O mesmo tempo que foi generoso com o cineasta Alain Resnais - afinal, foram 91 anos de "estadia" por aqui - também serve de matéria-prima para o último filme dirigido por ele, estreia desta semana na Sala de Cinema Ulysses Geremia (Centro de Cultura Ordovás). A comédia Amar, Beber e Cantar brinca com a finitude como temática, quase uma ironia em se tratando da obra derradeira do francês morto em março.
O espectador sabe de início que o personagem George, que nunca aparece em cena, está com a expectativa de vida reduzida a seis meses. O prazo é dele, mas todos os outros seis personagens do filme serão influenciados pela sensação de perda que se aproxima. E se o caminhar do relógio é realmente impossível de controlar, Resnais mostra que as opções vão muito além quando o assunto é linguagem cinematográfica. Os poucos cenários filmados são construídos com papelão e objetos nitidamente falsos.
A ousadia conversa com a teatralidade também intrínseca na trama. Os personagens vividos pelos competentes Hippolyte Girardot, Sabine Azéma, Caroline Sihol e Michel Vuillermoz ensaiam uma peça (o tempo, novamente, aparece por aqui revertido no timing dos diálogos) dentro do filme, numa nítida brincadeira entre as ilusões consentidas em forma de ficção e as que criamos rotineiramente.
As atuações parecem propositalmente exageradas, mas Resnais cria suspiros dramáticos para cada personagem. Cada um tem seu momento de ficar com o rosto em primeiro plano, enquanto faz uma confissão mais séria, mudando sutilmente o tom da interpretação. Porém, mesmo nessas cenas, há um fundo falso gritando atrás do elemento humano, alegoria perfeita e atual.
O filme fica em cartaz até o dia 19 de outubro, com sessões nas quintas e sextas, às 19h30min, e nos sábados e domingos, às 20h. Ingressos a R$ 8 e R$ 4 (meia-entrada)
Cinema
Sala Ulysses Geremia estreia filme de Alain Resnais nesta quinta
"Amar, Beber e Cantar" foi o último trabalho do diretor francês, morto em março
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