Veranópolis, 1997. Um grupo de amigos se reúne no porão da casa de alguém para tocar covers de grupos como Beatles, Led Zeppelin, Pink Floyd, Ramones e The Who, entre outros. Foi a forma que encontraram para passar o tempo, já que na cidade não havia atrativos como cinema, shopping e afins. Vinte e um anos depois, eles celebram uma trajetória que virou referência quando se trata de rock gaúcho. Estamos falando da Blackbirds, que neste domingo recebe fãs e convidados para a gravação de um DVD ao vivo nos jardins da Vinícola Miolo, no Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves.
— A gente se reunia pra tocar, pra tomar uma cerveja. Nunca pensamos que ia durar tanto tempo — afirma o vocalista e violonista Jus Blackbird, relacionando a primeira formação da banda, composta pelo tecladista Ronaldo Verardo, o baterista Julio Sasquat, o guitarrista Diogo Farina e o baixista Caco Padova (in memoriam).
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A ideia deu tão certo que uma semana depois os primeiros ensaios a banda já tinha show marcado no Paiol, um extinto bar da cidade. Faltava um detalhe: o grupo ainda não tinha um nome para ser anunciado nos cartazes que seriam distribuídos pela cidade.
— Um dia estava conversando com um amigo e tinha um disco dos Beatles embaixo do braço. Então comecei a dar uma olhada nas músicas e uma delas era Blackbird. Foi daí que surgiu o nome, bem por acaso — conta Jus.
A partir de então, as apresentações se tornaram cada vez mais frequentes. O amigo Daniel Zardo foi o primeiro a apostar na Blackbirds e tornou-se uma espécie de faz-tudo. Vendia shows, agendava o fretamento das vans para transportar o grupo, atuava como roadie. Naquela época, Zardo era militar em Porto Alegre. Durante o dia, trabalhava no batalhão, em Porto Alegre, e, à noite, dedicava-se aos assuntos musicais. Quando tinha show, deslocava-se com o grupo até o local da apresentação.
— No início, era um (show) por mês. Logo, aumentou para quatro a cinco, sendo quarta e quinta-feira em Porto Alegre e sextas, sábados e domingos em cidades do interior — lembra Zardo, atualmente especialista em prótese dentária e morador de Canoas.
Depois de um tempo fazendo basicamente covers, era hora de partir para o repertório próprio. Lançado em 2002, o primeiro disco, Blackbirds, marcou uma nova etapa na carreira do grupo.
— Cover é como se tu estudasse pra criar a tua tese — compara o vocalista, citando nomes como The Strokes, Ramones, The Cure, Oasis, Depeche Mode entre as principais influências da banda.
Na sequência, viriam os álbuns Rock Rural (2004), Big Bang (2010), Acústico 15 Anos (2013) e o mais recente, Ninguém É Mais Criança Aqui (2017). Nesses 21 anos, o grupo passou por diversas formações até chegar à atual, com Jus, Diogo, Cassiano Farina (baixo e voz), Rafael Teclas (teclados) e Márcio Possamai (bateria).
— Ainda tem muitas pessoas interessadas no rock. A gente é meio teimoso e está aí porque ama muito o que faz. Sempre vai ter um cara apaixonado por rock — diz Diogo.
Celebração em meio ao parreirais
O Wine Garden da Vinícola Miolo, localizado em meio aos parreirais do Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, foi o cenário escolhido pela Blackbirds para a gravação do DVD em comemoração aos 21 anos da banda. O quinteto sobe ao palco às 15h para apresentar os principais sucessos da carreira. O registro contará com a presença de convidados pra lá de especiais, que também fazem parte da história do rock gaúcho: Rafael Malenotti (Acústicos & Valvulados), Carlinhos Carneiro e Rodrigo Pilla (Bidê ou Balde) e Julia Barth (Os Replicantes).
— Além de ser uma celebração ao que a gente fez e ao que a gente ainda vai fazer, é a possibilidade de reunir a maioria das pessoas que nos acompanharam durante todo o caminho — salienta Diogo Farina.
Com a palavra, os convidados
— O que eu acho mais legal é ser uma banda fora dos centros, fora da Capital. Uma banda que veio da Serra e agita toda uma cena fora de Porto Alegre, onde, teoricamente, estaria a cena do rock. É importante que tenha bandas fazendo coisas acontecer fora de Porto Alegre. Muito importante para fazer outras bandas existirem. Se criarem coisas nas outras cidades e principalmente na Serra, que é uma das cenas mais legais do Estado. Estou muito feliz. Vida longa aos Blackbirds! Que continuem agitando a Serra e a Capital e todas as outras regiões do Estado fazendo coisas acontecerem e também misturando um rock mais tradicional com punk rock.
Julia Barth (Os Replicantes)
— A Blackbirds é uma banda que já faz parte do circuito de rock da Serra. Durante esses 21 anos, foram inúmeros os encontros em shows e em eventos. A Blackbirds e a Acústicos e Valvulados tem um afinidade musical muito grande, principalmente por causa das referências musicais, que são as mesmas. Esse convite para participar da gravação é uma troca de gentileza, pelo fato de que a gente bebe da mesma fonte.
Rafael Malenotti (Acústicos & Valvulados)
— Conheço os guris há pelo menos uns 15 anos. Fizemos várias coisas juntos. A primeira vez que tocamos em Veranópolis foi com eles. A Blackbirds é uma banda que tem uma identidade muito massa, que veio do interior, que nunca teve medo, vergonha nem algum outro tipo de bobagem em relação a isso. É muito legal os guris terem um carinho com a região da Serra, e acho que isso também é recíproco. É muito importante que existam artistas excelentes como eles em todo o Estado, de forma independente, na guerrilha.
Carlinhos Carneiro (Bidê ou Balde)
Programe-se
:: O que: Gravação do DVD Blackbirds - 21 Anos Daqui Pra Sempre
:: Quando: domingo, às 15h
:: Onde: Wine Garden da Vinícola Miolo (Vale dos Vinhedos, Bento Gonçalves)
:: Quanto: um material escolar, que pode ser trocado pelo ingresso na hora
Fã número 1
Banda que se preze tem um fã número 1. No caso da Blackbirds, quem ocupa o posto é Rochele Pahs, que acompanha o grupo há nada menos do que 18 dos 30 anos de idade. Natural de Farroupilha, a assistente administrativa conheceu os músicos por meio de amigos que já curtiam o som da Blackbirds. Na época, Rochele cursava a oitava série do ensino médio e, por não ter idade para ir aos shows, tinha de se contentar em escutar as canções do CD que obteve após muita procura.
—Ficava ouvindo incansavelmente sem parar — lembra.
Aos 16 anos, Rochele assistiu à primeira apresentação no antigo Revival Rock Bar, em Caxias do Sul. A presença nos shows era tão frequente que acabou se tornando amiga dos músicos.
— Acho que já fui a 1 bilhão de shows deles— brinca.
Moradora de Porto Alegre há 13 anos, Rochele conta que as músicas da Blackbirds a acompanharam em praticamente todos os momentos de sua adolescência até a vida adulta. Por algumas canções ela tem carinho especial, como Adeus Outra Vez e Nova Guia, esta última escolhida por ela para ser a trilha com que graduou-se em Relações Internacionais, em 2010:
— Sempre foram músicas de conforto para mim.
Foi também por meio da banda que Rochele conheceu uma de suas melhores amigas, a caxiense Nicole Branchini:
— De tanto que eu aparecia com os guris, ela foi me catar na internet para perguntar se eu tinha relacionamento com algum deles, mas era só amizade mesmo. Um tempo depois, quando fui assistir a um show deles pela primeira vez em Caxias, dormi na casa dela. Nunca tínhamos nos visto pessoalmente antes.
Neste domingo, Rochele e Nicole estarão na primeira fila aplaudindo a trajetória de sucesso dos "rapazes de Veranópolis".
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