Os fãs de Porca Véia que compareceram aos Pavilhões da Festa da Uva na noite de sábado não tiveram do que reclamar nesta despedida, a não ser pela despedida em si. O último show do músico, que teve início às 21h15min, terminou quatro horas e meia depois, já na madrugada de domingo.
Pelo palco, passaram amigos do gaiteiro como Renato Borghetti, Yamandu Costa e Luiz Carlos Borges, protagonistas da primeira hora e meia de apresentações, registrada na gravação de um DVD com produção independente.
No camarim, antes do início do show, Porca Véia estava ansioso e com medo de chorar.
- Me sinto lisonjeado. Vejo que alguns valores da vida não terminaram, como o carinho e a amizade - confessou, na presença dos parceiros nos bastidores, que receberam uma faca cada, com dedicatória.
Quando se aproximava das 21h, Porca trocou a camiseta polo que vestia por uma camisa Lacoste branca, adornada por um lenço de seda da mesma cor. A mulher Claudinéia Bossardi trouxe o chapéu que ele não sabia onde tinha deixado e, então, Porca desfez-se da boina e ajeitou os cabelos que escorriam sobre os ombros.
Enquanto recebia fãs e familiares, os músicos tocavam em uma roda informal. Borges e Yamandu pareciam conversar apenas com os dedos - cada um dedilhando seu instrumento - e, volta e meia, olhavam-se nos olhos e sorriam.
- Eu e Yamandu nos encontramos seguido e estamos sempre mostrando novidades musicais um ao outro - contou Borges.
Esse encontro musical de almas repetiu-se também no palco, nas parcerias de Borghetti com o ótimo Arthur Bonilla, que na execução de Merceditas levou o público ao delírio e, de ambos, com Yamandu. O violonista, considerado uma doçura por Porca, ficou no palco e tocou também com Luiz Carlos Borges, mostrando uma afinidade com o anfitrião que transcende a presença musical.
- É uma participação simbólica - resumiu Yamandu.
- Temos diversos momentos como esse registrados na memória, esse é só mais organizado - compara Borghetti.
Às 22h30min, Porca segurou na mão da companheira e subiu no palco. "Com o pé direito", ela pediu. Beijaram-se, reafirmaram o amor e logo depois ele teve o primeiro contato com a plateia, composta por fãs de várias cidades brasileiras.
Aos gritos de "Hu, Porca Véia!" foi ovacionado pelo público logo na chegada. Com as mãos para cima e em pé, convidou a todos para a diversão. Alguns dançavam e rodopiavam como se estivessem em um salão de baile.
Abriu o show com Fandangueiro e tocou 15 músicas, antes de receber o amigo Daltro Bertussi para interpretar duas canções. Filho de Honeyde Bertussi e engenheiro por formação, não toca profissionalmente.
- Começamos a tocar juntos e quero acabar juntos - disse - Moro na Praia dos Ingleses, em Santa Catarina, e agora acho que vamos nos encontrar com maior frequência - completou.
Depois deles, Porca descansou por quatro músicas. Ivan e Fernando, integrantes do grupo de Porca, Cordiona, deram prosseguimento ao espetáculo como protagonistas, seguido por Zezinho e Grupo Floreio. No retorno do anfitrião, outras seis canções foram executadas.
O grand finale ficou por conta de Vou Me Despedir Cantando (Eu vou me despedir cantando/Como canta o sabiá/ Eu vou me despedir cantando/ Mas adiante eu vou chorar).
Porca não chorou e até recebeu a mãe Julieta, de 86 anos, no palco. Saiu comovido com o carinho das cerca de 5 mil pessoas, segundo a organização do evento, e voltou para o bis.
À 1h49min de domingo, novamente acompanhado da mulher, deixou o palco pela última vez nos 33 anos de carreira, desceu as escadas e entrou no camarim. Minutos depois, estava recomposto, leve e faceiro.
- Foi cansativo, mas é muito legal ver essa resposta, a sincronia que se estabelece com as pessoas. Isso é uma coisa fantástica - afirmou, pronto para descansar.
Fandango
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Tríssia Ordovás Sartori
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