Fazia mais de 20 anos que Alexandre Beck não visitava Caxias. (Re)aparece agora não mais como o desconhecido que esteve aqui num gélido inverno de 1993, para um estágio quando ainda estudava agronomia. Aporta com a fama que o personagem Armandinho lhe deu, e tal qual o menino repleto de porquês de suas tirinhas, terá uma quinta-feira cheia de perguntas (a responder) sobre os (des)caminhos da comunicação contemporânea no UCS Teatro, às 19h40min (entrada franca).
Claro que as "novas tecnologias" estarão no alvo do bate-papo, então, nada melhor do que a declaração do escritor e filósofo Umberto Eco, de que "as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis", para começar a conversa:
- As redes sociais deram voz a todos, e isso em si é positivo. Houve também um "eco" para todo tipo de preconceitos, que ganham força em um ambiente onde falta a compreensão e sobra o medo. Estamos aprendendo a lidar com essa novidade, percebendo limites de nossa expressão e tendo a oportunidade de conhecer melhor a nós mesmos. Afinal, posso ser eu o imbecil... Claro, há muitos riscos, mas a longo prazo, sou otimista.
Beck sabe do que fala. A fanpage de seu personagem de cabelos azuis e comentários puros tem mais de 760 mil curtidas no Facebook. É, sem dúvida, um espaço que retumba opiniões, matriz de muitas ideias, conhecimentos.
- Tenho um retorno imediato dos leitores em relação aos temas que coloco nas tiras, expondo seus próprios pontos de vista. Isso compensa largamente alguns incômodos naturais, por assim dizer, que decorrem do fato de ter ideias e trabalho tão expostos e haver poucas unanimidades - diz o ilustrador, que, ao contrário do que possa parecer, não vive conectado: - Cuido da página sozinho, de forma bem tranquila, quando me dou tempo. Não sou muito "conectado", na verdade, e nem pretendo ser. Gosto de olhar para o mundo ao vivo.
Armandinho nasceu em 2010 nas páginas do Diário Catarinense, meio assim, sem querer. Surgiu inspirado em sua filha caçula (Fernanda), numa ilustração para uma re- portagem de economia que abordava pais e filhos. A ótica infantil sobre a adulta, com sua sabida inocência, foi certeira, e o menino conquistou fãs com seu jeito propositivo, (quase) sempre sugerindo uma reflexão.
- Pela forma como vejo o mundo e como quero que ele seja, um lugar mais justo para todos, acaba sendo natural, quase uma necessidade (fazer humor assim).
Da Caxias que chega hoje, o catarinense radicado em Santa Maria não tem só a lembrança do frio que lhe obrigou a enfiar jornais nas botas para manter os pés aquecidos. A cidade está intrinsicamente ligada à criação de Armandinho, por mais ilógico que isso seja. Quando passou na seleção para trabalhar no DC como ilustrador, ele atuou ao lado do caxiense Samuel Casal que, por sua vez, iniciou sua carreira no Pioneiro junto com Carlos Henrique Iotti.
- De certa forma, não fosse estes dois caxienses, o Armandinho não existiria.
Pureza no traço
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