O sorriso que você vê aí na foto a enfeitar o rosto do personagem Riadh é completamente raro durante o filme Meu Querido Filho, estreia desta semana na Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás, em Caxias do Sul. Vivido de forma espetacular pelo ator veterano Mohamed Dhrif, o protagonista é um senhor de meia idade que está se aposentando do trabalho enquanto transfere todas suas atenções em apoio ao filho, jovem que enfrenta uma depressão atrelada a fortes enxaquecas. Na maior parte da narrativa, o rosto de Riadh condensa a agonia de um pai que precisa lidar com a dúvida, com a desilusão, e com o desespero por perder o controle das rédeas familiares.
A primeira informação que você deve ter a favor de Meu Querido Filho é a de que se trata de uma oportunidade pouco frequente para conferir nas telonas de Caxias uma produção filmada na Tunísia. Além disso, o longa conta com o aval dos premiados irmãos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne, que assinam como coprodutores. Somando-se a isso, o filme apresenta um olhar bem contemporâneo sobre o amor fraternal. O diretor Mohamed Ben Attia (de A Amante) posiciona sua câmera sempre na altura dos personagens, sugando o espectador para dentro de um seio familiar em conflito.
O pai de família Riadh centraliza a narrativa. Enquanto organiza a vida para se aposentar do trabalho na zona portuária de Túnis, ele e a esposa Nazi (Mouna Mejri) se preocupam com o futuro de seu único filho, Sami (Zakaria Ben Ayyed). O jovem sofre com fortes enxaquecas, agravadas por uma condição depressiva e pela pressão com a chegada do vestibular. Até aí, tudo parece mais ou menos dentro da normalidade, até que Sami resolve sumir deixando apenas um bilhete.
O diretor teve a ideia do roteiro escutando o relato desesperado de um pai no rádio. A realidade era vivida por muitas famílias que ficaram à procura dos filhos que haviam se juntado ao Estado Islâmico. Eis aí um ponto interessante de Meu Querido Filho: a decisão por colocar a perspectiva do roteiro em quem fica, e não em quem decide partir (o que seria mais comum). Sem saber informações sobre o paradeiro do filho, Riadh e Nazi desesperam-se. O pai, então, decide dar início a um périplo sofrido guiado pelos rastros do rapaz.
Enquanto a primeira metade do filme carrega um tom sufocado por cenários fechados e domésticos, a segunda metade caminha por tomadas mais abertas que mostram o pai sempre como uma figura perdida num terreno desconhecido. Preste atenção na impressionante cena que mostra Riadh correndo em busca do filho num cenário labiríntico e violento. A situação tem tons de delírio e denota uma carga simbólica muito forte, do pai que tenta segurar o filho enquanto ele corre rumo ao perigo.
Meu Querido Filho acaba revelando um olhar atualizado sobre a síndrome do ninho vazio. É como se o desabafo do pai ao filho por meio de uma rede social, por exemplo, desenhasse um retrato das relações contemporâneas (familiares ou não). O contexto de violência iminente que assola o mundo árabe dá tons ainda mais dramáticos ao momento crucial no qual os pais “perdem” um filho para a vida adulta.