das 16h às 22h.
:: Informações: pelo telefone (54) 3901-1316.