Aos 23 anos, o fluminense Raphael Montes é um dos principais autores jovens do Brasil. O primeiro livro, "Suicidas", foi finalista dos prêmios São Paulo e Machado de Assis. O segundo romance, "Dias Perfeitos", foi publicado pela Companhia das Letras após vencer um leilão com cinco grandes editoras do país. A tiragem inicial foi de 10 mil exemplares, mais que o dobro do habitual no país. Abaixo, ele conta sobre o início na literatura:
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Pioneiro: Foi árduo o teu caminho até publicar o livro de estreia?
Montes: É muito difícil publicar o primeiro romance no país. Você tem como opções as editoras grandes, os prêmios literários, editoras médias e pequenas e autopublicação, que pode ser com ou sem pagamento. O que fiz então foi mandar o livro para todas as editoras que tinham o perfil do livro e mapear todos os concursos literários que ocorrem pelo país. O problema é que a maioria dos concursos é bianual, enquanto as editoras demoram até um ano para responder. Então, seria o mínimo que eu teria de esperar. Quando fui finalista do concurso da Benvirá, em 2010, alguns livros os jurados recomendaram ao editor que publicasse mesmo sem ter ganho. E o meu foi um deles.
Pioneiro: O primeiro livro te deu um retorno financeiro legal?
Montes: Nem o segundo dá. Ganho 10% do preço de capa, que é de R$ 35. Então dá R$ 3,50 por cada livro. Dez mil exemplares vendidos me dão R$ 35 mil. Se considerar que levei três anos para escrever o livro, e que ainda tem o desconto do imposto, não é nada invejável. O que salva o escritor são as vendas para o exterior e para o cinema, além da participação em eventos literários e escrever textos para jornais. Isso no meu caso, que não faço trabalhos de tradução e revisão. Tenho vários amigos que conseguem manter tudo ao mesmo tempo, mas pra mim seria quase um impeditivo para escrever. O que faço são trabalhos para outras plataformas que me interessam, como cinema, televisão, teatro.
Pioneiro: Viver da literatura é um sonho que tu ainda persegue?
Montes: Minha grande vontade era ser um escritor, conseguir viver só do que escrevo. As coisas ocorreram muito rápido, estou em um momento ótimo, e isso me fez pensar se eu queria passar em um concurso público, ser um advogado e escrever meus livros, ou se queria largar o direito e seguir por outros caminhos possíveis para quem trabalha contando história, como escrever para televisão, teatro. Foi o que acabei escolhendo.
Pioneiro: Quais as tuas dicas para o aspirante a escritor?
Montes: Ler muito e escrever muito. É ideal que seja uma atividade diária, mesmo se for rápida. E é necessário ter paciência. A pessoa demora dois anos escrevendo um livro e quando acaba quer publicar para ontem. O mercado é lento. E até ser reconhecido, demora. E muita gente queima a possibilidade de ser bem publicado por ter pressa e acabar pagando para publicar ou jogar na internet. Não pode ter pressa, tem que estar disposto a esperar. Enquanto isso escreve outro livro, começa tudo de novo.
Pioneiro: Tu achas que vale a pena publicar apenas por publicar, correndo o autor o risco de ficar com a sua obra encalhada?
Montes: Se você quer publicar para sua rede de amigos, tudo bem. Mas se você quer ser um escritor e entrar no mercado, tem que ter paciência e esperar que isso aconteça. Porém, cada autor tem a sua história, é difícil dar o caminho das pedras. Mas percebo um crescente interesse das editoras por autores nacionais. Uma vontade de ter um catálogo de autores e gerar uma fidelização. Não só na Cia., mas a Novo Século, Rocco, Record, também têm buscado investir no autor. É um cenário deste momento em que os leitores têm descoberto que a literatura brasileira é tão boa quanto a estrangeira.