Filmes emocionam, envolvem, geram reflexões e, até quando não agradam, se comunicam com o espectador de alguma forma. Só que a experiência de ir ao cinema, apesar de tão enriquecedora, não está disponível a todos os públicos. Justamente para discutir e promover a acessibilidade nesse tipo de ferramenta de comunicação, Caxias recebe neste fim de semana o Festival de Cinema Acessível. Parceria entre a empresa Som da Luz - Tecnologia de Inclusão e a Secretaria Estadual da Cultura, a programação contará com duas sessões de cinema (2 Filhos de Francisco sábado, e O Tempo e o Vento domingo) disponibilizando serviços como a audiodescrição, as legendas e a língua brasileira de sinais (Libras).
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Assim, a telona da sala Ulysses Geremia estará – simultaneamente – ao alcance de pessoas com deficiências auditivas, visuais, ou de quem simplesmente topar colocar-se no lugar do outro, assumindo a experiência de ir ao cinema de forma ainda mais transformadora (vendas estarão disponíveis para quem quiser se desafiar a “ver” sem os olhos).
– São grupos muito significativos que não são atendidos pelas salas de cinemas. É emocionante ver as pessoas tendo essa experiência pela primeira vez. Também recebemos idosos que muitas vezes não conseguem enxergar as legendas, e até pessoas com deficiência intelectual – revela Marcia Gonçalves, diretora da empresa Desenvolver Inclusão, que fará um bate-papo em cada uma das sessões.
A primeira edição do festival ocorreu em 2015, em Porto Alegre. Este ano, a iniciativa tornou-se itinerante para contemplar mais pessoas. A sala Ulysses Geremia já promoveu outras exibições com foco na acessibilidade, mas, de acordo com Marcia, um diferencial do festival está na disponibilização simultânea de recursos tanto para quem não escuta como para quem não vê, incluindo todos. Outra preocupação está em oferecer audiodescrição e legendas com o máximo de detalhes possíveis.
– Vamos exibir O Tempo e o Vento, por exemplo, que tem muitas falas típicas daqui (do Estado), então foi feita uma pesquisa com vários surdos para buscar como transferir isso para a linguagem de sinais – comenta Marcia.
A audiodescrição também procura, cada vez mais, oferecer informações que enriqueçam a percepção de quem assiste a um filme mesmo sem enxergá-lo. O jornalista Lucas Borba, 24 anos, gosta tanto de cinema que frequenta sessões convencionais, apesar da deficiência visual. Poder compreender um filme através de uma audiodescrição bem feita, entretanto, muda completamente a maneira de compreender a obra.
– Quando a audiodescrição é de qualidade e feita no tempo correto, ela é enriquecedora. Tu tens acesso a detalhes que aproximam a experiência de um cego da experiência de quem enxerga – aponta ele, que escreve sobre cinema para o site Plano Crítico.
Borba acredita tanto nas possibilidades trazidas por esse processo que tem frequentado um curso de audiodescrição. Conforme ele, o deficiente visual tem papel fundamental como consultor, avaliando se as narrativas criadas na audiodescrição estão objetivas e compreensíveis.
– Ainda falta equipar as salas de cinema para a acessibilidade, mas festivais como esse ajudam a divulgar e conscientizar sobre o tema – diz.
– A diferença não está nas pessoas e sim nos espaços, se a gente pudesse estar em todos os lugares, não faria diferença nenhuma ter uma deficiência. Outra dificuldade está no preconceito, se colocar no lugar do outro é como construir rampas dentro da cabeça da gente – completa Marcia.
O festival tem patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do RS e apoio do Instituto da Audiovisão de Caxias do Sul, da Escola Helen Keller e da Fundação de Articulação e Desenvolvimento de Políticas Públicas para PcD e PcAH no RS.
PROGRAME-SE
:: O que: Festival de Cinema Acessível do RS
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura do Ordovás (Luiz Antunes, 312)
:: Quando: neste sábado e domingo, às 15h
:: Filmes: 2 Filhos de Francisco no sábado e O Tempo e o Vento no domingo
:: Quanto: entrada franca, sugere-se a doação de um quilo de alimento
:: Agendamentos de grupos: pelo e-mail saladecinema@caxias.rs.gov.br ou pelo (54) 3901.1316.
