Deve ser seu 21º livro publicado, ou talvez o 22º — Paulo Ribeiro perdeu a conta. Mas uma certeza ele tem: Um Cara Coçava as Costas da Minha Mãe no Baile (Kotter, 96págs., R$ 34,90), que terá sessão de autógrafos neste sábado em Caxias do Sul, será seu último livro ambientado em Bom Jesus. Ao menos, como paisagem explícita.
— Esse livro representa uma transição. Nos últimos 14 meses, escrevi oito livros, um publicado em setembro passado, esse agora, que é o último com Bom Jesus com pano de fundo, e tenho outros seis prontos, uma sextologia ambientada na cidade fictícia de Oaio do Sul — adianta o escritor.
Mas deixemos Oaio para mais adiante: antes, é preciso falar de Um Cara..., retorno de Paulo ao romance depois dos recentes livros de contos. Na trama, seu Doca, bom-jesuense que tinha se transferido para a Bahia como assador de churrascaria, leva uma mordida de formiga no pé e resolve voltar para a terra natal. Ali, reabre seu famoso (e, para alguns, mal reputado) bailão. Até aqui, tudo real, garante o autor — e real, também, é a cena em que o menino Achilles/Áqui, chamado a trabalhar de garçom no baile apesar de sua pouca idade, sofre ao ver a mãe dançando animada e, depois, é hostilizado com perguntas maldosas dos coleguinhas na escola, na segunda-feira seguinte. O fictício ali é apenas o nome do personagem, alter-ego do autor.
— Áqui sou eu — confessa.
É a Bom Jesus de meados dos anos 1970 que aparece retratada nas páginas. Uma cidade conservadora, em que o garotinho de nove anos é discriminado por ser filho de mãe solteira. Nesse ambiente desfavorável, Áqui/Paulo encontra na música o seu refúgio, num setlist que vai de Chico Buarque aos Beatles, passando ainda pelo cancioneiro gaúcho e até pela banda alemã Kraftwerk.
— Na verdade, é um livro sobre música. Num ambiente desfavorável, em que os coleguinhas te perguntam se tua mãe foi namorar no sábado, a cultura é a salvação. Foi isso que me salvou — diz Paulo, unindo realidade e ficção.
Aliás, ele mesmo lembra que um menino de suas histórias já foi salvo pelos livros, Áqui é pela música, e adianta que o próximo, Gioacchino, o será pela pintura. Aí chegamos no ciclo de Oaio do Sul, cidadezinha ficcional nascida da imaginação do escritor mas que já se insinua em Um Cara... como possível nova denominação de Bom Jesus, "invadida" por imigrantes norte-americanos.
— É um cenário ficcional, mas claro que vou morrer com Bom Jesus sendo meu referencial cultural e estético — admite Paulo.
Referências
Além da música, o romance traz referências à mitologia grega (como indica o próprio nome do protagonista, Achilles, e uma "rave" chamada Guerra de Troia, mais adiante).
A trama utiliza três narradores: o próprio Áqui (criança e adulto), seu futuro filho, Aki, ou Achilles Junior, e um narrador onisciente.
Agende-se
:: O quê: lançamento do livro Um Cara Coçava as Costas da Minha Mãe no Baile, de Paulo Ribeiro.
:: Quando: neste sábado, às 10h.
:: Onde: na Livraria do Maneco (Rua Marechal Floriano, 879), em Caxias do sul.
:: O livro: Kotter, 96págs., R$ 34,90 (no lançamento, será vendido a R$ 28).
Leia também:
Exposição "Seres Imaginários", de Kira Luá, abre nesta sexta no Centro de Cultura Ordovás, em Caxias do Sul
Frei Jaime: demora, mas é possível tomar consciência de que cada um oferece somente o que tem
3por4: Gilney Bertussi prepara lançamento de DVD em Caxias
Livro "A Árvore de Colher Estrelas" será lançado na sexta-feira, em Caxias do Sul