Quando o pobre Zanni, uma das figuras da commedia dellarte, desce das montanhas para chegar a Veneza, anuncia uma trajetória que reverberaria no mundo. Não só no mundo dos palcos. Migrar virou sina, caricatura ou tragédia. Gesto que se repete na contemporaneidade, da Síria para a Europa, do Senegal ou Haiti para Caxias, eis a Travessia que estreia nesta sexta-feira, às 20h, na Sala de Teatro Miseri Coloni, na Casa das Etnias. A peça tem direção do italiano Adriano Iurissevich e é protagonizada pelos atores Fábio Cuelli e Filipe Mello.
- O protótipo do migrante é material cênico para trabalhar a ironia. Acho que temos uma comédia de cunho social com várias cutucadas- diz Mello.
Expert em commedia dell´arte, o diretor italiano situa a montagem:
- É totalmente relacionada ao Brasil, com xamãs, iemanjás, policiais. A cultura popular aqui é muito forte, atravessa as religiões, os mitos. É um espetáculo de risco, pois procuramos colocar entretenimento, poesia, drama e política. Esse é o fluxo do espetáculo - diz Iurissevich, acrescentando:
- Que se possa ver a tragédia, mas que ela não nos afunde. Por isso precisamos de riso e poesia. A depressão serve ao poder.
O italiano explica que a montagem caxiense não é commedia dellarte pura. Lhe interessa o contágio das linguagens. Por isso as figuras centrais, seus embates e dilemas, transitam da paródia ao dramático. E a eficiência disso está nas mãos dos atores.
- Ficamos um mês discutindo sobre migração. Queremos mostrar estas relações do mundo para o público. A gente vive e sente isso, mas não compreende muito - explica Cuelli.
Elogiando a determinação e a disponibilidade dos artistas envolvidos no Projeto Commedia dell arte na Aldeia Global, que foi contemplado com o Prêmio Anual de Incentivo à Montagem de 2015 e ainda tem no elenco as atrizes Aline Tanaã Tavares e Carie Panigaz, mais o músico Ezequiel Duarte, o italiano analisa a empreitada intensiva de um mês e o resultado que vai à cena hoje, amanhã e domingo:
- Vim cético, sem saber o que iria se passar. Falar de imigração e do Zanni era um risco de ser superficial, óbvio, nostálgico ou falsamente tradicional como a Festa da Uva.
SERVIÇO
O que: peça Travessia
Quando: sexta, sábado e domingo, às 20h
Onde: Sala de Teatro Miseri Coloni - Casa das Etnias (Av. Independência, 2642, Panazzolo, Caxias
Quanto: R$ 20 ou R$ 10 (,meia)
Palcos caxienses
Peça "Travessia" estreia nesta sexta na Casa das Etnias falando de migrações
Espetáculo tem direção do italiano Adriano Iurissevich
Carlinhos Santos
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