Foi só a chuva encerrar seu trabalho e dar lugar ao céu limpo, ainda que nublado, para que um público semelhante ao de sábado tomasse o estacionamento da UCS neste domingo para acompanhar o último dia do Festival Brasileiro de Música de Rua, Caxias do Sul.
Passava um pouco das 15h quando os caxienses do recém-lançado projeto Araucana subiram ao palco, para uma platéia ainda tímida, que chega aos poucos para curtir o som que o guitarrista Carlos Balbinot sugere chamar de MPM (Música Popular do Mercosul). O show teve participação da cantora uruguaia Melaní Luraschi, em dueto com a vocalista Nina Fioreze:
- Nos conhecemos ontem e ela já quis participar do show. Pediu a letra da nossa música e decorou em uma noite. É uma das trocas legais que esse festival proporciona - destaca Balbinot.
Ainda sob chuva fraca, a sequência foi com Hique Gomez, célebre multi-instrumentista do musical Tangos e Tragédias. Com rara habilidade para dominar o público, Hique se valeu de voz, teclado e carisma para unir música e discurso anti-corrupção:
- Tenho certeza de que esse turbilhão vai passar. Um festival como esse confirma a força da cultura brasileira. Povo sem cultura não tem discernimento e se deixa levar. Povo com cultura sabe dirigir os próprios passos. Mudar o rumo da história está em nossas mãos - convocou.
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Depois de uma apresentação competente e segura de Melaní Luraschi, uma das gratas novidades da sétima edição do FBMR, foi a vez da cinquentenária banda marcial do Instituto Cristóvão de Mendoza arrebatar principalmente os mais nostálgicos, tanto pela sua própria história junto à comunidade quanto pelo repertório. Além de clássicos do Abba e do Queen, a gurizada regida por Antônio Filho, com clima favorável e público definitivo, surpreendeu com um pout-pourri de Red Hot Chilli Peppers.
Atração principal do festival, o cantor pernambucano Otto já circulava pela plateia quando o grupo de maracatu caxiense Baque dos Bugres colocou todo mundo dançar ao som de ritmos ancestrais e letras cheias de religiosidade e esperança.
- Está muito lindo aqui. O lugar, a energia das pessoas - comentou Otto, descontraído com os parceiros de banda, como se frequentar o campus da UCS nos domingos fosse parte da rotina.
Por volta das 19h, quando a noite se anunciava, o jogo de luzes do palco serviu de cenário ideal para a psicodelia dançante dos caxienses da banda Catavento. O show vibrante do grupo preparou o público para o aguardo encontro com Otto. E o pernambucano, na sua estreia em Caxias do Sul, deu uma mostra importante do quanto curtiu a cidade. Após passear pelo repertório de Ottomatopeia (2017), seu último disco, e cantar e dançar no meio da galera, convidou para subir ao palco o rapper caxiense Chiquinho Dívidas, voz mais destacada das nossas periferias. Foi durante a música Cuba que Divilas subiu ao palco para rimar de improviso com o pernambucano.
- Como diz MV Bill, ocupar novos espaços é o nosso plano de paz. Como um representante do Hip Hop, é uma grande responsabilidade, mas também uma honra. A gente faz muita coisa na nossa quebrada, na periferia, mas quando rola a oportunidade de dialogar com um público diferente, classe média, tem que estar pronto também - comentou o rapper.
Se é verdade que para Chiquinho o festival deixou uma marca indelével, para todos os caxienses que atenderam ao chamado para ocupar as ruas com música, respeito e cordialidade a espera pela oitava edição já começou.