Os figurinos muito bem cuidados e a delicadeza da ambientação numa pomposa residência veneziana do século 19 são os principais atrativos visuais em Os Papéis de Aspern, filme que estreia desta quinta (01) na Sala de Cinema Ulysses Geremia, em Caxias do Sul. Se o espectador se liga em direção de arte e gosta de recriações de época, já tem bons motivos para ir ao cinema. Outro grande presente que o longa dirigido pelo francês Julien Landais entrega é a presença das atrizes inglesas Vanessa Redgrave e Joely Richardson. Mãe e filha na vida real, as duas interpretam com empenho as protagonistas femininas do filme. O talento delas também acaba tornando mais visível a fraqueza na atuação de Jonathan Rhys-Meyers, responsável pelo papel do escritor Morton Vint, narrador da história. Talvez a justificativa esteja numa histórica intimidade das atrizes com a narrativa de Os Papéis de Aspern. Uma curiosidade é que Michael Redgrave, pai de Vanessa e avô de Joely, adaptou o livro para os palcos de teatro em 1959. Nesse trabalho, a hoje veterana atriz dava vida à personagem Tina, que no longa de Landais é interpretada por Joely.
No filme que chega a Caxias, a dupla interpreta tia e sobrinha. Elas recebem um misterioso escritor como inquilino na mansão onde vivem praticamente isoladas da sociedade da época. Cada uma lida com a presença de Morton de uma maneira diferente. Enquanto Tina enxerga nele uma figura misteriosa e sedutora; a dona da casa, Juliana, entende o interesse do escritor em alugar um quarto como uma possibilidade para extorquir dinheiro dele. Aos poucos, a idosa também demonstra interesse em aproximar o novo inquilino da solitária sobrinha. As reações das personagens vão se modificando a medida que descobrem o real motivo da chegada de Morton à mansão.
A história de Os Papéis de Spern usa a idolatria como pano de fundo para uma trama que envolve sedução, mistério e resiliência. Se ambientada nos dias de hoje, ela poderia envolver algum fã obcecado por uma cantora pop ou boyband coreana, por exemplo. Mas a trama escrita no século 19 apresenta seu protagonista como seguidor de uma estrela do mundo da literatura (que já foi bem mais popular no passado), o falecido poeta Jeffrey Aspern. Morton chega à mansão justamente porque deseja colher cartas e documentos inéditos escritos pelo ídolo, que na juventude viveu um romance com Juliana. Caberá à doce sobrinha, Tina, fazer uma espécie de meio de campo entre os desejos do obcecado biógrafo e a discrição da tia com relação ao passado.
As sequências com a personagem Juliana em cena são as mais interessantes do filme. O diretor consegue criar uma certa obscuridade quase assustadora em torno da dona da mansão – ela está sempre com o olhar voltado para baixo, sempre em meio às sombras, sempre vestindo preto. Já Tina é constantemente iluminada por um límpido e curioso olhar azul. A construção de personagem fica menos dedicada com relação ao protagonista masculino. Jonathan Rhys-Meyers parece forçar vilania e frieza que, no caso da atuação de Vanessa Redgrave, surgem com muito mais verdade. O problema se agrava com uma certa aceleração da narrativa para contar todos os fatos, utilizando flashbacks pouco criativos e fazendo os personagens mudarem de ideia muito rapidamente sobre importantes decisões.
As inúmeras adaptações de Os Papéis de Aspern provam que a história mantem-se interessante ao longo dos anos. No entanto, talvez essa não seja a melhor delas já realizada.
Programe-se
:: O quê: drama Os Papéis de Aspern, de Julien Landais.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até o dia 11, com sessões de quinta a domingo, sempre às 19h30min.
:: Quanto: ingressos a R$ 10 e R$ 5 (estudantes, idosos e servidores municipais).
:: Duração: 87 minutos.
:: Classificação: 14 anos.
Veja o trailer: