Assim que engoliu a fantástica — e amarga! — pílula do Doutor Caramujo, Emília desembestou a falar. E assim ficou por três horas. Sem papas na língua. Sem pausas para tomar fôlego. “Verdade é uma espécie de mentira bem pregada, das que ninguém desconfia”, disparou certa vez, ironicamente. Assim é Emília: doce e desconcertante.
Nascida da caixa de costura de Tia Nastácia em Reinações de Narizinho (1920), a boneca de trapo mais conhecida da literatura brasileira é o tema central da exposição Sra. Dona Emília de trapo de macela, em cartaz a partir desta quinta-feira (11) no Instituto de Leitura Quindim (ILQ). Com curadoria de Rafael Dambros, a mostra reúne trabalhos de cinco artistas caxienses: Ilka Filippini, Marina Prochászka, Marina Rombaldi, Matheus Montanari e Sharizy Pezzi. Uma oportunidade ímpar de mergulhar no olhar autêntico de uma das personagens mais complexas do universo lobatiano.
— Optamos por fazer uma exposição coletiva porque a Emília também foi feita de pedaços. Trazemos diferentes pensamentos que se juntam num único propósito. Diferentes técnicas e diferentes linguagens. Temos pinturas, bonecas, fotografias, vídeo... Tudo isso se complementa num único corpo, assim como Emília — resume o curador.
Seja nos olhares infantis sensivelmente fotografados por Ilka Filippini ou na instalação artística de Matheus Montanari que transporta o público para o campo de visão da pequena boneca de trapo, Sra. Dona Emília desafia padrões estéticos de forma bastante lúdica. Uma virtude que é capaz de traduzir, pela arte, a força questionadora da personagem:
— O mais interessante é essa postura que a Emília tem em relação ao mundo e à realidade. É exatamente a mesma postura filosófica que o artista exerce. Esse é o ponto principal da exposição. Tentamos ser um pouquinho abusados e questionar por que as coisas são dessa forma e não de outras — provoca Dambros.
Entusiasta das múltiplas facetas de Monteiro Lobato (1882-1948), o presidente do Instituto Quindim não esconde a satisfação de sediar uma mostra que se debruça no legado deixado pelo pai da literatura infantojuvenil no Brasil. Para Volnei Canônica, as diferentes manifestações artísticas precisam dialogar com o já exuberante universo dos livros.
— O melhor da literatura é poder compartilhar histórias e vivências. Por isso também teremos cursos destinados a mediadores de leitura para discutir maneiras de trabalhar a obra lobatiana em sala de aula, além de um encontro para compartilhar as memórias afetivas de Lobato — antecipa Canônica.
PROGRAME-SE
:: O quê: abertura da exposição Sra. Dona Emília de trapo de macela.
:: Quando: nesta quinta (11), às 19h30min.
:: Onde: Instituto de Leitura Quindim (Rua Luiz Covolan, 2820).
:: Quanto: entrada gratuita.
:: Visitação: até 12 de maio.
:: Horários: de quarta a sexta, das 10h às 17h; aos finais de semana, das 13h às 18h.
:: Informações: pelos telefones (54) 3028-8192 e (54) 3028-8194.