Rosto popular na televisão, Edson Celulari atribui ao cinema seu primeiro trabalho profissional como ator, no filme Asa Branca, de 1981. Um pouco antes disso, as aulas de teatro que frequentava escondido dos pais já haviam lhe apontado um caminho de paixão e entrega na dramaturgia. Atualmente vivendo um dos protagonistas da novela O Tempo Não Para, no horário das 19h da Globo, que justamente propõe um olhar sobre a passagem dos anos, Celulari aproveita a homenagem recebida no Festival de Cinema de Gramado para também refletir sobre o tempo em seu caminho próprio. Confira abaixo algumas perguntas que ele respondeu durante coletiva concedida na Serra, antes de ser agraciado com o importante Troféu Oscarito.
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Como chega para ti neste memento a notícia do Troféu Ocarito?
Quantos prêmio existem no Brasil reconhecendo uma carreira? São poucos, e aqui, um festival com 46 edições... Para mim, é um grande estímulo de 40 anos de trabalho, é um estímulo para mais 40 anos. Então vocês me aguentem (risos), porque também quero dirigir, quero produzir. Eu acredito no cinema brasileiro, apesar de que ele está passando por uma dificuldade enorme. Estar recebendo esse prêmio diante desse quadro tão difícil, essa coisa de busca de plateia, de entendimento de co-produções, a necessidades do cinema diante de novas mídias. Então, estar aqui é uma honra e uma afeição minha como artista brasileiro de engrossar esta voz que também acredita no cinema.
Qual referência o Oscarito te traz?
Ele era o Romeu né? Porque a Julieta era o Grande Otelo... Oscarito foi um grande exemplo. É a história do cinema, duas pessoas que eram muito populares e tinham esse nível, essa qualidade de trabalho artístico, muita intuição mas muita preparação. Fazer comédia, aparentemente é mais fácil, mas precisa muito timing. É uma escola para a gente.
Comenta sobre tua história com o cinema gaúcho.
Fiz Diário de um Novo Mundo, 13 anos atrás. E, mais recentemente, fiz Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos, com a Soledad Villamil, que foi homenageada aqui no ano passado. Tive a experiência de dirigir um curta, chamado Cinzas, e vim finalizar aqui no sul também. Muita coisa me atrai aqui. Tem um novo projeto do Paulo Nascimento, o Atlântico Pacífico, para o qual também virei para cá. Tenho muitos amigos queridos aqui, acho que o sul é uma força cinematográfica, um polo muito significativo. Tenho parceiros muito fortes aqui.
Você comentou sobre planos de se tornar diretor. O que espera indo para trás das câmeras?
Estou há 40 anos como ator. Espero encontrar o inesperado. Dirigir um filme envolve uma responsabilidade diferente, de narrativa, um diálogo com todas as frentes de criação. Isso me fascina. Quando estou no set como ator, meu objetivo é contar histórias, então continuarei tentando contar histórias na minha nova função. Vou com entusiasmo, sem medo, e não vou sozinho, vou com uma equipe inteira me apoiando.
Que histórias te interessam contar na função de diretor?
A gente sempre faz um conteúdo com o objetivo de atingir uma plateia, menor ou geral. Para o diretor também é isso, vai conduzir sua equipe e sua montagem. O perfil de cinema que fazemos aqui é com o diretor sendo pai e mãe de sua obra, indo até o final. O que quero contar são histórias de qualidade, que surpreendam, que coloquem questões.
Como tem sido a experiência de trabalho na novela O Tempo Não Para?
É muito divertido aquilo tudo, muito inteligente o texto do Mario Teixeira. Quando nós lemos, começamos atrasados porque a novela seria no próximo ano e foi antecipada. Havia muito cuidado na nossa maneira de falar e ficamos com medo de que o vocabulário fosse um empecilho na comunicação. Para nossa surpresa, não foi. O público repete as frases, algumas viraram hits já. O público jovem, adolescente, eles estão enlouquecidos pela novela. Homens, pais de família assistindo, muito retorno. Foi uma surpresa positiva ter essa receptividade, as pessoas se divertem. Meu personagem se tornou muito divertido para essa plateia, mais do que imaginava. Gratificante um produto com esse perfil, que é inteligente, ser recebido dessa forma.
Como esse prêmio remete a tua história, quais trabalhos ou diretores você destacaria nesse caminho?
Com Djalma Batista fiz trabalhos como o Asa Branca, meu primeiro trabalho e que me despertou para o cinema. Lembro que quando comecei a fazer cinema me interessei muito pelo neorrealismo italiano, assisti grandes cineastas, Pasolini, De Sicca, o Visconti. Aí encontrei o Walter Lima Jr., fazendo um romance histórico da literatura e foi também uma experiência incrível. Aí passei pelo Ruy Guerra, outro grande cineasta, aprendi muito com ele, é um mestre mesmo. Depois encontrei o Paulo Nascimento, com quem tenho novos projetos, dois longas, fiz a série também, O Animal, e é cinema gaúcho na veia (risos).
Como a luta contra o câncer te transformou, isso mudou tua maneira de enxergar a própria carreira?
Você passar por um susto que é uma doença como essa te dá a oportunidade de repensar um montão de coisas. Primeiro, que tive a chance de superar, que bom. Não é simples, tem que encarar. Mas você percebe o seu tempo. Ter superado a doença e aquele tempo que estive ali no tratamento, tive a oportunidade de refletir sobre coisas, criar prioridades e acho que aproveitei esse tempo para isso. Você sai melhorado e mais forte, com certeza.
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