Chocolate, longa que estreia nesta quinta na Sala de Cinema Ulysses Geremia, carrega dois pesos históricos (reais) na trama. Um é leve, e mostra o sucesso dos circos na França do início do Século 20. O outro é pesado, e escancara o ambiente inóspito enfrentado por um negro que deseja se firmar como artista, nessa mesma época. É por isso que o filme do diretor Roschdy Zem se enquadra no gênero da comédia dramática, levando o cenário mágico e divertido do picadeiro para dentro de uma importante discussão sobre racismo. Ainda que os risos brotem durante história – principalmente nas cenas das apresentações dos palhaços – Chocolate é mais amargo do que doce em função dessa forte (e sempre urgente) temática.
A história começa acompanhando a incursão de Foottit (James Thiérrée, neto de Charles Chaplin) num pequeno circo mambembe. Depois da fama conquistada no passado, ele agora está tentando encontrar um emprego. Apesar de ser rejeitado pelo dono do circo, por lá ele acaba conhecendo um dos personagens peculiares do show, um homem negro e grande apresentado como um "bárbaro" de uma tribo africana. O sujeto – vivido pelo ótimo Omar Sy, de Os Intocáveis – nada fala, apenas grunhe na tentativa de assustar os espectadores. A cena logo deixa claro ao espectador o cenário humilhante vivido pelos negros na época, ainda que o personagem em questão pareça encarar tudo com naturalidade e bom-humor.
Foottit fica impressionado com o ator e resolve convidá-lo para integrar com ele uma dupla de palhaços. Surge ali o personagem Chocolat, que marcaria a trajetória circense na França. Ele foi o primeiro palhaço negro do país. E é justamente nesse resgate histórico que reside a força do filme. A dupla Foottit e Chocolat fica muito famosa e acaba sendo convidada para atuar no tradicional Noveau Cirque de Paris. Ali, o artista vai descobrir – dolorosamente – o que sua cor de pele representava para a sociedade burguesa da Cidade Luz.
Emoldurado por uma fotografia belíssima, o roteiro apresenta a história de Chocolat aos poucos, fazendo uso de flashbacks para mostrar a infância sofrida do menino filho de escravos. A liberdade que o personagem tanto aprecia na vida adulta – é mulherengo e viciado em apostas –, contrasta com as amarras que se impõem a ele ao longo da história. É como se, aos poucos (e junto com o espectador), Chocolat fosse realmente se dando conta de que sua liberdade definitivamente não tinha o mesmo sentido que a liberdade de um homem branco. A grande ruptura do personagem se dá após ele conhecer um imigrante haitiano intelectual na prisão. É dele que Chocolat escuta: "Você faz sucesso e isso é um insulto para os brancos. Negros são para domesticar". Essa busca pela própria identidade dá tons mais dramáticos ao protagonista a partir daí.
Assim como em 12 Anos de Escravidão (vencedor do Oscar de melhor filme em 2014), Chocolate resgata um nome importante dentro da história de luta por direitos de igualdade racial. O longa francês, no entanto, se passa praticamente um século depois, explicitando marcas da escravidão que resistem ao tempo
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PROGRAME-SE
:: O que: drama francês Chocolate
:: Quando: estreia nesta quinta e fica em cartaz até 16 de outubro, com sessões quintas e sextas, às 19h30min, e sábados e domingos, às 20h
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia (Luiz Antunes, 312)
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos)
:: Classificação: 12 anos
:: Duração: 120min