As bibliotecárias Carolina Meirelles Meroni, 25 anos, e Carolina Machado Quadros, 27, propuseram aos leitores da Biblioteca Central da Universidade de Caxias do Sul (UCS) uma experiência diferente: retirar um livro embalado em papel pardo, sem ver a capa ou saber o título, apenas conferindo algumas dicas escritas no papel.
Denominado Leitura às Cegas, o projeto teve início no dia 6 de junho, com objetivo de celebrar o Dia dos Namorados, porém, a boa aceitação da comunidade acadêmica contribuiu para a extensão da ideia. O Leitura às Cegas ficará disponível até o próximo dia 30.
Inicialmente, cerca de 12 obras foram disponibilizadas em uma estante temática, logo na entrada do ambiente, onde normalmente ficam livros para dar destaque a algum autor, estilo de literatura ou data comemorativa.
– Pensamos em algo diferente, para fugir um pouco do comum, que seria oferecer somente romances nesta data (Dia dos Namorados), já que há pessoas não gostam deste tipo de literatura. Assim, todos poderiam participar – explica Carolina Quadros.
Até agora, cerca de 35 livros foram “preparados” e disponibilizados no espaço. Deles, 28 foram retirados. Detalhe: as obras receberam etiquetas com códigos fora da embalagem, para evitar que os leitores precisassem abrir o livro e consolidar o empréstimo. Dessa forma, a abertura do pacote pode ser feita na tranquilidade de casa, se a curiosidade permitir, lógico.
– Tentamos não pegar os clássicos, que a maioria das pessoas já leu, e incluímos títulos que adquirimos mais recentemente. É também uma forma de fazer com que o acervo rode e que a pessoa se permita ler livros que normalmente não escolheria – destaca Carolina Meroni.
Iniciativas
O “encontro às cegas” com o livro foi inspirado em projetos bastante comuns em bibliotecas americanas, os quais as “Carolinas” tomaram conhecimento por meio da internet. A dupla, no entanto, é responsável por outras iniciativas criativas relacionados à leitura na UCS.
Entre eles o varal de poesia, instalado na entrada da biblioteca em datas comemorativas, e a Black Friday, que estende o prazo de devolução dos livros e aumenta a quantidade de livros que o leitor pode retirar (e às vezes até perdoa alguma multinha mediante a devolução do exemplar).
Outros dois são o Crossbooking, também inspirado em um movimento internacional em que livros são abandonados em lugares públicos para que outras pessoas possam ler; e o troca-troca de livros, que deixa exemplares em uma cesta à disposição dos alunos para doação ou troca.
– Os projetos ajudam a demonstrar que, apesar de a biblioteca ser um lugar sério, ela também pode ser divertida. Além de ser utilizada para trabalhos, estudos, TCC, tem a parte do lazer – complementam as profissionais.
Leitura diferente
A estudante do primeiro semestre do curso de Tecnólogo em Radiologia Bruna Maiara de Siqueira Borges, 20 anos, cursa sete disciplinas e costuma não ter tanto tempo quanto gostaria para os livros “de literatura”. Há duas semanas, Bruna foi até a biblioteca em busca de um livro didático, e uma amiga chamou sua atenção para a estante do projeto Leitura às Cegas.
– Nem iria retirar livro de literatura naquele dia, só pegaria um para estudar mesmo. Acabei levando por causa da iniciativa, que despertou minha curiosidade – conta a jovem, que logo após sair da biblioteca já abriu o pacote.
Surpresa, encontrou o exemplar A razão dos Amantes, de Pablo Simonetti, um romance chileno. Bruna acredita que não há escolher um livro sem ser influenciado pela capa, e por isso achou a experiência muito interessante.
– Estou gostando muito do livro, mas se eu fosse procurar na estante, é um título que não escolheria – admitiu.