Em 2009, um encontro dedicado a fãs de gibi em Caxias homenageou o pioneiro dos quadrinhos na Serra, Altair Gelatti. Foi lá que o simpático artista – que também é contador e empresário – encontrou um de seus maiores fãs, o publicitário porto-alegrense (radicado em Caxias) Rogério Casacurta. Nascia ali o embrião do GibiX. A publicação, garantida via vaquinha virtual no Catarse, joga luzes sobre o primeiro super herói criado em solo caxiense, o Homem Força. O lançamento ocorre nesta quinta (29), na Livraria Do Arco da Velha, das 18h às 20h.
Aos 87 anos, Gelatti está orgulhoso de ver um de seus mais antigos personagens ganhar publicação novinha, mesmo 50 anos depois de sua criação. O Homem Força, que estampa a capa do GibiX, foi pensado pelo artista como um herói clássico, preocupado em fazer o bem acima de tudo, sem usar da violência gratuita tão comum aos nossos tempos.
– Os heróis da época eram muito artificiais, eu queria algo mais humano. Ele só tem a força como poder e mais nada – simplifica Gelatti, justificando seu apego com as narrativas vintage:
– As histórias antigas eram mais ingênuas, o mocinho era mocinho sempre. Não como hoje em dia, com personagens que uma hora são bonzinhos e outra hora já não são mais.
Fã do traço de Gelatti, Casacurta reuniu três histórias protagonizadas pelo Homem Força para inaugurar a revista, incluindo a primeira delas Eis que Surge um Herói. Além disso, o gibi também traz uma história protagonizada pelo herói Flama, publicada pelo paraibano Deodato Borges em 1963; e outra com o personagem mais famoso da Serra – sim, o Radicci inaugurou nos quadrinhos de Iotti como um super-herói. A ideia é seguir apresentando novas velhas histórias aos leitores nas próximas edições do GibiX, mas sempre com alguma narrativa assinada por Altair Gelatti, espécie de mentor da publicação.
– Sou fã desde 1977, aprecio muito a qualidade do trabalho dele – sintetiza Casacurta, que também é colecionador de quadrinhos.
O sessentista Homem Força renova suas forças a partir de agora, com a possibilidade de ganhar novos leitores e fãs.
– Isso é gratificantes, porque foi uma parte mágica da minha vida – comemora Gelatti.
História de filme (ou de gibi?)
A trajetória de Altair Gelatti no universo dos quadrinhos é daquelas dignas de filme (ou seria de gibi?). Trabalhando como contador, o florense (radicado em Caxias ainda na juventude) sempre manteve o hobby pelo desenho. Ainda nos anos 1950, começou sua maratona por diferentes editoras do eixo Rio - São Paulo para mostrar seus trabalhos. Na época, o mercado era completamente dominado pelos gibis norte-americanos e, mesmo assim, o autodidata da Serra conseguiu chamar atenção por lá.
Pacifista inveterado, Gelatti precisou fazer quadrinhos sobre temáticas de guerra para ser aceito em editoras como Outubro, Taika e Dado. De maneira totalmente incomum, ele acabou decidindo que abandonaria os quadrinhos, por volta de 1965. Aconteceu numa dessas visitas a editoras, quando a esposa de Gelatti escutou outros artistas conversando sobre como a presença do gaúcho por ali atrapalhava o sucesso deles próprios – já que a editora sempre escolhia as obras de Gelatti antes que as deles. Sem querer prejudicar o ganha-pão de ninguém, ele decidiu parar.
Isso até que os fãs de seus traços começassem a cobrar novas tirinhas. Gelatti então produziu pequenas revistinhas para entregar nos cinemas de Caxias, de forma gratuita. Como o custo com a impressão era alto, novamente a esposa (Zulma) sugeriu que ele abrisse sua própria editora. Assim nasceu a Litoarte, empresa pela qual Gelatti lançou a clássica revista Albatroz, um marco na cidade. Depois de 46 números, o artista desistiu de vez dos gibis e passou a se dedicar integralmente à editora.
Programe-se:
:: O quê: lançamento do GibiX, com sessão de autógrafos com Rogério Casacurta e Altair Gelatti.
:: Quando: nesta quinta (29), das 18h às 20h.
:: Onde: Do Arco da Velha Livraria e Café (Rua Dr. Montaury, 1.570).
:: Quanto: a revista tem 60 páginas e custa R$ 15.