Cultura só se faz através do diálogo. Quem nada nessa corrente sequer cogita pensar diferente. Mas, e quem disse que durante uma conversa não pode haver discordância ou pontos de vista dissonantes? Afinal de contas, cada parte da cadeia produtiva da cultura revela e aponta como válido o seu olhar, a sua perspectiva da cena.
Durante o painel A Visão dos Financiadores, no 3º Congresso Estadual de Cultura, que ocorre em Bento Gonçalves até esta sexta-feira (17), um dos cases apresentados e, que pôde revelar qual é a sua perspectiva do negócio da cultura, foi a Randon, através da sua coordenadora de Responsabilidade Social, Jeanine Pacholski.
— Eu sempre digo nas reuniões do nosso conselho que nós temos o privilégio de escolher projetos, mas o dinheiro é público — defende Jeanine, ao comentar sobre a atuação da empresa ao selecionar projetos culturais.
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A Randon tem um império na indústria, com 11 empresas, sendo que é a líder no segmento de carroceiras da América Latina. Foi corajosa e importante a presença da Randon, em um Congresso de Cultura, pois geralmente o enfoque dos debates é pontuado pela visão dos artistas, produtores culturais e governo.
Maior ousadia ainda, foi Jeanine prometer que a Randon vai investir R$ 1 milhão na cultura, desde que o governo do Estado reveja a Lei de Incentivo Estadual. Hoje, quando uma empresa investe em um projeto da LIC, deve repassar, além do valor acordado com o produtor cultural, mais 25% do que patrocinou no projeto, para o Fundo de Apoio à Cultura (FAC).
— Já conversei com o nosso CEO, e ele me confirmou que, se tirar a obrigatoriedade dos 25%, e baixar para quem sabe 10%, ele autorizou investirmos R$ 1 milhão para um novo edital da Secretaria de Cultura Estadual — provocou Jeanine.
Após o anúncio, a plateia aplaudiu. No entanto, na sequência dos debates da tarde e noite, o clima foi mudando um pouco. Porque parte dos produtores acredita que aceitar a redução de repasse das empresas de 25% para 10% vai enfraquecer o edital do FAC, que, na visão destes, é o melhor instrumento de fomento do governo estadual.
— Em momentos de crise, as empresas, como a Randon, vão investir o dinheiro em leis que não seja preciso o aporte de contrapartida — argumenta Jeanine.
Aguardemos as próximas cenas dos capítulos para saber como o governo do Estado vai lidar com essa questão, que toca em um ponto central do fomento às atividades culturais no Rio Grande do Sul, o FAC.