Aos 30 anos de carreira, o tocador de blues pode se considerar um aprendiz. Caras como Buddy Guy e Bob Stroger estão aí para mostrar que o blues é um ofício a se cumprir pela vida toda, como também provaram B.B. King, Chuck Berry e Johnny Winter, todos separados de seus instrumentos apenas pela morte. Este último, além do exemplo de longevidade, marca a lembrança mais feliz das três décadas que o guitarrista carioca Big Gilson comemora com o lançamento do disco XXX, cujas principais faixas serão mostradas sexta e sábado em Caxias, no Mississippi Delta Blues Bar.
– Foi o cara que me inspirou a tocar guitarra, e tê-lo conhecido foi algo transcendental. Ter recebido elogios do B.B. King foi outro ponto alto e que me abriu muitas portas, principalmente no exterior, mas por se tratar do cara que me fez querer tocar, e que até hoje marca muito o meu estilo, sem dúvida aquele foi o dia mais especial da minha carreira – diz o guitarrista, que abriu um show de Johnny Winter em 2010 em London, no Canadá.
Big, como os amigos o chamam, brinca que a longevidade foi uma das qualidades dos bluesmen que chamaram a atenção do ainda moleque Gilson Szrajbman, que na virada dos anos 80 arriscava os primeiros solos de guitarra no Rio de Janeiro.
– Eu reparava naquele panorama pop em que o cara tinha que ser magrinho, bonitão, na moda...e do outro lado havia o blues, que tinha aqueles negões sem dentes, gordos, esfarrapados...era aquilo que eu queria pra mim. Tocar até morrer sem precisar estar na moda, apenas tocando bem – brinca.
Tocar bem é o que tem ajudado a manter Big Gilson como um dos principais nomes do blues nacional desde o início dos anos 90, quando formou com nomes como o cantor Ricardo Werther e o tecladista Alan Ghreen a Big Allanbik, umas das mais respeitadas bandas do blues brasileiro. O guitarrista, contudo, considera que tão importante quanto a qualidade, é ser autêntico. É o que adverte não como dono da verdade, segundo ele mesmo pondera, mas como um irmão mais velho, ao comparar a cena atual com a de 30 anos atrás.
– As coisas mudaram muito. Antigamente havia menos lugares para tocar, mas as bandas eram mais originais. A qualidade caiu muito. A maioria se contenta em copiar os americanos, principalmente de Chicago. É um desperdício, porque tem muito músico bom, mas preocupados em imitar o que já é feito. Se houvesse maior interesse em mostrar um estilo pessoal, sem dúvida seria ainda mais bacana – observa.
Autêntico no som e nas ideias, Big Gilson desembarca em Caxias acompanhado de Sérgio Selbach (baixo) e Clark Carballo (bateria). No repertório, composições espalhadas pelos 13 trabalhos solos, além dos quatro discos lançados com a Big Allanbik e alguns standards. Para quem ama o blues, é um big prato.
SERVIÇO
O quê: Show de Big Gilson
Quando: Sexta, 23h, e sábado, 23h
Onde: Mississippi Delta Blues Bar (Rua Dr. Augusto Pestana, 810)
Quanto: R$ 20
O disco
Lançado pelo selo Mississippi Delta Blues Records, XXX traz Big Gilson em 11 canções inéditas, três delas instrumentais e oito em parceria com o letrista Leão Leibovich. É o segundo disco de Big com todas as letras em português, tendência que deu início no álbum Aqui Pra Você (2013). O guitarrista conta que foi um desafio aceito após muita insistência dos amigos, inclusive de um dos mais próximos, Erasmo Carlos. E que foi aceito muito devido à influência do rock gaúcho, que mudou a percepção sobre rock cantado em português.
– Minha carreira sempre foi voltada pro exterior, e eu achava difícil fazer blues e rock em português. Quase tudo que eu ouvia me soava muito patético, meio ridículo...até conhecer o rock gaúcho, que até hoje é uma influência muito grande. As letras e a forma como aquilo era cantado, os caras pareciam que cantavam em inglês....Garotos da Rua, TNT, Os Cascavelettes. Até hoje me inspiro muito nessas bandas – revela.
Além da banda de apoio, XXX traz participações especiais de amigos como o gaitista Jefferson Gonçalves e o saxofonista Beto Saroldi. Ambos passaram por Caxias recentemente no Misssissippi Delta Blues Festival. O preço médio do disco é R$ 25.