Em sua gênese, a ideia do Paralelo Festival era criar um paralelo musical (daí o nome) que comportasse no mesmo palco artistas com carreiras consolidadas e artistas em início de trajetória, uma ponte entre o popular e o underground. Para além disso, o que se viu durante o primeiro dia de programação foi um paralelo relacionado à própria imagem clichê que grande parte das pessoas têm de São Francisco de Paula. Dando uma olhada nas cerca de 2,5 mil pessoas que compareceram ao festival, às margens do belíssimo Lago São Bernardo, dava para ver que o gauchismo, uma marca dessa região da Serra, cede espaço para a diversidade, construindo um paralelo de estilos que constrói a cara contemporânea da cidade.
— O pessoal descobriu que aqui também dá para fazer algo paralelo ao gauchismo. Além do Paralelo, temos também a Beatle Weekend (que realizou segunda edição em novembro passado), os dois estão trazendo gente de vários lugares para cá — comemorou Emerson Mücke, vocalista da banda Barba & Blues, representante do som autoral local na programação.
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Vestido com peças da indumentária gaúcha, o hoteleiro de Porto Alegre Alexandre Adams, 39 anos, estava ansioso pelo show de Erasmo Carlos, a principal atração do primeiro dia de festival. Ele contou que costuma visitar São Chico regularmente e fica feliz de ver a cidade ganhando cada vez mais turistas. Aliás, neste fim de semana de Paralelo Festival, os 1,2 mil leitos de São Francisco de Paula estavam com 90% de ocupação.
— Tem esse lugar, o lago, que é algo fantástico. Há 15 anos eu venho para cá. Desta vez, viemos pelos shows — contou Adams, ao lado dos amigos Alex Welter, 38, e Fabio Goerl, 45.
Até mesmo o fã de Porca Véia Lucio Casiano Krumenar, 39, estava super satisfeito com a programação do Paralelo. Contemplando os shows debaixo de um chapéu de aba larga, ele festejou o fato de o festival ser mais uma opção cultural que surge na cidade onde mora.
— Nunca teve muita coisa por aqui, agora está tendo e isso é muito bom. Melhor ainda se não precisar pagar — disse ele, que compareceu com a esposa e a filha, acompanhado ainda do chimarrão, que esteve ao lado de boa parte dos espectadores do festival.
A diversificada programação do Paralelo levou a São Chico desde o blues inspirado da prata da casa Barba & Blues até o rock psicodélico e sampleado dos pelotenses da Musa Híbrida. Sem cobertura para a plateia, a chuva espantou o público em alguns momentos, mas na maior parte do tempo, o céu manteve-se firme, assim como a galera em frente ao palco.
— Quis chegar cedo para ficar bem na frente e curtir tudo — disse a tradutora aposentada Mara Becker, 62, que veio de São Leopoldo e instalou sua cadeira de praia grudadinha na grade em frente ao palco.
O norte-americano Vino Louden, atração internacional do Paralelo, aqueceu o público com canções autorais e alguns clássicos do blues. Sem atrasos na programação, Erasmo Carlos subiu ao palco minutos depois das 21h. A garoa fina que caía não espantou a animação do público, que permaneceu por lá, ainda que acompanhado de guarda-chuvas e capas de plástico. Tremendão fez um show cheio de clássicos e celebrou o clima apaixonado de seu último álbum, Amor é Isso (2018).
— Estar aqui é um orgasmo inenarrável, dando e recebendo amor — disse.
Acompanhado de uma banda roqueira, que apimentou vários arranjos das canções, Erasmo ganhou coro da plateia em hits como Sou Uma Criança Não Entendo Nada, Mesmo que Seja Eu, Sentado à Beira do Caminho, É Preciso Saber Viver, etc. Com um repertório de quase duas horas (os demais shows tiveram cerca de 40 minutos), deu tempo para um medley batizado de "músicas de motel", com composições assinadas em parceria com Roberto Carlos, todas cantadas com empenho pelo público. Outro momento bacana do show foi a execução do clássico absoluto Pode Vir Quente que eu Estou Fervendo misturado ao arranjo da blueseira La Grange, do ZZ Top.
Com a promessa de menos chuva e ainda mais animação, o Paralelo Festival continua neste domingo. A programação é gratuita e realizada com recursos de LIC e Lei Rouanet.
Programação deste domingo
16: Marmota (Porto Alegre).
17h15min: Camila Toledo (Porto Alegre).
18h30min: Yangos (Caxias do Sul).
20h: Demônios da Garoa.